FILOSOFIA
(Ler, Pensar e Viver)
Algumas das
questões elencadas abaixo não se encontram, necessariamente, dentro do padrão
proposto pelo ENEM; no entanto, entendemos o valor e a importância das mesmas
no que diz respeito ao fomento da exposição, discussão e apreensão em torno de
temas pertinentes ao estudo da filosofia. Quando em sala, não objetivamos
apenas explicar conteúdos e resolver questões padronizadas; mas, acima de tudo,
ler, entender, problematizar e vivenciar questões filosóficas, tanto as
acadêmicas (de caráter lógico/metodológico) quanto às do dia-a-dia (refém dos
duvidosos auspícios do senso comum). Acreditamos que com isso poderemos fazer
valer uma singular e significativa máxima da filosofia iluminista kantiana:
“não se ensina filosofia, mas a filosofar”.
Cacau “:¬)
30/03/2018.
O Pensamento Mítico 1-7
1. (Uema 2015)
Leia a fábula de La Fontaine, uma possível explicação para a expressão ¯
”o amor é cego”.
No amor tudo é mistério: suas flechas e
sua aljava, sua chama e sua infância eterna. Mas por que o amor é cego?
Aconteceu que num certo dia o Amor e a Loucura brincavam juntos. Aquele ainda
não era cego. Surgiu entre eles um desentendimento qualquer. Pretendeu então o
Amor que se reunisse para tratar do assunto o conselho dos deuses. Mas a
Loucura, impaciente, deu-lhe uma pancada tão violenta que lhe privou da visão.
Vênus, mãe e mulher, pôs-se a clamar por vingança, aos gritos. Diante de
Júpiter, de Nêmesis – a deusa da vingança – e de todos os juízos do inferno,
Vênus exigiu que aquele crime fosse reparado. Seu filho não podia ficar cego.
Depois de estudar detalhadamente o caso, a sentença do supremo tribunal celeste
consistiu em declarar a loucura a servir de guia ao Amor.
Fonte: LA FONTAINE, Jean
de. O amor e a loucura. In: Os melhores contos de loucura. Flávio
Moreira da Costa (Org.). Rio de Janeiro: Ediouro, 2007.
A fábula traz uma explicação oriunda
dos deuses para uma realidade humana. Esse tipo de explicação classifica-se
como
a) estética.
b) filosófica.
c) mitológica.
d) científica.
e) crítica.
2. (Uel 2015) Leia os textos a seguir.
Texto I
Sim bem primeiro nasceu
Caos, depois também Terra de amplo seio, de todos sede irresvalável sempre.
HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. 3.ed.
Trad. de Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1995. p.91.
Texto II
Segundo a mitologia ioruba,
no início dos tempos havia dois mundos: Orum, espaço sagrado dos orixás, e
Aiyê, que seria dos homens, feito apenas de caos e água. Por ordem de Olorum, o
deus supremo, o orixá Oduduá veio à Terra trazendo uma cabaça com ingredientes
especiais, entre eles a terra escura que jogaria sobre o oceano para garantir
morada e sustento aos homens.
“A Criação do
Mundo”. SuperInteressante. jul.
2008. Disponível em: <http://super.abril.com.br/religiao/criacaomundo-447670.shtm>.
Acesso em: 1 abr. 2014.
Texto III
No começo do tempo, tudo
era caos, e este caos tinha a forma de um ovo de galinha. Dentro do ovo estavam
Yin e Yang, as duas forças opostas que compõem o universo. Yin e Yang são escuridão
e luz, feminino e masculino, frio e calor, seco e molhado.
PHILIP, N. O Livro Ilustrado dos Mitos: contos e
lendas do mundo. Ilustrado por Nilesh Mistry. Trad. de Felipe Lindoso. São
Paulo: Marco Zero, 1996. p.22.
Com base nos textos e nos conhecimentos
sobre a passagem do mito para o logos na filosofia, considere as afirmativas a
seguir.
