sexta-feira, 30 de março de 2018

QUESTÕES FILOSÓFICAS II (Os Pré-Socráticos)


FILOSOFIA
(Ler, Pensar e Viver)
Algumas das questões elencadas abaixo não se encontram, necessariamente, dentro do padrão proposto pelo ENEM; no entanto, entendemos o valor e a importância das mesmas no que diz respeito ao fomento da exposição, discussão e apreensão em torno de temas pertinentes ao estudo da filosofia. Quando em sala, não objetivamos apenas explicar conteúdos e resolver questões padronizadas; mas, acima de tudo, ler, entender, problematizar e vivenciar questões filosóficas, tanto as acadêmicas (de caráter lógico/metodológico) quanto às do dia-a-dia (refém dos duvidosos auspícios do senso comum). Acreditamos que com isso poderemos fazer valer uma singular e significativa máxima da filosofia iluminista kantiana: “não se ensina filosofia, mas a filosofar”.
Cacau “:¬) 30/03/2018.


Respostas - Os Pré-Socráticos 1-7
1. (Enem 2017)  A representação de Demócrito é semelhante à de Anaxágoras, na medida em que um infinitamente múltiplo é a origem; mas nele a determinação dos princípios fundamentais aparece de maneira tal que contém aquilo que para o que foi formado não é, absolutamente, o aspecto simples para si. Por exemplo, partículas de carne e de ouro seriam princípios que, através de sua concentração, formam aquilo que aparece como figura.
HEGEL. G. W. F. Crítica moderna. In: SOUZA, J. C. (Org.). Os pré-socrática: vida e obra. São Paulo: Nova Cultural. 2000 (adaptado).
O texto faz uma apresentação crítica acerca do pensamento de Demócrito, segundo o qual o “princípio constitutivo das coisas” estava representado pelo(a)
a) número, que fundamenta a criação dos deuses.   
b) devir, que simboliza o constante movimento dos objetos.   
c) água, que expressa a causa material da origem do universo.   
d) imobilidade, que sustenta a existência do ser atemporal.   
e) átomo, que explica o surgimento dos entes.   
  
2. (Enem PPL 2016) Todas as coisas são diferenciações de uma mesma coisa e são a mesma coisa. E isto é evidente. Porque se as coisas que são agora neste mundo – terra, água ar e fogo e as outras coisas que se manifestam neste mundo –, se alguma destas coisas fosse diferente de qualquer outra, diferente em sua natureza própria e se não permanecesse a mesma coisa em suas muitas mudanças e diferenciações, então não poderiam as coisas, de nenhuma maneira, misturar-se umas às outras, nem fazer bem ou mal umas às outras, nem a planta poderia brotar da terra, nem um animal ou qualquer outra coisa vir à existência, se todas as coisas não fossem compostas de modo a serem as mesmas. Todas as coisas nascem, através de diferenciações, de uma mesma coisa, ora em uma forma, ora em outra, retomando sempre a mesma coisa.
DIÓGENES, In: BORNHEIM, G. A. Os filósofos pré-socráticos. São Paulo, Cultrix, 1967.
O texto descreve argumentos dos primeiros pensadores, denominados pré-socráticos. Para eles, a principal preocupação filosófica era de ordem
a) cosmológica, propondo uma explicação racional do mundo fundamentada nos elementos da natureza.   
b) política, discutindo as formas de organização da pólis ao estabelecer as regras de democracia.   
c) ética, desenvolvendo uma filosofia dos valores virtuosos que tem a felicidade como o bem maior.   
d) estética, procurando investigar a aparência dos entes sensíveis.   
e) hermenêutica, construindo uma explicação unívoca da realidade.   
  
3. (Enem 2016)
Texto I
Fragmento B91: Não se pode banhar duas vezes no mesmo rio, nem substância mortal alcançar duas vezes a mesma condição; mas pela intensidade e rapidez da mudança, dispersa e de novo reúne.
HERÁCLITO. Fragmentos (Sobre a natureza). São Paulo: Abril Cultural, 1996 (adaptado).

Texto II
Fragmento B8: São muitos os sinais de que o ser é ingênito e indestrutível, pois é compacto, inabalável e sem fim; não foi nem será, pois é agora um todo homogêneo, uno, contínuo. Como poderia o que é perecer? Como poderia gerar-se?
PARMÊNIDES. Da natureza. São Paulo: Loyola, 2002 (adaptado).
Os fragmentos do pensamento pré-socrático expõem uma oposição que se insere no campo das
a) investigações do pensamento sistemático.    
b) preocupações do período mitológico.    
c) discussões de base ontológica.    
d) habilidades da retórica sofística.   
e) verdades do mundo sensível.   

