sábado, 5 de maio de 2018

QUESTÕES FILOSÓFICAS III (Sócrates e os Sofistas)


Os Sofistas - O poder da retórica eloquente.
Algumas das questões elencadas abaixo não se encontram, necessariamente, dentro do padrão proposto pelo ENEM; no entanto, entendemos o valor e a importância das mesmas no que diz respeito ao fomento da exposição, discussão e apreensão em torno de temas pertinentes ao estudo da filosofia. Quando em sala, não objetivamos apenas explicar conteúdos e resolver questões padronizadas; mas, acima de tudo, ler, entender, problematizar e vivenciar questões filosóficas, tanto as acadêmicas (de caráter lógico/metodológico) quanto às do dia-a-dia (refém dos duvidosos auspícios do senso comum). Acreditamos que com isso poderemos fazer valer uma singular e significativa máxima da filosofia iluminista kantiana: “não se ensina filosofia, mas a filosofar”.

Cacau “:¬) 05/05/2018.

Sócrates - O poder das perguntas decisivas.


1. (Pucpr 2015) Leia os enunciados abaixo a respeito do pensamento filosófico de Sócrates.
I. O texto Apologia de Sócrates, cujo autor é Platão, apresenta a defesa de Sócrates diante das acusações dos atenienses, especialmente, os sofistas, entre os quais está Meleto.
II. Sócrates dispensa a ironia como método para refutar as acusações e calúnias sofridas no processo de seu julgamento.
III. Entre as acusações que Sócrates recebe está a de “corromper a juventude”.
IV. Sócrates é acusado de ensinar as coisas celestes e terrenas, a não acreditar nos deuses e a tornar mais forte a razão mais débil.
V. Sócrates nega que seus acusadores são ambiciosos e resolutos e, em grande número, falam de forma persuasiva e persistente contra ele.
Assinale a alternativa que apresenta apenas as afirmativas CORRETAS.
a) II, IV e V.   
b) I, III e IV.   
c) I, III e V.   
d) II, III e V.   
e) I, II e III.   
  
2. (Unimontes 2010) Via de regra, os sofistas eram homens que tinham feito longas viagens e, por isso mesmo, tinham conhecido diferentes sistemas de governo. Usos, costumes e leis das cidades-estados podiam variar enormemente. Sob esse pano de fundo, os sofistas iniciaram em Atenas uma discussão sobre o que seria natural e o que seria criado pela sociedade.
(GAARDER, J. O Mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1995).
Sobre os sofistas, é incorreto afirmar que
a) eles tiveram papel fundamental nas transformações culturais de Atenas.   
b) eles se dedicaram à questão do homem e de seu lugar na sociedade.   
c) eles eram mercenários e só visavam ao lucro na arte de ensinar.   
d) eles foram os primeiros a compreender que o “homem é medida de todas as coisas”.   

3. (Enem 2017) Uma conversação de tal natureza transforma o ouvinte; o contato de Sócrates paralisa e embaraça; leva a refletir sobre si mesmo, a imprimir à atenção uma direção incomum: os temperamentais, como Alcibíades, sabem que encontrarão junto dele todo o bem de que são capazes, mas fogem porque receiam essa influência poderosa, que os leva a se censurarem. E sobretudo a esses jovens, muitos quase crianças, que ele tenta imprimir sua orientação.
BRÉHIER, E. História da filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1977.
O texto evidencia características do modo de vida socrático, que se baseava na
a) contemplação da tradição mítica.   
b) sustentação do método dialético.   
c) relativização do saber verdadeiro.   
d) valorização da argumentação retórica.   
e) investigação dos fundamentos da natureza.   
  
