(Filosofia Social)
Organizado por: Claudio Fernando Ramos a partir do texto de:
Cláudio
Novaes Pinto Coelho é professor da Faculdade Cásper Líbero
VÍDEO: https://www.youtube.com/watch?v=tQzSWQY3Sv4
INTRODUÇÃO
- Reflexões Baseadas no Pensamento de Guy Debord:
“Assim como o conceito de “indústria cultural”, o
conceito de “sociedade do espetáculo” faz parte de uma postura crítica com
relação à sociedade capitalista. Não são conceitos pensados de maneira
puramente acadêmica, como capazes apenas de descrever as características
sociais, mas fazem parte de uma construção teórica que procura apontar aquilo
que se constitui em entraves para a emancipação humana”.
APRESENTAÇÃO
- Um equívoco comum:
·
O Poder Midiático - Um dos principais
equívocos sobre a sociedade contemporânea é o argumento de que o conjunto dos
meios de comunicação, a mídia, é a instituição social mais poderosa.
·
Conceitos
Generalizantes
- Fazem parte desse argumento expressões problemáticas como “sociedade
midiatizada”, “cultura da mídia” etc.
·
A
expressão “Sociedade do Espetáculo” pode dar margem a interpretações
equivocadas, se for entendida como o poder que as imagens exercem na sociedade
contemporânea.
- Quem e quais poderes:
·
É
preciso distinguir quais meios de comunicação possuem poder e que tipo de poder
exercem.
DESENVOLVIMENTO
- Diante do óbvio:
·
Não
há dúvida de que conglomerados empresariais (Organizações Globo, no contexto
brasileiro, e a News Corporation, de Rudolph Murdoch, no contexto mundial) são
exemplos de instituições poderosas, que:
a) movimentam enorme
quantidade de capital;
b) influenciam comportamentos
individuais e coletivos;
c) agem politicamente;
d) defendem seus
próprios interesses e os interesses da sociedade capitalista de modo geral.
- Mídia não é o mesmo que Indústria Cultural:
·
De
forma alguma essas empresas podem ser consideradas como fazendo parte de uma
mesma instituição social, com todos aqueles que são produtores de mensagens e
utilizam algum tipo de recurso tecnológico.
- Dimensão econômica e social da comunicação:
·
O
conceito de “indústria cultural”, ainda que tenha sido criado por Adorno e
Horkheimer na primeira metade do século passado, explica muito melhor a atuação
dos meios de comunicação do que o termo “mídia”, pois destaca a dimensão
econômica da comunicação.
- A mercantilização da comunicação segundo a escola de
Frankfurt:
·
Adorno
e Horkheimer, no livro Dialética do Esclarecimento, publicado em 1947, já
indicavam que os conglomerados empresariais que atuam na comunicação são
fundamentais para a existência da sociedade capitalista, mas que seu poder
depende do poder dos conglomerados empresariais de modo geral.
-
Sociedade do espetáculo e o capitalismo:
“O que permite a caracterização do capitalismo como a
sociedade do espetáculo é o caráter cotidiano da produção de espetáculos, a
quantidade incalculável de espetáculos produzidos e seu vínculo com a produção
e o consumo de mercadorias feitas em larga escala”.
·
Relações sociais e
imagens
- Guy Debord, o criador do conceito de “sociedade do espetáculo”, definiu o
espetáculo como o conjunto das relações sociais mediadas pelas imagens.
·
R. Sociais, Imagens,
Produção e Consumo, distintos, mas inseparáveis - De acordo com
Debord é impossível a separação entre essas relações sociais mediadas pelas
imagens e as relações de produção e consumo de mercadorias.
·
Acúmulos de Capital e
Imagens
- A sociedade do espetáculo corresponde a uma fase específica da sociedade
capitalista, quando há uma interdependência entre o processo de acúmulo de
capital e o processo de acúmulo de imagens (a onipresença do markenting).
