quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

SOCIEDADE DO ESPETÁCULO


(Filosofia Social)
Organizado por: Claudio Fernando Ramos a partir do texto de:
Cláudio Novaes Pinto Coelho é professor da Faculdade Cásper Líbero

VÍDEO: https://www.youtube.com/watch?v=tQzSWQY3Sv4

INTRODUÇÃO

- Reflexões Baseadas no Pensamento de Guy Debord:
“Assim como o conceito de “indústria cultural”, o conceito de “sociedade do espetáculo” faz parte de uma postura crítica com relação à sociedade capitalista. Não são conceitos pensados de maneira puramente acadêmica, como capazes apenas de descrever as características sociais, mas fazem parte de uma construção teórica que procura apontar aquilo que se constitui em entraves para a emancipação humana”.

APRESENTAÇÃO

- Um equívoco comum:
·         O Poder Midiático - Um dos principais equívocos sobre a sociedade contemporânea é o argumento de que o conjunto dos meios de comunicação, a mídia, é a instituição social mais poderosa.

·         Conceitos Generalizantes - Fazem parte desse argumento expressões problemáticas como “sociedade midiatizada”, “cultura da mídia” etc.

·         A expressão “Sociedade do Espetáculo” pode dar margem a interpretações equivocadas, se for entendida como o poder que as imagens exercem na sociedade contemporânea.

- Quem e quais poderes:
·         É preciso distinguir quais meios de comunicação possuem poder e que tipo de poder exercem.

DESENVOLVIMENTO

- Diante do óbvio:
·         Não há dúvida de que conglomerados empresariais (Organizações Globo, no contexto brasileiro, e a News Corporation, de Rudolph Murdoch, no contexto mundial) são exemplos de instituições poderosas, que:
a)     movimentam enorme quantidade de capital;
b)    influenciam comportamentos individuais e coletivos;
c)     agem politicamente;
d)    defendem seus próprios interesses e os interesses da sociedade capitalista de modo geral.

- Mídia não é o mesmo que Indústria Cultural:
·         De forma alguma essas empresas podem ser consideradas como fazendo parte de uma mesma instituição social, com todos aqueles que são produtores de mensagens e utilizam algum tipo de recurso tecnológico.

- Dimensão econômica e social da comunicação:
·         O conceito de “indústria cultural”, ainda que tenha sido criado por Adorno e Horkheimer na primeira metade do século passado, explica muito melhor a atuação dos meios de comunicação do que o termo “mídia”, pois destaca a dimensão econômica da comunicação.

- A mercantilização da comunicação segundo a escola de Frankfurt:
·         Adorno e Horkheimer, no livro Dialética do Esclarecimento, publicado em 1947, já indicavam que os conglomerados empresariais que atuam na comunicação são fundamentais para a existência da sociedade capitalista, mas que seu poder depende do poder dos conglomerados empresariais de modo geral.

- Sociedade do espetáculo e o capitalismo:
“O que permite a caracterização do capitalismo como a sociedade do espetáculo é o caráter cotidiano da produção de espetáculos, a quantidade incalculável de espetáculos produzidos e seu vínculo com a produção e o consumo de mercadorias feitas em larga escala”.

·         Relações sociais e imagens - Guy Debord, o criador do conceito de “sociedade do espetáculo”, definiu o espetáculo como o conjunto das relações sociais mediadas pelas imagens.

·         R. Sociais, Imagens, Produção e Consumo, distintos, mas inseparáveis - De acordo com Debord é impossível a separação entre essas relações sociais mediadas pelas imagens e as relações de produção e consumo de mercadorias.

·         Acúmulos de Capital e Imagens - A sociedade do espetáculo corresponde a uma fase específica da sociedade capitalista, quando há uma interdependência entre o processo de acúmulo de capital e o processo de acúmulo de imagens (a onipresença do markenting).

·         A sociedade mercantilizada - O papel desempenhado pelo marketing e sua onipresença, ilustra perfeitamente bem o que Debord quis dizer: das relações interpessoais à política, passando pelas manifestações religiosas, tudo está mercantilizado e envolvido por imagens.

- Sociedade de classe, gênese da sociedade do espetáculo:
·         Sociedade do espetáculo ao longo da história - Se a sociedade do espetáculo é mais vista e melhor compreendida dentro do contexto da sociedade capitalista, isso não quer dizer que só nessa forma de vida social ocorre a produção de espetáculos.

·         A distinção entre technê e episteme* - A produção de imagens, a valorização da dimensão visual da comunicação, como instrumento de exercício do poder, de dominação social, existe (Sociedade do Espetáculo 1967), em todas as sociedades onde há classes sociais, isto é, onde a desigualdade social está presente graças à divisão social do trabalho, principalmente a divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual.

·         A sociedade medieval como exemplo - Na sociedade feudal, o poder da nobreza sobre os servos estava vinculado à aparência de superioridade construída pelos nobres, mediante o uso de peças sofisticadas de vestuário, a construção de moradias com estilos arquitetônicos imponentes, a organização de festas suntuosas etc.