4. (Ufu 2015) Há um abismo imenso que separa esta escala de valores que Sócrates proclama com tanta evidência e a escala popular vigente entre os gregos e expressa na famosa canção báquica antiga:
O bem supremo do mortal é a saúde;
O segundo, a formosura do corpo;
O terceiro, uma fortuna adquirida sem mácula;
O quarto, desfrutar entre amigos o esplendor da juventude.
JAEGER, W. Paideia. São Paulo: Martins Fontes, 1995, pp. 528-529.
Responda:
a) O que é o homem para Sócrates?
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b) Qual é a relação entre o que define o homem e a máxima délfica “Conhece-te a ti mesmo”?
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5. (Uea 2014)  O sofista é um diálogo de Platão do qual participam Sócrates, um estrangeiro e outros personagens. Logo no início do diálogo, Sócrates pergunta ao estrangeiro, a que método ele gostaria de recorrer para definir o que é um sofista.
            Sócrates: – Mas dize-nos [se] preferes desenvolver toda a tese que queres demonstrar, numa longa exposição ou empregar o método interrogativo?
            Estrangeiro: – Com um parceiro assim agradável e dócil, Sócrates, o método mais fácil é esse mesmo; com um interlocutor. Do contrário, valeria mais a pena argumentar apenas para si mesmo.
(Platão. O sofista, 1970. Adaptado.)
É correto afirmar que o interlocutor de Sócrates escolheu, do ponto de vista metodológico, adotar
a) a maiêutica, que pressupõe a contraposição dos argumentos.   
b) a dialética, que une numa síntese final as teses dos contendores.   
c) o empirismo, que acredita ser possível chegar ao saber por meio dos sentidos.   
d) o apriorismo, que funda a eficácia da razão humana na prova de existência de Deus.   
e) o dualismo, que resulta no ceticismo sobre a possibilidade do saber humano.   
  
6. (Unicamp 2013) A sabedoria de Sócrates, filósofo ateniense que viveu no século V a.C., encontra o seu ponto de partida na afirmação “sei que nada sei”, registrada na obra Apologia de Sócrates. A frase foi uma resposta aos que afirmavam que ele era o mais sábio dos homens. Após interrogar artesãos, políticos e poetas, Sócrates chegou à conclusão de que ele se diferenciava dos demais por reconhecer a sua própria ignorância.
O “sei que nada sei” é um ponto de partida para a Filosofia, pois
a) aquele que se reconhece como ignorante torna-se mais sábio por querer adquirir conhecimentos.   
b) é um exercício de humildade diante da cultura dos sábios do passado, uma vez que a função da Filosofia era reproduzir os ensinamentos dos filósofos gregos.   
c) a dúvida é uma condição para o aprendizado e a Filosofia é o saber que estabelece verdades dogmáticas a partir de métodos rigorosos.   
d) é uma forma de declarar ignorância e permanecer distante dos problemas concretos, preocupando-se apenas com causas abstratas.   
  
7. (Ufu 2013) O diálogo socrático de Platão é obra baseada em um sucesso histórico: no fato de Sócrates ministrar os seus ensinamentos sob a forma de perguntas e respostas. Sócrates considerava o diálogo como a forma por excelência do exercício filosófico e o único caminho para chegarmos a alguma verdade legítima.
De acordo com a doutrina socrática, 
a) a busca pela essência do bem está vinculada a uma visão antropocêntrica da filosofia.    
b) é a natureza, o cosmos, a base firme da especulação filosófica.    
c) o exame antropológico deriva da impossibilidade do autoconhecimento e é, portanto, de natureza sofística.    
d) a impossibilidade de responder (aporia) aos dilemas humanos é sanada pelo homem, medida de todas as coisas.    
  
8. (Ufu 1998) Sócrates é tradicionalmente considerado como um marco divisório da filosofia grega. Os filósofos que o antecederam são chamados pré-socráticos. Seu método, que parte do pressuposto “só sei que nada sei”, é a maiêutica que tem como objetivo:

I. “dar luz a ideias novas, buscando o conceito”.
II. partir da ironia, reconhecendo a ignorância até chegar ao conhecimento.
III. encontrar as contradições das ideias para chegar ao conhecimento.
IV. “trazer as ideias do céu à terra”.
Assinale
a) se apenas I e II estiverem corretas.   
b) se apenas I e III estiverem corretas.   
c) se apenas II, III e IV estiverem corretas.   
d) se apenas III e IV estiverem corretas.   
e) se apenas I e IV estiverem corretas.   