·
A sociedade
mercantilizada
- O papel desempenhado pelo marketing e sua onipresença, ilustra perfeitamente
bem o que Debord quis dizer: das relações interpessoais à política, passando
pelas manifestações religiosas, tudo está mercantilizado e envolvido por
imagens.
- Sociedade de classe, gênese da sociedade do espetáculo:
·
Sociedade do
espetáculo ao longo da história - Se a sociedade do espetáculo é mais vista
e melhor compreendida dentro do contexto da sociedade capitalista, isso não
quer dizer que só nessa forma de vida social ocorre a produção de espetáculos.
·
A distinção entre technê
e episteme* - A produção de imagens, a valorização da dimensão visual
da comunicação, como instrumento de exercício do poder, de dominação social,
existe (Sociedade do Espetáculo 1967), em todas as
sociedades onde há classes sociais, isto é, onde a desigualdade social está
presente graças à divisão social do trabalho, principalmente a divisão entre
trabalho manual e trabalho intelectual.
·
A sociedade medieval
como exemplo
- Na sociedade feudal, o poder da nobreza sobre os servos estava vinculado à
aparência de superioridade construída pelos nobres, mediante o uso de peças
sofisticadas de vestuário, a construção de moradias com estilos arquitetônicos
imponentes, a organização de festas suntuosas etc.
-
O poder espetacular, sua disseminação e concentração (Produção, Consumo e
Política):
·
A sociedade
dissemina, o Estado concentra - Na sociedade capitalista, o poder
espetacular está disseminado por toda a vida social, na qual há simultaneamente
produção e consumo de mercadorias e de imagens, constituindo-se na forma difusa
desse poder, conforme definição dada por Debord em 1967, ou ocorre vinculado à
ação do Estado, de forma concentrada, com a produção de imagens para justificar
o poder exercido por seus dirigentes.
CONCLUSÃO
- Guy Debord e o fracasso da esquerda:
·
Na
década de 1960, Guy Debord e os demais militantes políticos e culturais
aglutinados em torno da Internacional Situacionista destacaram-se pela
capacidade de influenciar um dos mais importantes movimentos sociais do século
20, que contou com a participação de milhões de estudantes e operários e entrou
para a história como o movimento de maio de 1968.
·
Os
situacionistas defendiam uma ação contra a alienação presente na vida
cotidiana, postulando que os estudantes e os trabalhadores deveriam retomar o
controle sobre suas próprias vidas, ocupando as escolas e fábricas e passando a
exercer, com base em decisões tomadas coletivamente em assembleias, o poder
nessas instituições.
·
As
ocupações aconteceram, mas fracassaram como estratégia para revolucionar a
sociedade capitalista.
- Guy Debord e o triunfo do neoliberalismo:
·
Em
1988, Debord publica os Comentários sobre a Sociedade do
Espetáculo, reconhecendo que, em vez de a sociedade do espetáculo
ser destruída, ela se fortaleceu no período histórico posterior às lutas
sociais de 1968.
·
Nesse
texto, ele afirma que a produção de espetáculos tomou conta de toda a vida
social; o poder espetacular manifesta-se agora de forma integrada, já que
desapareceram os movimentos sociais de oposição, que se assimilaram à sociedade
capitalista e não defendem mais sua superação.
·
A
análise feita por Debord em 1988 a respeito do poder espetacular corresponde ao
momento do triunfo do neoliberalismo em escala mundial.
- Indústria cultural: retrocesso dos trabalhadores /
porta voz do capitalismo
·
O
neoliberalismo, com a defesa da liberdade de atuação para os grandes
conglomerados empresariais, significou:
a) retrocesso nas conquistas
sociais dos trabalhadores;
b) causa do avanço do
desemprego;
c) precarização das
condições de trabalho;
d) enfraquecimento dos
sindicatos;
e) enfraquecimento dos
movimentos sociais;
f) enfraquecimento dos partidos
de esquerda.
