domingo, 29 de agosto de 2021

CRITICISMO KANTIANO

 IMMANUEL KANT

1724-1804

Organizado por: Claudio Fernando Ramos a partir de livros da net. C@cau “::¬) 29/08/2021

TEORIA DO CONHECIMENTO

(CRITICISMO)

 

I - IMPORTÂNCIA

O sistema kantiano foi contestado pelos filósofos posteriores. No entanto, suas teorias estão na raiz das principais correntes da filosofia moderna, da Fenomenologia e Existencialismo à Filosofia Analítica e Pragmatismo. Por esta razão, sua leitura é obrigatória para quem se interessa pela história do pensamento moderno.

II - TESES:

Na “Crítica da Razão Pura”, Kant vai analisar o valor dos conhecimentos puramente racionais, através de sua revolução copernicana vai colocar em questão não mais o objeto do conhecimento, mas sim como se dá o processo humano de conhecimento; não mais o objeto é o centro do conhecimento, mas sim o sujeito cognoscente.

- Como é possível o conhecimento?

- O conhecimento é Racional e/ou Empírico; haveria uma terceira via?

- Quem é o sujeito que possui as condições de possibilidade da experiência?

- O conhecimento é possível porque o homem possui faculdades que o tornam possível?

- O que é a razão humana e quais são seus limites e possibilidades?

III - SENSIBILIDADE E INTUIÇÃO

"Sem sensibilidade nenhum objeto nos seria dado, e sem entendimento nenhum seria pensado. Pensamentos sem conteúdo são vazios, intuições sem conceitos são cegas”.

(Crítica da Razão Pura – I. Kant)

- Sensibilidade, modo receptivo (passivo), é a maneira como somos afetados pelos objetos.

·         Temos multiplicidades de sensações dos objetos do mundo, como cor, cheiro, calor, textura, etc. Estas sensações são o que podemos chamar de matéria do fenômeno, ou seja, o conteúdo da experiência.

- Intuição, é a maneira direta de nos referirmos aos objetos.

·         Para que todas as impressões tenham algum sentido e entrem no campo do cognoscível (daquilo que se pode conhecer), elas precisam, em primeiro lugar, serem colocadas em formas a priori da intuição, que são o Espaço e o Tempo.

·         As formas puras da intuição (Espaço/Tempo) surgem antes de qualquer representação mental do objeto; antes que se possa pensar a palavra "cadeira", a cadeira deve ser apresentada, recebida, na forma a priori do Espaço e do Tempo.

CONCLUSÃO I

Sem o conteúdo da experiência, dados na intuição, os pensamentos são vazios de mundo (Racionalismo); sem os conceitos apriorísticos do sujeito, os fenômenos não têm nenhum sentido para nós (empirismo).

- Sensibilidade e Intuição - estes são os primeiros passos para que se possa conhecer algo.

·         O Conhecimento - só é possível se os objetos da experiência forem dados no espaço e no tempo.

·         O Espaço e Tempo - são propriedades subjetivas, isto é, atributos do sujeito e não do mundo (da coisa-em-si).

 

IV - TEMPO E ESPAÇO

(Percepções: Externa e Interna)

- Percepção Externa (Espaço) - os objetos externos se apresentam em uma forma Espacial.

·         Pense em uma cadeira em um espaço qualquer. Mentalmente, retire esta cadeira da sala. Sobra o espaço vazio! Agora tente fazer contrário, retirar o espaço vazio e deixar só a cadeira. Não dá, a menos que sua cadeira fique flutuando em uma dimensão extraterrena.

- Percepção Interna (Tempo) – os objetos internos se apresentam em uma forma Temporal.

·         Só podemos conceber a existência de um "eu" estando em relação a um passado, um presente e a um futuro. Podemos eliminar a cadeira do tempo - ela foi destruída, não existe mais. Porém, não posso eliminar o tempo da cadeira - eu sempre a penso em uma duração, antes ou depois.

CONCLUSÃO II

- Espaço e Tempo preexistem como faculdades do sujeito; são a priori e universais.

·         Espaço e Tempo são condições de possibilidade de qualquer experiência.

·         É impossível conhecer os objetos externos sem ordená-los em uma forma Espacial.

·         Nossa percepção interna dos objetos fica impossível sem uma forma Temporal

V – ENTENDIMENTO


- Esquema do Entendimento I: primeiro momento.

·         Só podemos conhecer os objetos do mundo como fenômenos, isto é, na medida em que aparecem para o sujeito.

·         Os objetos, fora do sujeito, como coisa-em-si, estão fora do alcance da razão humana.

·         Para serem fenômenos, os objetos, antes de tudo, precisam aparecer no Espaço e Tempo, que são faculdades do sujeito.

·         Esta é a primeira condição para o Entendimento.

EX: Vejo uma árvore. Esta árvore eu vejo em suas cores e formas, que são as sensações deste objeto. Estas sensações são recebidas e organizadas pela intuição no espaço e no tempo.

- Esquema do Entendimento II: segundo momento.

·         Depois de o sujeito receber o objeto na intuição, na sensibilidade, pela faculdade do entendimento ele reunirá estas intuições em conceitos.

·         Os conceitos básicos são chamados de categorias, que são representações que reúnem o múltiplo das intuições sensíveis.

·         Esta é a segunda condição para o Entendimento.

VI - CATEGORIAS

- De acordo com Kant, o intelecto humano possui doze Categorias ou Formas A Priori de Conhecimento que permitem ao homem conhecer a realidade.

·         Quantidade: Unidade, Pluralidade e Totalidade.

·         Qualidade: Realidade, Negação e Limitação.

·         Relação: Substância, Causalidade e Comunidade.

·         Modalidade: Possibilidade, Existência e Necessidade.