Resposta da questão 1: [B]
No escrito Apologia de Sócrates, realizado por seus discípulos, pois este filósofo não deixou escritos próprios, encontramos um relato detalhado das acusações sofridas por ele, bem como os argumentos utilizados em sua defesa. Neste relato, o principal acusador de Sócrates é Meleto que o acusa de “corromper a juventude” e “desrespeitar os deuses” dizendo que estes em nada contribuem para a melhora da sociedade. Destaca-se no relato o método socrático que se fundamenta na: ”Ironia” que representa a capacidade de fingir-se de ignorante perante seu adversário a fim de por meio de perguntas e respostas fazer com que este se reconheça ignorante acerca do assunto que julga saber; e a “Maiêutica”, que busca conduzir de forma gradativa o indivíduo a encontrar respostas mais coerentes que o levam a descobrir a verdade. Os principais inimigos de Sócrates era os sofistas. Estes representam para os filósofos os “falsos mestres do saber”, pois não se preocupam com a busca pela verdade, (por considerarem isto impossível) e assim se dedicam principalmente para a arte da oratória. Portanto, vendem seu saber em toca de poder, benefícios e honrarias. Os itens II e V não condizem com o pensamento de Sócrates ou o modo como transcorreu a defesa empreendida contra aqueles que o acusavam.  

Resposta da questão 2: [C]
Os sofistas foram muito mal vistos devido aos escritos de Platão. Entretanto, ainda que lucrassem com sua atividade de ensino, esses filósofos desenvolveram importantes teorias. Hoje sua importância é reconhecida principalmente em relação ao relativismo cultural e às contribuições ao espírito democrático.  

Resposta da questão 3: [B]
O método socrático é também conhecido como método dialético. Fazendo perguntas a seu interlocutor, Sócrates tinha a intenção que de que este chegasse a um estado de aporia, para depois poder gerar às suas próprias ideias das coisas.  

Resposta da questão 4:
a)
O homem para Sócrates é entendido como um ser dotado de uma alma, sendo que sua alma é o que lhe confere diferenciação entre todas as outras coisas. O corpo para Sócrates representa um instrumento pelo qual utilizamos para promover o enobrecimento desta alma, por meio de nossas ações, portanto deve possuir saúde e harmonia física e ser capaz de possuir condições para desempenhar funções na cidade que se revertam em condições materiais que garantam o seu sustento. A inteligência é o instrumento da alma e tem por finalidade promover condições para o homem aprimorar-se, a reflexão. Desta forma, o homem deve buscar ampliar seu conhecimento, controlar suas emoções, desenvolver suas potencialidades agindo por meio da conduta virtuosa. A reflexão realiza a união entre a reflexão e a ação virtuosa, com isto ocorre o aprimoramento moral que aperfeiçoa o caráter e enobrece a alma.

b)
Sócrates expõe em sua filosofia que o homem somente pode cuidar de si na medida em que conhece sua própria natureza. Para isto o homem deve buscar na ciência (conhecimento) a capacidade de refletir para poder desenvolver-se em plenitude. Uma vez posta em ação o conhecimento de si, o homem pode então partir para a ação refletida, ou seja, uma vez que o homem possui conhecimento de sua essência ele pode então melhorar sua vida através da ação virtuosa na qual ocorre a coerência entre a reflexão e a ação, produzindo um melhor estado de vida. Por meio do próprio conhecimento o homem é capaz de conhecer seu semelhante e com isto é capaz de agir corretamente no intuito de buscar a verdade em todas as ações que realiza. Com este autoconhecimento de si e dos outros, o homem pode atingir a verdadeira felicidade.  

