domingo, 4 de junho de 2017

SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA (1902-1982)

O HOMEM CORDIAL
NA FORMAÇÃO DO BRASIL
 Antropologia Social
(Sérgio Buarque de Holanda)
Pai e filho: Sérgio e Francisco (Chico) Buarque de Holanda. 
Foto da década de sessenta


Extraído da net; organizado por:
Claudio Fernando Ramos, 04/06/2017. Cacau “:¬)

CHAVE INTERPRETATIVA
Ø  A contribuição do “O Homem Cordial” na formação do Brasil é, para Sérgio Buarque de Holanda, uma das principais chaves interpretativas do Brasil.
 
O MODERNISMO E A REDESCOBERTA
Ø  As décadas de 1920 e 1930 foram de intensa atividade intelectual e artística no Brasil.

Ø  Foi nessas duas décadas que, segundo muitos estudiosos, o Brasil foi “redescoberto”, isto é, novas formas de interpretar a nossa identidade e singularidade ante as outras civilizações foram desenvolvidas, tanto no âmbito da literatura quanto no âmbito da história e das chamadas “ciências sociais”.

Ø  A Semana de Arte Moderna de 1922 e o Movimento Regionalista, de Pernambuco, foi um dos marcos desse esforço interpretativo sobre o que vem a ser o Brasil.

Ø  Nessa efervescência de ideias, um livro tornou-se um marco: “Raízes do Brasil”, do paulista Sérgio Buarque de Holanda, no qual é desenvolvido o fundamental conceito de “homem cordial”.

RAÍZES DO BRASIL (1936)


Ø  “Raízes do Brasil”, publicado em 1936 pela editora: José Olympio, é uma obra que tem por objetivo investigar o que fundamenta a história do Brasil, de seu povo e de suas instituições mais peculiares, como a família patriarcal, formada durante o período da Colônia.

Ø  Vale dizer que esses temas também interessaram a outro grande intelectual brasileiro, contemporâneo de Sérgio, o pernambucano Gilberto Freyre, cujas obras “Casa Grande & Senzala” (1933) e “Sobrados e Mucambos” (1936) são fundamentais para se pensar a formação do Brasil.

Ø  As pesquisas para a composição de “Raízes do Brasil” começaram a ser esboçadas em 1930 por Sérgio Buarque, na Alemanha, na época em que ele havia sido enviado como correspondente brasileiro dos Diários Associados para Polônia, Rússia e Alemanha.

Ø  Ao regressar ao Brasil, completou as pesquisas e, a convite do editor José Olympio (que preparava uma coleção intitulada “Documentos brasileiros”), publicou o livro em 1936.

Ø  Raízes do Brasil é dividido em sete partes, intituladas:
·         “Fronteiras da Europa”;
·         “Trabalho & Aventura”;
·         “Herança Cultural”;
·         “O semeador e o Ladrilhador”;
·         “O Homem Cordial”;
·         “Novos Tempos”;
·         “Nossa Revolução”.

O HOMEM CORDIAL:
ARDIL DA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA


Ø  A parte em que é desenvolvido o conceito de “homem cordial” é uma das que mais revelam as intuições de Sérgio Buarque.

Ø  O conceito foi extraído de uma carta do escritor paulista Ribeiro Couto endereçada ao também escritor mexicano Alfonso Reyes. 

Ø  A expressão “cordial” não indica, ao contrário do que se pensa, apenas bons modos e gentileza.

Ø  Cordial vem do radical latino “cordis” (cujo significado mais remoto é cordas), isto é, relativo a coração.

Ø  Sérgio Buarque acentua essa explicação etimológica da palavra para ressaltar a sua dubiedade e, a um só tempo, a sua adequação àquilo que caracteriza, segundo sua tese, o temperamento do homem brasileiro.

Ø  Ao contrário do povo japonês, entre os quais a polidez é parte intrínseca do processo civilizacional, no Brasil ela está apenas na superfície. Em suas palavras:

Ela pode iludir na aparência – e isso se explica pelo fato de a atitude polida consistir precisamente em uma espécie de mímica deliberada de manifestações que são espontâneas no 'homem cordial': é a forma natural e viva que se converteu em fórmula. Além disso, a polidez é, de algum modo, organização da defesa ante a sociedade. Detém-se na parte exterior, epidérmica, do indivíduo, podendo mesmo servir, quando necessário, de peça de resistência. Equivale a um disfarce que permitirá a cada qual preservar inatas suas sensibilidades e suas emoções”.


Ø  O homem cordial, segundo Sérgio Buarque, precisa expandir o seu ser na vida social, precisa estender-se na coletividade – não suporta o peso da individualidade, precisa “viver nos outros”.

Ø  Essa necessidade de apropriação afetiva do outro pode ser notada, a título de exemplo, até em expressões linguísticas.

Ø  Sérgio Buarque cita o sufixo “inho”, colocado em palavras como “senhorzinho” (“sinhozinho”), que revela a vontade de aproximar o que é distante do nível do afeto.

Ø  No brasileiro a cordialidade é ocasional e difusa em suas emoções:
·         Admirável hospitalidade;
·         Inclinação às ações emotivas (intimidades e afetividades); o que nos impede de desenvolver uma racionalidade mais efetiva;
·         Valoração mais das qualidades do que das capacidades pessoais;
·         Dificuldades em separar as instâncias públicas das privadas;
·         Sociabilidade que não chega ao ponto da solidariedade e da coletividade.

Ø  O “homem cordial” é, portanto, um artifício, um ardil psicológico e comportamental, que está incrustado em nossa formação enquanto povo.

Ø  É por isso que Sérgio Buarque diz que:

 “A contribuição brasileira para a civilização será o homem cordial”.


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