I. As diversas narrativas míticas da origem do
mundo, dos seres e das coisas são genealogias que concebem o nascimento
ordenado dos seres; são discursos que buscam o princípio que causa e ordena
tudo que existe.
II. Os mitos representam um relato de algo
fabuloso que afirmam ter ocorrido em um passado remoto e impreciso, em geral
grandes feitos apresentados como fundamento e começo da história de dada
comunidade.
III. Para Platão, a narrativa mitológica foi
considerada, em certa medida, um modo de expressar determinadas verdades que
fogem ao raciocínio, sendo, com frequência, algo mais do que uma opinião
provável ao exprimir o vir-a-ser.
IV. Quando tomado como um relato alegórico, o mito
é reduzido a um conto fictício desprovido de qualquer correspondência com algum
tipo de acontecimento, em que inexiste relação entre o real e o narrado.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e
II são corretas.
b) Somente as afirmativas I e
IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III
e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I,
II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas II,
III e IV são corretas.
3. (Unesp 2014)
Texto 1
Um dos elementos
centrais do pensamento mítico e de sua forma de explicar a realidade é o apelo
ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado, à magia. As causas dos fenômenos
naturais, aquilo que acontece aos homens, tudo é governado por uma realidade
exterior ao mundo humano e natural, a qual só os sacerdotes, os magos, os
iniciados são capazes de interpretar. Os sacerdotes, os rituais religiosos, os
oráculos servem como intermediários, pontes entre o mundo humano e o mundo
divino. Os cultos e os sacrifícios religiosos encontrados nessas sociedades
são, assim, formas de se agradecer esses favores ou de se aplacar a ira dos
deuses.
(Danilo
Marcondes. Iniciação à história da
filosofia, 2001. Adaptado.)
Texto 2
Ao longo da
história, a corrente filosófica do Empirismo foi associada às seguintes
características: 1. Negação de qualquer conhecimento ou princípio inato, que deva ser necessariamente reconhecido
como válido, sem nenhuma confirmação ou verificação. 2. Negação do
‘suprassensível’, entendido como qualquer realidade não passível de verificação
e aferição de qualquer tipo. 3. Ênfase na importância da realidade atual
ou imediatamente presente aos órgãos
de verificação e comprovação, ou seja, no fato: essa ênfase é consequência do recurso à evidência sensível.
(Nicola Abbagnano.
Dicionário de filosofia, 2007.
Adaptado.)
Com base nos textos
apresentados, comente a oposição entre o pensamento mítico e a corrente
filosófica do empirismo.
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4. (Ufsj 2013) A construção de uma
cosmologia que desse uma explicação racional e sistemática das características
do universo, em substituição à cosmogonia, que tentava explicar a origem do
universo baseada nos mitos, foi uma preocupação da Filosofia
a) medieval.
b) antiga.
c) iluminista.
d) contemporânea.
5. (Unimontes 2013) Muitos pensam que os mitos são lendas restritas aos
povos tribais e que teriam desaparecido com a crítica do pensamento científico
moderno. No que se refere ao mito, podemos afirmar, EXCETO
a) O mito é falso e enganador,
pois o mesmo falta com a verdade.
b) O mito orienta a vida e o
sentido da existência.
c) Os mitos têm como função
acomodar o homem em um mundo assustador.
d) As narrativas míticas eram
próprias de um mundo onde a oralidade ocupava lugar central na vida humana.
6. (Unesp 2012) Aedo e adivinho têm em
comum um mesmo dom de “vidência”, privilégio que tiveram de pagar pelo preço
dos seus olhos. Cegos para a luz, eles veem o invisível. O deus que os inspira
mostra-lhes, em uma espécie de revelação, as realidades que escapam ao olhar
humano. Sua visão particular age sobre as partes do tempo inacessíveis às
criaturas mortais: o que aconteceu outrora, o que ainda não é.