- As Categorias são formas vazias, a serem preenchidas pelos fenômenos.

- Os Fenômenos, só podem ser pensados dentro das categorias.

CONCLUSÃO III

- O erro de D. Hume (1711-1776) - em Hume, a causalidade - relação de causa e efeito - era um hábito, uma ilusão.

- Para Kant, Hume estava errado em procurar a causalidade na Natureza.

·         Só podemos pensar as coisas em uma relação de causa e efeito porque a causalidade está no sujeito, não no mundo.

EX: Uma criança vê uma bola sendo arremessada (causa) e olha na direção de quem atirou a bola (efeito). Como a criança liga um fato ao outro porque ela possui, a priori, a categoria de causalidade, que a permite conhecer.

VIII - JUÍZOS: ANALÍTICOS E SINTÉTICOS

Um juízo consiste na conexão de dois conceitos, dos quais um (A) sempre cumpre função de Sujeito e o outro (B) a de Predicado.

- Juízos Analíticos (J. Elucidação): são juízos em que o predicado (B) pode estar contido no sujeito (A) e, por isso, ser extraído por pura análise.

·         Os Juízos Analíticos - independem da experiência.

·         Se independem da experiência podemos afirmar que são então a priori.

·         Se são a priori não podem ser conhecidos, ou não geram conhecimento.

·         Esclarecem ou tornam claro tal conhecimento, mas não geram.

·         Neste juízo o Predicado já está contido no Sujeito.

Ex.: “Todo triângulo tem três lados”.

- Juízos Sintéticos a posteriori (J. de Ampliação): são aqueles em que o predicado não está contido no sujeito.

·         Os Juízos Sintéticos - dependem da experiência.

·         Se dependem da experiência, logo são a posteriori.

·         Ampliam nosso conhecimento, produzem conhecimentos.

·         Estes conhecimentos não são universais, pois derivam da experiência.

Ex.: “Aquela casa é verde”.

IX - SURGE UM PROBLEMA

- Sobre qual juízo se fundamenta a ciência do conhecimento?

·         De um lado estão os juízos analíticos que não podem ser conhecidos.

·         Do outro lado estão os juízos sintéticos que podem ser conhecidos, mas não são universais.

X - ENCONTRA-SE A SOLUÇÃO

A ciência se baseia em um terceiro tipo de juízo, ou seja, no tipo de juízo que, a um só tempo, une a aprioridade, ou seja, a universalidade e a necessidade, com a fecundidade (fecundo, fértil), e, portanto, a ‘sinteticidade’.

- Sobre os princípios sintéticos, isto é, princípios de ampliação, repousa todo o objeto ultimo do nosso conhecimento especulativo a priori.

·         Os princípios analíticos são, na verdade, altamente importantes e necessários, mas só para chegar àquela clareza dos conceitos exigida para uma síntese segura e vasta ao invés de uma aquisição realmente nova.

·         O objeto do nosso conhecimento especulativo repousa sobre os princípios sintéticos; mas, estes princípios sintéticos devem ser a priori.

- Juízo Sintético a priori

Kant concorda com Leibniz (1646-1716) que “nada há na mente que não tivesse passado pelos sentidos, exceto a própria mente”.

 

- Se os Juízos Analíticos e Sintéticos não são suficientes, surge a necessidade de se formular um juízo que fundamente a ciência e o conhecimento, um juízo que seja conhecido e universalizado.

·         Esse juízo será então o Juízo Sintético a priori.

·         São juízos em que o predicado não é extraído do sujeito, mas que pela experiência forma-se como algo novo, construído.

·         Essa construção deve permitir ou antever a possibilidade da repetição da experiência, entendida como a possibilidade formal de construção fenomênica, que permite a universalidade e a necessidade dos juízos.

·         A experiência aqui não é a mera deposição de fenômenos na mente em razão da sequência das percepções, mas sim a organização da mente numa unidade sintética daquilo que é recebido pela intuição.

·         Sobre este juízo é que deve se fundamentar o conhecimento humano.

X – A MORAL NÃO É UMA CIÊNCIA

(Ideias Reguladoras)

- A Razão possui três ideias totalizadoras que não constituem objetos, mas são reguladoras das ações.

• Ideia Psicológica (de Alma).

• Ideia Cosmológica (do Mundo).

• Ideia Teológica (de Deus).

- No que tange à Razão Pura, as ideias não são objetos cognoscíveis, ou seja, não podem ser conhecidas pelos homens.

·         Apesar de serem objetos pensáveis, as ideias não podem ser intuídas e, dessa forma, Deus, Alma e o Mundo como totalidade não constituem coisas, mas regulam as ações do homem.

·         Por serem reguladoras das ações, são estudadas na Ética, não na Ciência.

·         São norteadores, não coisas, provocando erros e ilusões nos juízos científicos (os chamados paralogismos – falso silogismo).

XI - CONCLUSÃO FINAL

Nem Racionalismo Dogmático nem Empirismo Cético, mas sim um Racionalismo Crítico ou ‘Criticismo’ é disso que trata a filosofia kantiana.

- A ciência é uma construção humana.

·         A razão deve buscar na natureza a conformidade que ela mesma coloca.

·         Os a priori são a antecipação da forma de uma experiência possível em geral e transcendental refere-se às estruturas a priori da sensibilidade e do intelecto humanos.

·         Sem a Sensibilidade e o Intelecto não é possível nenhuma experiência de nenhum objeto.

·         É a condição de cognoscibilidade (intuibilidade e pensabilidade) que nos garante a possibilidade de todo e qualquer conhecimento.

·         A Cognoscibilidade é aquilo que o sujeito põe nas coisas no próprio ato de conhecê-las.

 

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