·
Com
o neoliberalismo
a) cresce o poder dos
conglomerados comunicacionais;
b) fortalece-se a
indústria cultural articulada mundialmente;
c) a indústria cultural transforma-se
no porta-voz ideológico do capitalismo;
d) a indústria cultural desqualifica
qualquer visão contrária ao neoliberalismo como sendo ultrapassada;
e) a industria cultural
promove o pensamento único em relação ao qual não há alternativa.
REFLEXÕES
-
O contexto contemporâneo
·
A
atual crise econômica, que se manifesta intensamente nos Estados Unidos e na
Europa e faz com que somas gigantescas, na casa dos trilhões de dólares, sejam
direcionadas pelos governos para “salvar” instituições financeiras envolvidas
numa verdadeira orgia especulativa, está provocando um abalo significativo no
neoliberalismo e no pensamento único.
·
Na
América Latina, esse abalo teria começado antes, com a ascensão ao poder de
líderes políticos considerados de esquerda.
·
No
entanto, não é muito fácil avaliar se essa ascensão significou efetivamente um
abalo no neoliberalismo, já que, na prática, são governos com atitudes bastante
distintas.
·
No
Brasil, por exemplo, em que pese a melhoria das condições de vida da maioria da
população com a diminuição das desigualdades sociais, houve, em linhas gerais,
uma manutenção da política econômica neoliberal.
·
Nas
campanhas eleitorais e durante os mandatos presidenciais de Lula ocorreu uma
farta utilização das técnicas de marketing para a produção de imagens
espetaculares capazes de garantir sua eleição, reeleição e altíssimos índices
de popularidade.
·
A
realidade contemporânea possui elementos suficientes para que uma reflexão
sobre a possibilidade de um retorno da crítica teórica e prática da sociedade
capitalista do espetáculo se torne indispensável.
* Na Grécia antiga, os processos de aquisição de conhecimento eram quase
sempre separados da produção de artefatos. Os filósofos sobreviviam ensinando a
juventude. Os engenheiros faziam navios e máquinas de guerra. Assim, os gregos
distinguiam os conceitos de Technê e Episteme.
·
Este
contraste entre technê e episteme está na base da moderna
dicotomia entre Ciência e Tecnologia.
·
Ainda
hoje, separamos a Ciência, ensinada nas universidades e praticada nos
laboratórios de pesquisa, da Tecnologia, realizada nas empresas.
·
A
busca do conhecimento requer espíritos inquisidores, capazes de postular ideias
que desafiam o senso comum (como Darwin e Einstein).
·
A
realização da tecnologia requer espíritos práticos, que trabalhem as minúcias e
o detalhe para que nossas construções funcionem (como Edison e Linus Torvalds).
- Technê - se refere à capacidade de produzir um objeto por meios racionais.
Muitos traduzem por artesanato ou arte. Mas technê também está na raiz do que hoje chamamos de tecnologia. A ideia é que a
construção de artefatos é uma arte criativa dos homens, e realiza-se através de
uma combinação de conhecimento, prática e experimentação.
- Episteme - para os gregos, episteme denota
o conhecimento em estado puro. Hoje traduzimos por Ciência.
SOCIEDADE DO
ESPETÁCULO
(Filosofia Social)
AULA RESUMIDA
1 - APRESENTAÇÃO
- O Pensador:
·
Guy
Debord
- A Tese:
·
Sociedade
do Espetáculo
- A Definição:
·
Sociedade
do Espetáculo é o conjunto das relações sociais mediadas pelas imagens.
- Três Reflexões:
·
A
crise do Ser; O poder do Ter; A onipresença do Parecer.
2 – CONCEITUANDO E SUPERANDO EQUÍVOCOS
a) Constatação do óbvio – o poder midiático.
-
Enorme movimentação financeira.
-
Determinante de comportamentos individuais e coletivos.
