sexta-feira, 30 de março de 2018

QUESTÕES FILOSÓFICAS I (Do Mítico ao Filosófico)


FILOSOFIA
(Ler, Pensar e Viver)
Algumas das questões elencadas abaixo não se encontram, necessariamente, dentro do padrão proposto pelo ENEM; no entanto, entendemos o valor e a importância das mesmas no que diz respeito ao fomento da exposição, discussão e apreensão em torno de temas pertinentes ao estudo da filosofia. Quando em sala, não objetivamos apenas explicar conteúdos e resolver questões padronizadas; mas, acima de tudo, ler, entender, problematizar e vivenciar questões filosóficas, tanto as acadêmicas (de caráter lógico/metodológico) quanto às do dia-a-dia (refém dos duvidosos auspícios do senso comum). Acreditamos que com isso poderemos fazer valer uma singular e significativa máxima da filosofia iluminista kantiana: “não se ensina filosofia, mas a filosofar”.
Cacau “:¬) 30/03/2018.

O Pensamento Mítico 1-7
1. (Uema 2015)  Leia a fábula de La Fontaine, uma possível explicação para a expressão ¯ ”o amor é cego”.
No amor tudo é mistério: suas flechas e sua aljava, sua chama e sua infância eterna. Mas por que o amor é cego? Aconteceu que num certo dia o Amor e a Loucura brincavam juntos. Aquele ainda não era cego. Surgiu entre eles um desentendimento qualquer. Pretendeu então o Amor que se reunisse para tratar do assunto o conselho dos deuses. Mas a Loucura, impaciente, deu-lhe uma pancada tão violenta que lhe privou da visão. Vênus, mãe e mulher, pôs-se a clamar por vingança, aos gritos. Diante de Júpiter, de Nêmesis – a deusa da vingança – e de todos os juízos do inferno, Vênus exigiu que aquele crime fosse reparado. Seu filho não podia ficar cego. Depois de estudar detalhadamente o caso, a sentença do supremo tribunal celeste consistiu em declarar a loucura a servir de guia ao Amor.
Fonte: LA FONTAINE, Jean de. O amor e a loucura. In: Os melhores contos de loucura. Flávio Moreira da Costa (Org.). Rio de Janeiro: Ediouro, 2007.
A fábula traz uma explicação oriunda dos deuses para uma realidade humana. Esse tipo de explicação classifica-se como
a) estética.   
b) filosófica.   
c) mitológica.   
d) científica.   
e) crítica.   
  
2. (Uel 2015)  Leia os textos a seguir.
Texto I
Sim bem primeiro nasceu Caos, depois também Terra de amplo seio, de todos sede irresvalável sempre.
HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. 3.ed. Trad. de Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1995. p.91.

Texto II
Segundo a mitologia ioruba, no início dos tempos havia dois mundos: Orum, espaço sagrado dos orixás, e Aiyê, que seria dos homens, feito apenas de caos e água. Por ordem de Olorum, o deus supremo, o orixá Oduduá veio à Terra trazendo uma cabaça com ingredientes especiais, entre eles a terra escura que jogaria sobre o oceano para garantir morada e sustento aos homens.
“A Criação do Mundo”. SuperInteressante. jul. 2008. Disponível em: <http://super.abril.com.br/religiao/criacaomundo-447670.shtm>. Acesso em: 1 abr. 2014.

Texto III
No começo do tempo, tudo era caos, e este caos tinha a forma de um ovo de galinha. Dentro do ovo estavam Yin e Yang, as duas forças opostas que compõem o universo. Yin e Yang são escuridão e luz, feminino e masculino, frio e calor, seco e molhado.
PHILIP, N. O Livro Ilustrado dos Mitos: contos e lendas do mundo. Ilustrado por Nilesh Mistry. Trad. de Felipe Lindoso. São Paulo: Marco Zero, 1996. p.22.

Com base nos textos e nos conhecimentos sobre a passagem do mito para o logos na filosofia, considere as afirmativas a seguir.
I. As diversas narrativas míticas da origem do mundo, dos seres e das coisas são genealogias que concebem o nascimento ordenado dos seres; são discursos que buscam o princípio que causa e ordena tudo que existe.
II. Os mitos representam um relato de algo fabuloso que afirmam ter ocorrido em um passado remoto e impreciso, em geral grandes feitos apresentados como fundamento e começo da história de dada comunidade.
III. Para Platão, a narrativa mitológica foi considerada, em certa medida, um modo de expressar determinadas verdades que fogem ao raciocínio, sendo, com frequência, algo mais do que uma opinião provável ao exprimir o vir-a-ser.
IV. Quando tomado como um relato alegórico, o mito é reduzido a um conto fictício desprovido de qualquer correspondência com algum tipo de acontecimento, em que inexiste relação entre o real e o narrado.

Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.   
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.   
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.   
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.   
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.   
  
