Por: Claudio Fernando Ramos,
Cacau “:¬)
“O homem é o mais misterioso
e desconcertante dos objetos descoberto pela ciência”.
(Ganivet)
Estive
no presente por apenas uns instantes.
Lá
o encontrei! Um ser estranho, ele fitava
o horizonte calmamente sentado. Não disse nada, ficou o tempo todo calado; talvez
porque eu também nada tivesse perguntado. Fui tomado por uma ansiedade quase
incontrolável, ansiedade de uma vida toda; quis fazer várias coisas ao mesmo
tempo, mas como não havia nada a ser feito, simplesmente continuei imóvel e com
as ideias quietas. Não queria prejudicar aquele momento por nada desse mundo.
Pouco mais de meio século havia se passado para que eu pudesse viver aqueles
poucos instantes.
Uma
grande ave, de aspecto ameaçador, sobrevoou nossas cabeças, espantando as
outras aves menores que se regalavam no lagar com o pouco que ali havia sobrado;
em debandada, as aves menores voaram de forma desorganizada e esbaforida. Mirando-as
pude ver em cada uma delas o terror manifesto pela possível perca da pacata e precária
existência; existência ameaçada por uma abominável e imponente ave de rapina.
Indiferente à sorte das pequenas aves, aquele ser enigmático permaneceu
sentado, só, e, em silêncio.
Pensando
agora, depois de ter vivido aqueles breves instantes, de forma mais calma e
menos ansiosa, acho que ele não estava tão sozinho assim, afinal de contas ele
parecia olhar para dentro, um olhar de quem vasculha o passado procurado sinas;
sinais discretos, quase imperceptíveis, sinais do futuro.
Lembro-me
de um dia ter ouvido de alguém que, tanto o futuro quanto o passado se comunicam sem a
imaginada intermediação do presente. Disse-me sussurrando, em tom confidencial,
como fazem os apostatas, que o presente nunca existiu, e que nunca há de
existir; concluiu que tudo não passa de uma necessidade humana, necessidade de
se localizar no tempo e no espaço. Coisas da finitude!
Talvez
tudo isso seja de fato uma verdade, talvez tudo o que há seja um futuro que se torna
passado e um passado que renasce como futuro. E talvez seja por isso que eu não
consigo mais vislumbrar aquele estranho homem que, por alguns instantes, em um
presente inexistente, procurava no passado sinais do futuro. Cacau 05/05/2018.
OBS:
de acordo com a Magra eu não posso encontrar esse homem, porque eu sou esse
homem! Será?
Cacau
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