domingo, 29 de outubro de 2017

BARUCH ESPINOSA (1632-1677)


“Se não queres repetir o passado estude-o!”

VÍDEO AULA (Aulas em sequências - Uma só aula em três partes):
AULA 01 https://www.youtube.com/watch?v=vxr15DL-8ek
AULA 02 https://www.youtube.com/watch?v=_cK7SDed6Pk
AULA 03 https://www.youtube.com/watch?v=5PeOqfy6N8g

 I - VIDA E OBRA
A) VIDA
- Nasceu em Amsterdam em 1632, filho de hebreus portugueses, de modesta condição social, emigrados para a Holanda.

- Recebeu uma educação hebraica na academia israelita de Amsterdam, com base especialmente nas Sagradas Escrituras.

- Demonstrando muita inteligência, foi iniciado na filosofia hebraica (medieval-neoplatônico-panteísta) e destinado a ser rabino.

- Depois de se manifestar o seu racionalismo e tendo ele recusado qualquer retratação, foi excomungado pela Sinagoga em 1656.

- Também as autoridades protestantes o desterraram como blasfemador contra a Sagrada Escritura.

- Retirou-se, primeiro, para os arredores de Amsterdam, em seguida para perto de Leida e enfim refugiou-se em Haia.

- Aos vinte e cinco anos de idade esse filósofo, sem pátria; sem família; sem saúde; sem riqueza; se acha também isolado religiosamente.

- Os outros acontecimentos mais notáveis na formação espiritual especulativa de Spinoza são: o contacto com Francisco van den Ende, médico e livre pensador; as relações travadas com alguns meios cristão-protestantes.

- Van den Ende iniciou-o no pensamento cartesiano, nas línguas clássicas, na cultura da Renascença; e nos meios religiosos holandeses aprendeu um cristianismo sem dogmas, de conteúdo essencialmente moralista.

- Provia pois às suas limitadas necessidades materiais, preparando lentes ópticas para microscópios e telescópios, arte que aprendera durante a sua formação rabínica; e também aceitando alguma ajuda do pequeno grupo de amigos e discípulos.

- Para não comprometer a sua independência especulativa e a sua paz, recusou uma pensão oferecida pelo "grande Condé" e uma cátedra universitária em Heidelberg, que lhe propusera Carlos Ludovico, eleitor palatino.

- Uma tuberculose enfraquecera seu corpo. Após alguns meses de cama, Spinoza faleceu aos quarenta e quatro anos de idade, em 1677, em Haia.

- Deixou uma notável biblioteca filosófica; mas a sua herança mal chegou para pagar as despesas do funeral e as poucas dívidas contraídas durante a enfermidade.

- Um traço característico e fundamental do caráter de Spinoza é a sua concepção prática, moral, de filosofia, como solucionadora última do problema da vida.

- E, ao mesmo tempo, a sua firme convicção de que a solução desse problema não é possível senão teoreticamente, intelectualmente, através do conhecimento e da contemplação filosófica da realidade.

B) OBRAS PRINCIPAIS
- As obras filosóficas principais de Spinoza são:

*Ethica (publicada postumamente em Amsterdam em 1677), que constitui precisamente o seu sistema filosófico.

Tractatus theologivo-politicus (publicado anônimo em Hamburgo em 1670), que contém a sua filosofia religiosa e política.

II - INTRODUÇÃO
- Privilegiou a ética na construção do seu pensamento.

- Para ele o conhecimento depende dos tipos de afetos que prevalecem nos indivíduos.

- Formulou uma concepção inusitada das relações entre Deus e a natureza.

III - INFLUÊNCIA CARTESIANA
“A razão matemática, científica - espírito geométrico - que vale para o mundo natural, Descartes tento fazer chega até Deus.”

- O cartesianismo forjou a mentalidade (racionalista-matemática) dos maiores filósofos até Kant.

- O pensamento de Descartes exercerá uma influência vasta no mundo cultural francês e europeu, diretamente até Kant e indiretamente até Hegel.