Resposta da questão 5: [A]
Platão, influenciado fortemente por Sócrates, apresenta em seus diálogos a metodologia de seu mestre para empreender a busca da verdade. O método socrático constrói-se a partir de perguntas e respostas (dialética) que levam o interlocutor, que não possua conhecimento e coerência sobre o que está falando, a contradizer-se e acabar por revelar sua ignorância. A partir deste momento inicia-se outra construção que conduz o interlocutor a descobrir a verdade de forma gradativa e coerente. Este método que busca a construção da verdade por meio da contraposição de argumentos é conhecido como maiêutica.  

Resposta da questão 6: [A]
Primeiramente, o ponto de partida da filosofia socrática não é a afirmação “sei que nada sei”, mas sim a palavra do oráculo de Delfos (dedicado a Apolo) que afirmou para Sócrates ser ele o homem mais sábio de todos. Sócrates não duvidou da palavra do Deus e partiu em busca da compreensão das palavras divinas. Interrogando outras pessoas, Sócrates percebeu que apesar de ele não possuir conhecimento sobre as coisas, possuía conhecimento sobre sua própria ignorância, algo que todos os outros homens não possuíam. A ignorância sobre o que significava a palavra divina o fez ir atrás do conhecimento sobre si mesmo.   

Resposta da questão 7: [A]
É um tanto complicado dizer que Sócrates ministrava aulas com a finalidade de transmissão dos seus conhecimentos, pois como é sabido o filósofo se gabava de ser um parteiro de ideias (cf. Teeteto). Isso nos leva necessariamente à consideração de que o conhecimento era do interlocutor e o seu trabalho consistia em fazer isto ser concebido.
Esta afirmação: “a busca pela essência do bem está vinculada a uma visão antropocêntrica da filosofia”, necessita de referência precisa, pois há uma mistura de termos antigos e modernos que cria um anacronismo inaceitável. Todavia, até onde conseguimos percebemos, a intenção da alternativa é ressaltar que os pré-socráticos mantinham pesquisas preocupadas com o conhecimento da natureza, enquanto Sócrates possuía como grande tema o conhecimento de si. Essa noção é parcialmente verdadeira, pois nem os pré-socráticos eram simplesmente preocupados com o “mundo objetivo”, nem Sócrates era simplesmente preocupado com o “mundo subjetivo”. A natureza, o cosmos, possui enorme importância para a filosofia desenvolvida por Platão; podemos observar isso na leitura da República (Livro VI, por exemplo).  

Resposta da questão 8: [A]
A ironia é uma dissimulação, isto é, Sócrates sabe de algo, porém ele sabe disto apenas porque um oráculo lhe falou. Essa sabedoria faz com que o filósofo finja que não sabe assumindo o máximo possível que seu interlocutor possui realmente um conhecimento para lhe informar. Então, Sócrates sabe que seu interlocutor não sabe porque o oráculo falou que Sócrates é o homem mais sábio e Sócrates sabe que não sabe. Se o mais sábio não sabe, outro qualquer também não saberá, porém é necessário fingir que não se sabe para saber realmente se aquilo pronunciado pelo oráculo é verdadeiro. Portanto, a ironia é uma necessidade perante o conhecimento divino do oráculo, uma postura através da qual se torna possível interrogar outros homens que se dizem sábios e avaliar até que ponto eles realmente sabem do que dizem saber. Assim, nós chegamos ao conhecimento das contradições presentes nas opiniões desses supostos sábios e superando tais contradições chegamos às ideias. Nesse relacionamento com as opiniões da cidade, Sócrates foi o filósofo que trouxe a filosofia do céu à terra, isto é, Sócrates deixou de preocupar-se com problemas cosmológicos e passou a se preocupar com problemas políticos.   

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