-
Políticas ideologizadas.
-
Defesa dos próprios interesses.
b) Um equívoco comum – a sociedade do
espetáculo não se resume ao poder das imagens.
-
O esvaziamento do ser. }
-
A relativização do ter. } MUDANÇAS
DE VALORES
-
A fidelização do parecer. }
c) A grande mídia, enquanto modo de
comunicação, não é, necessariamente, sinônimo de sociedade do espetáculo.
-
A grande mídia possui no mínimo dois aspectos predominantes:
·
Aspecto social – comprometida com a
verdade por trás dos fatos, o desenvolvimento humano e o com os valores
sociais.
·
Aspecto econômico – comprometida com os
lucros, ou seja, pensando e funcionando pragmaticamente segundo a lógica de
mercado.
“Quando a ênfase dos veículos de comunicação é
predominantemente econômica, ao invés de social, nasce a Indústria Cultural”.
3 – A GÊNESES DA SOCIEDADE DO ESPETÁCULO
a)
A sociedade de classe, sem se restringir ao sistema capitalista, é o berço do
espetáculo.
-
Superioridade criada artificialmente por intermédio de alguns mecanismos
sociais:
·
Vestuários
sofisticados.
·
Imponentes
arquiteturas residenciais.
·
Festas
suntuosas.
·
Política
como herança divina.
·
Ação
moral como herança familiar.
·
Divisão
social do trabalho: techné e episteme.
4 – O PODER ESPETACULAR
a) Disseminação
– A sociedade dissemina o poder do espetáculo através da produção e consumo de
mercadorias, imagens, comportamentos, valores etc...
b) Concentração
– O Estado concentra o poder do espetáculo como forma de garantir e
legitimar o suas ações e controle sobre os indivíduos.
5 – A SOCIEDADE MERCANTILIZADA
a)
Há um estreito vínculo entre a comunicação, produção e o consumo cotidiano das
pessoas.
·
As
relações interpessoais. }
·
As
ações políticas. }
·
A
produção e o consumo. } A
ONIPRESENÇA DO MARKETING
·
As
manifestações religiosas. }
·
A
educação formal. }
Exercício
1. (Enem 2018) A primeira fase da dominação da
economia sobre a vida social acarretou, no modo de definir toda realização
humana, uma evidente degradação do ser para o ter.
A fase atual, em que a vida social está totalmente tomada pelos resultados da
economia, leva a um deslizamento generalizado do ter para o parecer, do qual
todo ter efetivo deve extrair seu prestígio imediato e sua função última. Ao
mesmo tempo, toda realidade individual tornou-se social, diretamente dependente
da força social, moldada por ela.
DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Rio de
Janeiro: Contraponto, 2015.
Uma manifestação contemporânea do fenômeno descrito
no texto é o(a)
a) valorização dos conhecimentos acumulados.
b) exposição nos meios de comunicação.
c) aprofundamento da vivência espiritual.
d) fortalecimento das relações interpessoais.
e) reconhecimento na esfera artística.
Comentário:
Debord está fazendo nesse texto uma análise da sociedade que ele chama
de “sociedade do espetáculo”. No texto, ele destaca uma transição do ser para o ter e deste para o parecer. Em outras palavras, o
que ele está dizendo é que em um determinado momento histórico o que importava
era o ser, o que uma pessoa era. A partir de determinados desenvolvimentos
econômicos isso se tornou secundário e o prestígio social passou a depender
muito mais do que a pessoa tinha – um carro, uma casa etc. No entanto, isso
também perdeu espaço. Na nossa sociedade, o importante é parecer, ostentar de alguma
forma o que se tem. Caso isso não seja feito, de nada vale ter algo. Ou seja,
não basta um carro importado, é importante que esse carro seja mostrado de
várias formas. Essa preocupação generalizada como o parecer gera a necessidade
de “exposição nos meios de comunicação”, a alternativa correta.