(Jean-Pierre
Vernant. Mito e pensamento entre os
gregos, 1990. Adaptado.)
O texto refere-se à cultura grega antiga e
menciona, entre outros aspectos,
a) o papel exercido pelos
poetas, responsáveis pela transmissão oral das tradições, dos mitos e da
memória.
b) a prática da feitiçaria,
estimulada especialmente nos períodos de seca ou de infertilidade da terra.
c) o caráter monoteísta da
sociedade, que impedia a difusão dos cultos aos deuses da tradição clássica.
d) a forma como a história era
escrita e lida entre os povos da península balcânica.
e) o esforço de diferenciar as
cidades-estados e reforçar o isolamento e a autonomia em que viviam.
7. (Uncisal 2012) O conhecimento mítico
apresenta características próprias que o diferencia de outros modos de
conhecer. Ele invariavelmente se vincula ao conhecimento religioso, mas
conserva suas funções especificas: acomodar e tranquilizar o homem em meio a um
mundo caótico e hostil. Nas sociedades em que ele se apresenta como um modo
válido de explicação da realidade assume uma abrangência tamanha que determina
a totalidade da vida, tanto no âmbito público como privado. Com referência ao
conhecimento mítico, é incorreto afirmar que
a) a adesão ao conhecimento
mítico ocorre sem necessidade de demonstração, apenas se aceita a autoridade do
narrador.
b) as explicações oferecidas
pelo conhecimento mítico essencialmente são de natureza cosmogônica.
c) as representações
sobrenaturais são utilizadas no intuito de explicar os fenômenos naturais.
d) a narrativa mítica faz uso
de uma linguagem simbólica e imaginária.
e) se pauta na reflexão,
apresentando a racionalidade e a cosmologia como componentes definidores do seu
modo próprio de ser.
GABARITO COMENTADO
GABARITO COMENTADO
Resp. 1: A fábula de La Fontaine se classifica como
uma narrativa mitológica, pois estrutura-se por meio da mistura de elementos
fantásticos e de elementos que compõe a realidade; tem o objetivo de narrar a
origem dos acontecimentos de tempos imemoriais; cria suas narrativas por meio
de genealogias; e busca possibilitar aos ouvintes o entendimento de questões
complexas. A narrativa mitológica não se preocupava com a questão da coerência
entre a realidade em a fantasia, seu objetivo era descrever através da
narrativa uma explicação sobre as origens das questões que compõe a realidade
humana, por meio da descrição de acontecimentos de tempos antigos, baseada não
na razão, mas na autoridade de quem serve como interprete entre o mundo divino
e o mundo natural. Esta narrativa era desprovida de caráter crítico ou
científico. Embora represente a primeira tentativa de explicação da realidade,
não se configurava ainda como um discurso filosófico ou estético. [C]
Resp.
2: Os mitos representam um ponto fundamental para o
surgimento da filosofia, ou passagem para o logos. Estes possuem as seguintes
características: são trabalhados por meio do discurso, são acríticos, são tidos
como verdadeiros devido à autoridade de que os narra, por serem estes os
responsáveis pela ligação do mundo natural com o mundo sobrenatural, misturam
elementos naturais e sobrenaturais; tratam os elementos do mundo natural e do
mundo sobrenatural como possuidores das qualidades e vícios encontrados nos
humanos; os mitos narram o surgimento do mundo por meio de genealogias e lutas
de contrários; e narram acontecimentos de um passado remoto, imemorial.
Platão utiliza o recurso do mito em diversos de seus escritos como forma
de revesti-los com a transmissão da verdade. Em seu livro “A República”, Platão
utiliza o recurso do mito como uma alegoria, não representando aquilo que
aconteceu, mas como um recurso que mistura o fictício (o mundo da caverna) com
o real o Mundo das Ideias que podemos contemplar por meio do pensamento. Seu
objetivo é criar explicações que sejam compreensíveis a seus interlocutores.