3. (Unesp 2014) 
Texto 1
Um dos elementos centrais do pensamento mítico e de sua forma de explicar a realidade é o apelo ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado, à magia. As causas dos fenômenos naturais, aquilo que acontece aos homens, tudo é governado por uma realidade exterior ao mundo humano e natural, a qual só os sacerdotes, os magos, os iniciados são capazes de interpretar. Os sacerdotes, os rituais religiosos, os oráculos servem como intermediários, pontes entre o mundo humano e o mundo divino. Os cultos e os sacrifícios religiosos encontrados nessas sociedades são, assim, formas de se agradecer esses favores ou de se aplacar a ira dos deuses.
(Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2001. Adaptado.)

Texto 2
Ao longo da história, a corrente filosófica do Empirismo foi associada às seguintes características: 1. Negação de qualquer conhecimento ou princípio inato, que deva ser necessariamente reconhecido como válido, sem nenhuma confirmação ou verificação. 2. Negação do ‘suprassensível’, entendido como qualquer realidade não passível de verificação e aferição de qualquer tipo. 3. Ênfase na importância da realidade atual ou imediatamente presente aos órgãos de verificação e comprovação, ou seja, no fato: essa ênfase é consequência do recurso à evidência sensível.
(Nicola Abbagnano. Dicionário de filosofia, 2007. Adaptado.)

Com base nos textos apresentados, comente a oposição entre o pensamento mítico e a corrente filosófica do empirismo.
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4. (Ufsj 2013) A construção de uma cosmologia que desse uma explicação racional e sistemática das características do universo, em substituição à cosmogonia, que tentava explicar a origem do universo baseada nos mitos, foi uma preocupação da Filosofia
a) medieval.   
b) antiga.   
c) iluminista.   
d) contemporânea.   
  
5. (Unimontes 2013)  Muitos pensam que os mitos são lendas restritas aos povos tribais e que teriam desaparecido com a crítica do pensamento científico moderno. No que se refere ao mito, podemos afirmar, EXCETO
a) O mito é falso e enganador, pois o mesmo falta com a verdade.   
b) O mito orienta a vida e o sentido da existência.   
c) Os mitos têm como função acomodar o homem em um mundo assustador.   
d) As narrativas míticas eram próprias de um mundo onde a oralidade ocupava lugar central na vida humana.   
  
6. (Unesp 2012)  Aedo e adivinho têm em comum um mesmo dom de “vidência”, privilégio que tiveram de pagar pelo preço dos seus olhos. Cegos para a luz, eles veem o invisível. O deus que os inspira mostra-lhes, em uma espécie de revelação, as realidades que escapam ao olhar humano. Sua visão particular age sobre as partes do tempo inacessíveis às criaturas mortais: o que aconteceu outrora, o que ainda não é.
(Jean-Pierre Vernant. Mito e pensamento entre os gregos, 1990. Adaptado.)
O texto refere-se à cultura grega antiga e menciona, entre outros aspectos,
a) o papel exercido pelos poetas, responsáveis pela transmissão oral das tradições, dos mitos e da memória.   
b) a prática da feitiçaria, estimulada especialmente nos períodos de seca ou de infertilidade da terra.   
c) o caráter monoteísta da sociedade, que impedia a difusão dos cultos aos deuses da tradição clássica.   
d) a forma como a história era escrita e lida entre os povos da península balcânica.   
e) o esforço de diferenciar as cidades-estados e reforçar o isolamento e a autonomia em que viviam.   
  
7. (Uncisal 2012) O conhecimento mítico apresenta características próprias que o diferencia de outros modos de conhecer. Ele invariavelmente se vincula ao conhecimento religioso, mas conserva suas funções especificas: acomodar e tranquilizar o homem em meio a um mundo caótico e hostil. Nas sociedades em que ele se apresenta como um modo válido de explicação da realidade assume uma abrangência tamanha que determina a totalidade da vida, tanto no âmbito público como privado. Com referência ao conhecimento mítico, é incorreto afirmar que
a) a adesão ao conhecimento mítico ocorre sem necessidade de demonstração, apenas se aceita a autoridade do narrador.   
b) as explicações oferecidas pelo conhecimento mítico essencialmente são de natureza cosmogônica.   
c) as representações sobrenaturais são utilizadas no intuito de explicar os fenômenos naturais.   
d) a narrativa mítica faz uso de uma linguagem simbólica e imaginária.   
e) se pauta na reflexão, apresentando a racionalidade e a cosmologia como componentes definidores do seu modo próprio de ser. 

GABARITO COMENTADO
Resp. 1: A fábula de La Fontaine se classifica como uma narrativa mitológica, pois estrutura-se por meio da mistura de elementos fantásticos e de elementos que compõe a realidade; tem o objetivo de narrar a origem dos acontecimentos de tempos imemoriais; cria suas narrativas por meio de genealogias; e busca possibilitar aos ouvintes o entendimento de questões complexas. A narrativa mitológica não se preocupava com a questão da coerência entre a realidade em a fantasia, seu objetivo era descrever através da narrativa uma explicação sobre as origens das questões que compõe a realidade humana, por meio da descrição de acontecimentos de tempos antigos, baseada não na razão, mas na autoridade de quem serve como interprete entre o mundo divino e o mundo natural. Esta narrativa era desprovida de caráter crítico ou científico. Embora represente a primeira tentativa de explicação da realidade, não se configurava ainda como um discurso filosófico ou estético. [C]