- O poder espetacular, sua disseminação e concentração (Produção, Consumo e Política):
·         A sociedade dissemina, o Estado concentra - Na sociedade capitalista, o poder espetacular está disseminado por toda a vida social, na qual há simultaneamente produção e consumo de mercadorias e de imagens, constituindo-se na forma difusa desse poder, conforme definição dada por Debord em 1967, ou ocorre vinculado à ação do Estado, de forma concentrada, com a produção de imagens para justificar o poder exercido por seus dirigentes.

CONCLUSÃO

- Guy Debord e o fracasso da esquerda:
·         Na década de 1960, Guy Debord e os demais militantes políticos e culturais aglutinados em torno da Internacional Situacionista destacaram-se pela capacidade de influenciar um dos mais importantes movimentos sociais do século 20, que contou com a participação de milhões de estudantes e operários e entrou para a história como o movimento de maio de 1968.

·         Os situacionistas defendiam uma ação contra a alienação presente na vida cotidiana, postulando que os estudantes e os trabalhadores deveriam retomar o controle sobre suas próprias vidas, ocupando as escolas e fábricas e passando a exercer, com base em decisões tomadas coletivamente em assembleias, o poder nessas instituições.

·         As ocupações aconteceram, mas fracassaram como estratégia para revolucionar a sociedade capitalista.

- Guy Debord e o triunfo do neoliberalismo:
·         Em 1988, Debord publica os Comentários sobre a Sociedade do Espetáculo, reconhecendo que, em vez de a sociedade do espetáculo ser destruída, ela se fortaleceu no período histórico posterior às lutas sociais de 1968.

·         Nesse texto, ele afirma que a produção de espetáculos tomou conta de toda a vida social; o poder espetacular manifesta-se agora de forma integrada, já que desapareceram os movimentos sociais de oposição, que se assimilaram à sociedade capitalista e não defendem mais sua superação.

·         A análise feita por Debord em 1988 a respeito do poder espetacular corresponde ao momento do triunfo do neoliberalismo em escala mundial.

- Indústria cultural: retrocesso dos trabalhadores / porta voz do capitalismo
·         O neoliberalismo, com a defesa da liberdade de atuação para os grandes conglomerados empresariais, significou:
a)     retrocesso nas conquistas sociais dos trabalhadores;
b)    causa do avanço do desemprego;
c)     precarização das condições de trabalho;
d)    enfraquecimento dos sindicatos;
e)     enfraquecimento dos movimentos sociais;
f)     enfraquecimento dos partidos de esquerda.

·         Com o neoliberalismo
a)     cresce o poder dos conglomerados comunicacionais;
b)    fortalece-se a indústria cultural articulada mundialmente;
c)     a indústria cultural transforma-se no porta-voz ideológico do capitalismo;
d)    a indústria cultural desqualifica qualquer visão contrária ao neoliberalismo como sendo ultrapassada;
e)     a industria cultural promove o pensamento único em relação ao qual não há alternativa.

REFLEXÕES
CONTEMPORÂNEAS

- O contexto contemporâneo
·         A atual crise econômica, que se manifesta intensamente nos Estados Unidos e na Europa e faz com que somas gigantescas, na casa dos trilhões de dólares, sejam direcionadas pelos governos para “salvar” instituições financeiras envolvidas numa verdadeira orgia especulativa, está provocando um abalo significativo no neoliberalismo e no pensamento único.

·         Na América Latina, esse abalo teria começado antes, com a ascensão ao poder de líderes políticos considerados de esquerda.

·         No entanto, não é muito fácil avaliar se essa ascensão significou efetivamente um abalo no neoliberalismo, já que, na prática, são governos com atitudes bastante distintas.

·         No Brasil, por exemplo, em que pese a melhoria das condições de vida da maioria da população com a diminuição das desigualdades sociais, houve, em linhas gerais, uma manutenção da política econômica neoliberal.


·         Nas campanhas eleitorais e durante os mandatos presidenciais de Lula ocorreu uma farta utilização das técnicas de marketing para a produção de imagens espetaculares capazes de garantir sua eleição, reeleição e altíssimos índices de popularidade.

·         A realidade contemporânea possui elementos suficientes para que uma reflexão sobre a possibilidade de um retorno da crítica teórica e prática da sociedade capitalista do espetáculo se torne indispensável.

* Na Grécia antiga, os processos de aquisição de conhecimento eram quase sempre separados da produção de artefatos. Os filósofos sobreviviam ensinando a juventude. Os engenheiros faziam navios e máquinas de guerra. Assim, os gregos distinguiam os conceitos de Technê e Episteme.
·          Este contraste entre technê episteme está na base da moderna dicotomia entre Ciência e Tecnologia.
·          Ainda hoje, separamos a Ciência, ensinada nas universidades e praticada nos laboratórios de pesquisa, da Tecnologia, realizada nas empresas.
·          A busca do conhecimento requer espíritos inquisidores, capazes de postular ideias que desafiam o senso comum (como Darwin e Einstein).
·          A realização da tecnologia requer espíritos práticos, que trabalhem as minúcias e o detalhe para que nossas construções funcionem (como Edison e Linus Torvalds).