Desta forma, o item [IV] não corresponde à teoria descrita. A alternativa [E] é
a única que se enquadra nas teorias explicitadas. [D]
Resp. 3:
O texto 1 - Coloca que a explicação mítica da
realidade foi o recurso disponível aos homens daquela época para poder
compreender a realidade que os cercava. Neste período a realidade exterior ao
mundo natural somente poderia ser conhecida por meio de explicações que
tivessem a magia, o sobrenatural como base fundante. Desta forma, somente
aqueles que se dedicavam exclusivamente a esta atividade poderiam, ser aqueles
capazes de compreender os desígnios dos deuses. Os sacerdotes representavam os
intermediários entre os dois mundos (humano e divino). Assim, a autoridade de
sua palavra era por si só critério suficiente para estabelecer “verdades”
míticas que serviam como forma de explicação para os fenômenos naturais.
No texto 2 - Diferente da explicação mítica, o
empirismo, tendo como principais teóricos: John Locke, Francis Bacon e David
Hume, não recorre à autoridade da mesma maneira que os mitos, para explicar os
fenômenos. Esta corrente de pensamento rejeita que o conhecimento seja inato,
descarta, não considera como válido aquilo que não pode ser aferido,
verificado, aquilo que não for evidente. A verdade reside não mais na
autoridade de quem fala, mas na evidência, na constatação, naquilo que pode ser
captado pelos sentidos. O suprassensível é negado, pois não é passível de
investigação, verificação.
Resp. 4: A filosofia nasce,
historicamente, em um período da Grécia antiga no qual se modificava a maneira
com que os homens se relacionavam. Sendo que os mitos organizavam toda a vida
social consolidando práticas e cerimônias religiosas nas famílias, entre as
famílias, nas tribos, entre cidades, etc., a sua modificação, ou até extinção,
inevitavelmente faria renascer, distinta, a organização das relações dos homens
entre eles mesmos nas casas e na cidade. A filosofia, por conseguinte, tem sua
origem em duas modificações uma contextual e outra subjetiva, isto é, uma
modificação na cidade e outra no próprio homem. As modificações da cidade e da
própria subjetividade se confundem, pois a própria cidade deixa de se conformar
com certas tradições religiosas e a própria subjetividade, com o passar das
gerações, deixa de prezar os valores ancestrais organizados nos mitos. Com
essas mudanças a cidade e o homem passam a se constituir a partir de outras
práticas consideradas fundamentais, como o pensamento racional – um pensamento
com começo, meio e fim e justificado pela a experiência do mundo, sem o auxílio
de entes inalcançáveis. [B]
Resp. 5: O mito é uma simples
história contada de modo pomposo. A grande diferença entre mito e ciência é a
justificação do discurso, enquanto o primeiro simplesmente se satisfaz com o
seu encantamento próprio, a segunda necessita axiomaticamente de uma satisfação
pública de seu conteúdo, isto é, uma satisfação acessível a qualquer um que
seja racional. [A]
Resp. 6: A questão diz respeito ao
papel dos poetas na cultura grega clássica. Sendo eles inspirados pelos deuses,
são responsáveis pela transmissão dos mitos e da memória aos homens. Todas as
alternativas, com exceção da [A], fazem referência a características que não
são próprias da atividade dos poetas gregos.
[A]
Resp. 7: Somente a alternativa [E]
está incorreta. O conhecimento mítico não se pauta na reflexão, mas na
autoridade do narrador. No caso da Grécia Antiga, é a filosofia que surge como
forma de pensamento que apresenta a racionalidade como componente definidora do
seu próprio modo de ser. [E]
Perfeito!!! Respostas comentadas nos ajudam muito.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito obrigada pelo o seu conteúdo! Tem me ajudado bastante, mesmo que eu conquiste a carreira que eu almejo, levarei esse conhecimento para o resto da minha vida e serei eternamente grata ao senhor por ter ensinado isso para mim. Continue assim!
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