Resp. 2: Os mitos representam um ponto fundamental para o surgimento da filosofia, ou passagem para o logos. Estes possuem as seguintes características: são trabalhados por meio do discurso, são acríticos, são tidos como verdadeiros devido à autoridade de que os narra, por serem estes os responsáveis pela ligação do mundo natural com o mundo sobrenatural, misturam elementos naturais e sobrenaturais; tratam os elementos do mundo natural e do mundo sobrenatural como possuidores das qualidades e vícios encontrados nos humanos; os mitos narram o surgimento do mundo por meio de genealogias e lutas de contrários; e narram acontecimentos de um passado remoto, imemorial.
Platão utiliza o recurso do mito em diversos de seus escritos como forma de revesti-los com a transmissão da verdade. Em seu livro “A República”, Platão utiliza o recurso do mito como uma alegoria, não representando aquilo que aconteceu, mas como um recurso que mistura o fictício (o mundo da caverna) com o real o Mundo das Ideias que podemos contemplar por meio do pensamento. Seu objetivo é criar explicações que sejam compreensíveis a seus interlocutores. Desta forma, o item [IV] não corresponde à teoria descrita. A alternativa [E] é a única que se enquadra nas teorias explicitadas.  [D]

Resp. 3:
O texto 1 - Coloca que a explicação mítica da realidade foi o recurso disponível aos homens daquela época para poder compreender a realidade que os cercava. Neste período a realidade exterior ao mundo natural somente poderia ser conhecida por meio de explicações que tivessem a magia, o sobrenatural como base fundante. Desta forma, somente aqueles que se dedicavam exclusivamente a esta atividade poderiam, ser aqueles capazes de compreender os desígnios dos deuses. Os sacerdotes representavam os intermediários entre os dois mundos (humano e divino). Assim, a autoridade de sua palavra era por si só critério suficiente para estabelecer “verdades” míticas que serviam como forma de explicação para os fenômenos naturais.

No texto 2 - Diferente da explicação mítica, o empirismo, tendo como principais teóricos: John Locke, Francis Bacon e David Hume, não recorre à autoridade da mesma maneira que os mitos, para explicar os fenômenos. Esta corrente de pensamento rejeita que o conhecimento seja inato, descarta, não considera como válido aquilo que não pode ser aferido, verificado, aquilo que não for evidente. A verdade reside não mais na autoridade de quem fala, mas na evidência, na constatação, naquilo que pode ser captado pelos sentidos. O suprassensível é negado, pois não é passível de investigação, verificação.  

Resp. 4: A filosofia nasce, historicamente, em um período da Grécia antiga no qual se modificava a maneira com que os homens se relacionavam. Sendo que os mitos organizavam toda a vida social consolidando práticas e cerimônias religiosas nas famílias, entre as famílias, nas tribos, entre cidades, etc., a sua modificação, ou até extinção, inevitavelmente faria renascer, distinta, a organização das relações dos homens entre eles mesmos nas casas e na cidade. A filosofia, por conseguinte, tem sua origem em duas modificações uma contextual e outra subjetiva, isto é, uma modificação na cidade e outra no próprio homem. As modificações da cidade e da própria subjetividade se confundem, pois a própria cidade deixa de se conformar com certas tradições religiosas e a própria subjetividade, com o passar das gerações, deixa de prezar os valores ancestrais organizados nos mitos. Com essas mudanças a cidade e o homem passam a se constituir a partir de outras práticas consideradas fundamentais, como o pensamento racional – um pensamento com começo, meio e fim e justificado pela a experiência do mundo, sem o auxílio de entes inalcançáveis. [B]

Resp. 5: O mito é uma simples história contada de modo pomposo. A grande diferença entre mito e ciência é a justificação do discurso, enquanto o primeiro simplesmente se satisfaz com o seu encantamento próprio, a segunda necessita axiomaticamente de uma satisfação pública de seu conteúdo, isto é, uma satisfação acessível a qualquer um que seja racional. [A]

Resp. 6: A questão diz respeito ao papel dos poetas na cultura grega clássica. Sendo eles inspirados pelos deuses, são responsáveis pela transmissão dos mitos e da memória aos homens. Todas as alternativas, com exceção da [A], fazem referência a características que não são próprias da atividade dos poetas gregos.  [A]


Resp. 7: Somente a alternativa [E] está incorreta. O conhecimento mítico não se pauta na reflexão, mas na autoridade do narrador. No caso da Grécia Antiga, é a filosofia que surge como forma de pensamento que apresenta a racionalidade como componente definidora do seu próprio modo de ser.  [E]

3 comentários:

  1. Perfeito!!! Respostas comentadas nos ajudam muito.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Muito obrigada pelo o seu conteúdo! Tem me ajudado bastante, mesmo que eu conquiste a carreira que eu almejo, levarei esse conhecimento para o resto da minha vida e serei eternamente grata ao senhor por ter ensinado isso para mim. Continue assim!

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