- E exerceu tal influência não tanto como sistema metafísico, quanto especialmente pelo espírito crítico, pelo método racionalista, implícito nas premissas do sistema do filósofo.

- O cartesianismo propôs os grandes problemas em torno dos quais girou a especulação de vários filósofos, a saber: a relação entre substância finita de um lado, e entre espírito e matéria do outro; a harmonia preestabelecida de Leibnize o panteísmo psicofísico de Spinoza.

- Spinoza é a mais coerente e extrema expressão do racionalismo moderno depois do fundador e antes de Kant.

IV - DEFINIÇÕES CONCEITUAIS
a) Transcendência – na teologia, significa que Deus é separado do mundo que criou e é superior a ele.

b) Imanência – na teologia, significa que Deus faz parte do mundo, não sendo, portanto, exterior a natureza.

c) Panteísmo – tudo é Deus, Deus é imanente ao mundo.

d) Determinismo – ausência do livre-arbítrio.

e) Conatus – termo latino que designa esforço físico ou moral.

f) Heteronomia – do grego hetero (diferente) e nomos (lei). Portanto, nossa ação não é comandada por nós mesmo, mas por outros.

g) Paixão – em grego phatos, significa padecer, sofrer, no sentido de algo que ocorre no sujeito independentemente de sua vontade. Ao padecer não somos nós que agimos, mas sofremos a ação de uma causa exterior.

V - DEUS SIVE NATURA
(Deus, ou seja, natureza)

- O racionalismo cartesiano é levado a uma rápida, lógica, extrema conclusão por Spinoza.

- Em geral, pode-se dizer que Descartes fornece a Spinoza o elemento arquitetônico, lógico-geométrico, para a construção do seu sistema, cujo conteúdo monista, em parte deriva da tradição neoplatônica, em parte do próprio Descartes.

- Spinoza quereria deduzir de Deus racionalmente, logicamente, geometricamente toda a realidade.

- O problema das relações entre Deus e o mundo é por ele resolvido em sentido monista.

A) de um lado, desenvolvendo o conceito de substância cartesiana, pelo que há uma só verdadeira e própria substância, a divina;

B) de outro lado introduzindo na corrente racionalista-cartesiana uma preformada concepção neoplatônica de Deus, a saber, uma concepção panteísta-emanatista.

- DITO DE OUTRO JEITO
- Os afetos e apetites humanos tratados como se fossem: linhas de superfícies ou de volumes (geometria da afetividade humana).

- Deus não é um ser transcendente, porém imanente.

- Espinosa é definido por outros pensadores como sendo um filósofo panteísta.

- O panteísmo de Espinosa possui uma sutileza: tudo está em Deus, sem que, no entanto, seja Deus. Há uma singular diferença entre a substância divina (Deus) e os seus modos (natureza).

- Deus é substância que constitui o universo inteiro e não se separa de tudo aquilo que produziu: “Todas as coisas são modos da substância infinita”.

- Deus é causa imanente (e não transcendente) dos seus modos, dentre os quais figura o ser humano.

- O PENSAMENTO: DEUS
- A substância divina é eterna e infinita: quer dizer, está fora do tempo e se desdobra em número infinito de perfeições ou atributos infinitos.

- Desses atributos, entretanto, o intelecto humano conhece dois apenas: o espírito e a matéria, a cogitatio e a extensio

- Descartes diminuiu estas substâncias, e no monismo spinoziano descem à condição de simples atributos da substância única.

- NATUREZA NATURANTE E NATURADA
- A substância e os atributos constituem a natura naturans. Da natura naturans (Deus) procede o mundo das coisas, isto é, os modos.

- Eles (os modos) são modificações dos atributos, e Spinoza chama-os natura naturata (o mundo).

- OS MODOS
- Os modos distinguem-se em primitivos e derivados.

