Por: Claudio Fernando Ramos, Cacau “:¬) 21/02/2020
"Tudo posso naquele que me fortalece". Essa é uma
frase bastante usual no linguajar do povo cristão mundo à fora. No entanto, sem
que façamos qualquer tipo de investigação filológica (estudo rigoroso de
textos), faz-se mister que se reflita um pouco sobre o tema (só um pouquinho de
hermenêutica e exegese básicas). Deus é soberano; ponto pacífico, e, em
harmonia com essa condição, é prudente compreeder que a onisciência (saber
absoluto, pleno, conhecimento infinito), a justiça e a bondade são
prerrogativas inexoráveis na existência desse ser supremo. Diante dessa
liberdade de razão (condição do indivíduo em aceitar ou não um conhecimento que
se impõe como verdadeiro por si só) resta-nos aceitar (tomara que de bom grado)
que o "Tudo Posso" bíblico não é, não pode e nem deve significar o
"tudo posso" relativizado do mundo contemporâneo, ou seja, cada
pessoa ao pensar, falar e agir, leva mais em conta as suas subjetividades
individuais (sentimentos, impressões e caprichos) do que os princípios eternos
de um Deus soberano e imutável ("passarão os céus e a terra, mas a minha
palavra não passará"). Agostinho de Hipona refletindo sobre as escolhas
erradas que fazemos, disse que mesmo tendo consciência básica do certo e do
errado, nós quase sempre, não só escolhemos o errado, como também nos
comprazemos nele; para o teólogo, a vontade corrompida do ser humano é a
principal responsável por esse engodo ("creio o que entendo, mas não
entendo tudo o que creio"). Não devemos tirar da mente que os homens, por
melhores que sejam (pais amorosos, companheiros fies, amigos solícitos,
cidadãos exemplares) ainda assim são contingentes (não se bastam, não são
causas de si mesmos), e, em razão disso, muitas vezes nos encontramos em
conflitos com a vida (por que viver?), com os outros ("o inferno são os
outros" frase de Sartre) e nós mesmos (estou cansado de mim). "Poder
todas as coisas" é, antes de mais nada, poder ser útil ao próximo (por
reconhecer nele a mesma contingência que há em todos nós) e, nesse fantástico
processo de querer e poder ajudar ao próximo, se permitir ser ajudado também,
uma vez que o Senhor dos senhores afirmou: Sem mim nada podeis fazer! (João
15.5) Que somente esse fazer (Fazer no Senhor) seja todo o nosso querer de "Tudo
Poder" naquele que sempre há de nos fortalecer! Um bom feriado de
carnaval!