O HOMEM CORDIAL
NA FORMAÇÃO DO BRASIL
Antropologia Social
(Sérgio Buarque de
Holanda)
Pai e filho: Sérgio e Francisco (Chico) Buarque de Holanda.
Foto da década de sessenta
Extraído da net;
organizado por:
Claudio Fernando
Ramos, 04/06/2017. Cacau “:¬)
CHAVE INTERPRETATIVA
Ø A contribuição do “O
Homem Cordial” na formação do Brasil é, para Sérgio Buarque de Holanda, uma das
principais chaves interpretativas do Brasil.
O MODERNISMO E A REDESCOBERTA
Ø As décadas de 1920 e
1930 foram de intensa atividade intelectual e artística no Brasil.
Ø Foi nessas duas
décadas que, segundo muitos estudiosos, o Brasil foi “redescoberto”, isto é,
novas formas de interpretar a nossa identidade e singularidade ante as outras
civilizações foram desenvolvidas, tanto no âmbito da literatura quanto no
âmbito da história e das chamadas “ciências sociais”.
Ø A Semana de Arte Moderna de 1922 e o Movimento Regionalista, de Pernambuco, foi um dos marcos desse esforço
interpretativo sobre o que vem a ser o Brasil.
Ø Nessa efervescência
de ideias, um livro tornou-se um marco: “Raízes do Brasil”, do paulista Sérgio Buarque de Holanda, no qual é desenvolvido o
fundamental conceito de “homem cordial”.
RAÍZES DO BRASIL (1936)
Ø “Raízes do Brasil”,
publicado em 1936 pela editora: José Olympio, é uma obra que tem por objetivo
investigar o que fundamenta a história do Brasil, de seu povo e de suas
instituições mais peculiares, como a família patriarcal, formada durante o
período da Colônia.
Ø Vale dizer que esses
temas também interessaram a outro grande intelectual brasileiro, contemporâneo
de Sérgio, o pernambucano Gilberto Freyre, cujas obras “Casa Grande &
Senzala” (1933) e “Sobrados e Mucambos” (1936) são fundamentais para se pensar
a formação do Brasil.
Ø As pesquisas para a
composição de “Raízes do Brasil” começaram a ser esboçadas em 1930 por Sérgio
Buarque, na Alemanha, na época em que ele havia sido enviado como
correspondente brasileiro dos Diários Associados para
Polônia, Rússia e Alemanha.
Ø Ao regressar ao
Brasil, completou as pesquisas e, a convite do editor José Olympio (que
preparava uma coleção intitulada “Documentos brasileiros”), publicou o livro em
1936.
Ø
Raízes
do Brasil é dividido em sete partes, intituladas:
·
“Fronteiras
da Europa”;
·
“Trabalho
& Aventura”;
·
“Herança
Cultural”;
·
“O
semeador e o Ladrilhador”;
·
“O
Homem Cordial”;
·
“Novos
Tempos”;
·
“Nossa
Revolução”.
O HOMEM CORDIAL:
ARDIL DA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA
Ø A parte em que é
desenvolvido o conceito de “homem cordial” é uma das que mais revelam as
intuições de Sérgio Buarque.
Ø O conceito foi
extraído de uma carta do escritor paulista Ribeiro Couto endereçada
ao também escritor mexicano Alfonso Reyes.
Ø A expressão “cordial”
não indica, ao contrário do que se pensa, apenas bons modos e gentileza.
Ø
Cordial
vem do radical latino “cordis” (cujo significado mais remoto é cordas), isto é,
relativo a coração.
Ø Sérgio Buarque
acentua essa explicação etimológica da palavra para ressaltar a sua dubiedade
e, a um só tempo, a sua adequação àquilo que caracteriza, segundo sua tese, o
temperamento do homem brasileiro.
Ø Ao contrário do povo
japonês, entre os quais a polidez é parte intrínseca do processo
civilizacional, no Brasil ela está apenas na superfície. Em suas palavras:
Ela
pode iludir na aparência – e isso se explica pelo fato de a atitude polida
consistir precisamente em uma espécie de mímica deliberada de manifestações que
são espontâneas no 'homem cordial': é a forma natural e viva que se converteu
em fórmula. Além disso, a polidez é, de algum modo, organização da defesa ante
a sociedade. Detém-se na parte exterior, epidérmica, do indivíduo, podendo
mesmo servir, quando necessário, de peça de resistência. Equivale a um disfarce
que permitirá a cada qual preservar inatas suas sensibilidades e suas emoções”.
Ø O homem cordial,
segundo Sérgio Buarque, precisa expandir o seu ser na vida social, precisa
estender-se na coletividade – não suporta o peso da individualidade, precisa
“viver nos outros”.
Ø Essa necessidade de
apropriação afetiva do outro pode ser notada, a título de exemplo, até em
expressões linguísticas.
Ø Sérgio Buarque cita o
sufixo “inho”, colocado em palavras como “senhorzinho” (“sinhozinho”), que
revela a vontade de aproximar o que é distante do nível do afeto.
Ø No brasileiro a
cordialidade é ocasional e difusa em suas emoções:
·
Admirável
hospitalidade;
·
Inclinação
às ações emotivas (intimidades e afetividades); o que nos impede de desenvolver
uma racionalidade mais efetiva;
·
Valoração
mais das qualidades do que das capacidades pessoais;
·
Dificuldades
em separar as instâncias públicas das privadas;
·
Sociabilidade
que não chega ao ponto da solidariedade e da coletividade.
Ø O “homem cordial” é,
portanto, um artifício, um ardil psicológico e comportamental, que está incrustado
em nossa formação enquanto povo.
Ø É por isso que Sérgio
Buarque diz que:
“A contribuição brasileira para
a civilização será o homem cordial”.
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