Os modos primitivos - representam as determinações mais imediatas e universais dos atributos e são eternos e infinitos: por exemplo, o intellectus infinitus é um modo primitivo do atributo do pensamento, e o motus infinitus é um modo primitivo do atributo extensão.

VI - CONHECIMENTO, LIBERDADE E AÇÕES HUMANAS
“Toda coisa se esforça, enquanto está em si, por perseverar no seu ser”.

- Não nega a causalidade interna (determinismo), antes a considera adequada para que o ser humano atinja a sua essência.

- Defende e define a liberdade como sendo autodeterminação.

- Conatus, no sentido de uma tendência natural e espontânea de autoconservação.

- O ser quer existir de acordo com a natureza e não contra ela.

- É o conhecimento racional que nos permite distinguir os desejos verdadeiros (próprios de nossa natureza) daqueles que nos afastam dela.

- Só o conhecimento adequado de si mesmo pode promover a liberdade humana.

VII - ESCRAVIDÃO
- Desejos estranhos são os desejos exógenos, ou seja, externos e inadequados ao ser.

- Os desejos externos são inadequados porque escravizam o homem impedido a expressão plena da natureza do ser.

VIII - PAIXÕES DA ALEGRIA E DA TRISTEZA
(Qual a diferença?)

“Alegrias e tristezas (sentidas) são dimensões de nossa afetividade”.

- Alegria, a passagem do ser humano de uma perfeição menor para uma maior.

- Tristeza, a passagem do ser humano de uma perfeição maior para uma menor.

A) ALEGRIAS
“O amor é a alegria do amante, potencializado pela presença do amado ou da coisa amada”.

- Quando a potência de existir, que é o desejo, se realiza conforme nossa natureza, sentimos alegria.

- Aumenta o nosso ser e a nossa potência de agir (conatus).

- Aproxima-nos do ponto em que nos tornamos senhor da nossa própria potência de agir (dignos de ação).

- A realização do desejo que atende a uma necessidade positiva nos permite agir para realizar nosso ser, o que nos traz alegria e libertação, porque aumenta nossa potência de ser.

Exemplos de Expressões de Alegria

- Contentamento; admiração; estima; misericórdia...

B) TRISTEZAS

Quando somos obrigados a realizar um trabalho que não escolhemos, quando sofremos sob a égide de um governo autoritário, quando sucumbimos aos apelos consumistas... Sentimos a “diminuição do nosso ser”.

- Quando a potência de existir é contrariada, sentimos tristeza.

- A tristeza manifesta-se quando nos orientamos por valores exteriores a nós mesmos, nos tornamos heterônomos.

- Afasta-nos cada vez mais da nossa potência de agir (conatus).

Exemplos de Expressões de Tristeza

- Ódio; aversão; temor; desespero; indignação; inveja; crueldade; resentimento; melancolia; remorso; vingança...

IX - RELAÇÃO CORPO-MENTE
(Dualismo sem supremacia)

- Exceção à regra - superação da dicotomia: corpo e mente (corpo-consciência).

- Sem hierarquias - buscou restabelecer a unidade humana: não há hierarquia entre o corpo e a mente.

- Negando a tradição grega, afirmou que o espírito não é superior ao corpo e que o corpo não determina a consciência.

- O problema, pois, das relações entre o espírito e a matéria é resolvido por Spinoza, fazendo da matéria e do espírito dois atributos da única substância divina. - Une os dois na mesma substância segundo um paralelismo psicofísico, uma animação universal, uma forma de pampsiquismo.

X - CARACTERÍSTICAS DA ALMA
A) FORÇA

- A força da alma (poder) reside na atividade de pensar, conhecer.

- Quando a alma se reconhece capaz de produzir ideias, passa a uma perfeição maior e é afetada pela alegria.

B) FRAQUEZA
- A fraqueza da alma reside na ignorância.

- Quando não alcança o entendimento, a descoberta de sua impotência prova o sentimento de diminuição do ser (tristeza).

- A tristeza proporciona a passividade da alma.

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