- Technê - se refere à capacidade de produzir um objeto por meios racionais. Muitos traduzem por artesanato ou arte. Mas technê também está na raiz do que hoje chamamos de tecnologia. A ideia é que a construção de artefatos é uma arte criativa dos homens, e realiza-se através de uma combinação de conhecimento, prática e experimentação.

- Episteme - para os gregos, episteme denota o conhecimento em estado puro. Hoje traduzimos por Ciência. 

SOCIEDADE DO ESPETÁCULO
(Filosofia Social)

AULA RESUMIDA

1 - APRESENTAÇÃO
- O Pensador:
·         Guy Debord

- A Tese:
·         Sociedade do Espetáculo

- A Definição:
·         Sociedade do Espetáculo é o conjunto das relações sociais mediadas pelas imagens.

- Três Reflexões:
·         A crise do Ser; O poder do Ter; A onipresença do Parecer.

2 – CONCEITUANDO E SUPERANDO EQUÍVOCOS
a) Constatação do óbvio – o poder midiático.
- Enorme movimentação financeira.
- Determinante de comportamentos individuais e coletivos.
- Políticas ideologizadas.
- Defesa dos próprios interesses.

b) Um equívoco comum – a sociedade do espetáculo não se resume ao poder das imagens.
- O esvaziamento do ser.  }
- A relativização do ter.      } MUDANÇAS DE VALORES
- A fidelização do parecer. }

c) A grande mídia, enquanto modo de comunicação, não é, necessariamente, sinônimo de sociedade do espetáculo.
- A grande mídia possui no mínimo dois aspectos predominantes:
·         Aspecto social – comprometida com a verdade por trás dos fatos, o desenvolvimento humano e o com os valores sociais.
·         Aspecto econômico – comprometida com os lucros, ou seja, pensando e funcionando pragmaticamente segundo a lógica de mercado.

“Quando a ênfase dos veículos de comunicação é predominantemente econômica, ao invés de social, nasce a Indústria Cultural”.

3 – A GÊNESES DA SOCIEDADE DO ESPETÁCULO
a) A sociedade de classe, sem se restringir ao sistema capitalista, é o berço do espetáculo.
- Superioridade criada artificialmente por intermédio de alguns mecanismos sociais:
·         Vestuários sofisticados.
·         Imponentes arquiteturas residenciais.
·         Festas suntuosas.
·         Política como herança divina.
·         Ação moral como herança familiar.
·         Divisão social do trabalho: techné e episteme.

4 – O PODER ESPETACULAR
a) Disseminação – A sociedade dissemina o poder do espetáculo através da produção e consumo de mercadorias, imagens, comportamentos, valores etc...

b) Concentração – O Estado concentra o poder do espetáculo como forma de garantir e legitimar o suas ações e controle sobre os indivíduos.

5 – A SOCIEDADE MERCANTILIZADA
a) Há um estreito vínculo entre a comunicação, produção e o consumo cotidiano das pessoas.
·         As relações interpessoais.     }
·         As ações políticas.                 }
·         A produção e o consumo.      } A ONIPRESENÇA DO MARKETING
·         As manifestações religiosas. }

·         A educação formal.                }

Exercício
1. (Enem 2018) A primeira fase da dominação da economia sobre a vida social acarretou, no modo de definir toda realização humana, uma evidente degradação do ser para o ter. A fase atual, em que a vida social está totalmente tomada pelos resultados da economia, leva a um deslizamento generalizado do ter para o parecer, do qual todo ter efetivo deve extrair seu prestígio imediato e sua função última. Ao mesmo tempo, toda realidade individual tornou-se social, diretamente dependente da força social, moldada por ela.
DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2015.
Uma manifestação contemporânea do fenômeno descrito no texto é o(a)
a) valorização dos conhecimentos acumulados.
b) exposição nos meios de comunicação.
c) aprofundamento da vivência espiritual.
d) fortalecimento das relações interpessoais.
e) reconhecimento na esfera artística.

Comentário:
Debord está fazendo nesse texto uma análise da sociedade que ele chama de “sociedade do espetáculo”. No texto, ele destaca uma transição do ser para o ter e deste para o parecer. Em outras palavras, o que ele está dizendo é que em um determinado momento histórico o que importava era o ser, o que uma pessoa era. A partir de determinados desenvolvimentos econômicos isso se tornou secundário e o prestígio social passou a depender muito mais do que a pessoa tinha – um carro, uma casa etc. No entanto, isso também perdeu espaço. Na nossa sociedade, o importante é parecer, ostentar de alguma forma o que se tem. Caso isso não seja feito, de nada vale ter algo. Ou seja, não basta um carro importado, é importante que esse carro seja mostrado de várias formas. Essa preocupação generalizada como o parecer gera a necessidade de “exposição nos meios de comunicação”, a alternativa correta.


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