4. (Enem 2015)  A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela embora apenas em estado de crisálida, está contido o pensamento: Tudo é um.
NIETZSCHE. F. Crítica moderna. In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural. 1999
O que, de acordo com Nietzsche, caracteriza o surgimento da filosofia entre os gregos?
a) O impulso para transformar, mediante justificativas, os elementos sensíveis em verdades racionais.   
b) O desejo de explicar, usando metáforas, a origem dos seres e das coisas.   
c) A necessidade de buscar, de forma racional, a causa primeira das coisas existentes.   
d) A ambição de expor, de maneira metódica, as diferenças entre as coisas.   
e) A tentativa de justificar, a partir de elementos empíricos, o que existe no real.   
  
5. (Uema 2015)  Leia a letra da canção a seguir.
Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará
A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito
Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo [...]
Fonte: SANTOS, Lulu; MOTTA, Nelson. Como uma onda. In: Álbum MTV ao vivo. Rio de Janeiro: Sony-BMG, 2004.
Da mesma forma como canta o poeta contemporâneo, que vê a realidade passando como uma onda, assim também pensaram os primeiros filósofos conhecidos como Pré-socráticos que denominavam a realidade de physis. A característica dessa realidade representada, também, na música de Lulu Santos é o(a)
a) fluxo.   
b) estática.   
c) infinitude.   
d) desordem.   
e) multiplicidade.   

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Leia o texto a seguir e responda à(s) próxima(s) questão(ões).
De onde vem o mundo? De onde vem o universo? Tudo o que existe tem que ter um começo. Portanto, em algum momento, o universo também tinha de ter surgido a partir de uma outra coisa. Mas, se o universo de repente tivesse surgido de alguma outra coisa, então essa outra coisa também devia ter surgido de alguma outra coisa algum dia. Sofia entendeu que só tinha transferido o problema de lugar. Afinal de contas, algum dia, alguma coisa tinha de ter surgido do nada. Existe uma substância básica a partir da qual tudo é feito? A grande questão para os primeiros filósofos não era saber como tudo surgiu do nada. O que os instigava era saber como a água podia se transformar em peixes vivos, ou como a terra sem vida podia se transformar em árvores frondosas ou flores multicoloridas.
Adaptado de: GAARDER, J. O Mundo de Sofia. Trad. de João Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p.43-44.

6. (Uel 2015)  Com base no texto e nos conhecimentos sobre o surgimento da filosofia, assinale a alternativa correta.
a) Os pensadores pré-socráticos explicavam os fenômenos e as transformações da natureza e porque a vida é como é, tendo como limitador e princípio de verdade irrefutável as histórias contadas acerca do mundo dos deuses.   
b) Os primeiros filósofos da natureza tinham a convicção de que havia alguma substância básica, uma causa oculta, que estava por trás de todas as transformações na natureza e, a partir da observação, buscavam descobrir leis naturais que fossem eternas.   
c) Os teóricos da natureza que desenvolveram seus sistemas de pensamento por volta do século VI a.C. partiram da ideia unânime de que a água era o princípio original do mundo por sua enorme capacidade de transformação.   
d) A filosofia da natureza nascente adotou a imagem homérica do mundo e reforçou o antropomorfismo do mundo dos deuses em detrimento de uma explicação natural e regular acerca dos primeiros princípios que originam todas as coisas.   
e) Para os pensadores jônicos da natureza, Tales, Anaxímenes e Heráclito, há um princípio originário único denominado o ilimitado, que é a reprodução da aparência sensível que os olhos humanos podem observar no nascimento e na degeneração das coisas.   
  
7. (Unimontes 2013)  Segundo a tradição, Heráclito, também chamado “o obscuro”, era um homem reservado e de poucas palavras. Seu “riso” fora interpretado por muitos. Padre Antônio Vieira foi um desses intérpretes e, segundo ele,
a) Heráclito ria das ignorâncias humanas.   
b) Heráclito ria das loucuras humanas.   
c) Heráclito ria das travessuras humanas.   
d) Heráclito ria das misérias humanas.   


Resp. 1: Demócrito é considerado um dos pensadores pré-socráticos, que, em linhas gerais, buscavam compreender a natureza e sua origem. Para ele, a origem das coisas está no átomo, o menor e indivisível elemento dos entes.  [E]

Resp. 2: Pode-se dizer que os pré-socráticos tinham em comum uma preocupação em compreender os fenômenos naturais ou cosmológicos, desenvolvendo reflexões sobre a natureza e sobre as coisas.  [A]

Resp. 3: Heráclito e Parmênides apresentam visões opostas sobre uma mesma questão: “o que é o ser?”. Enquanto o primeiro defende a volatilidade, o segundo afirma a imutabilidade. Tal questionamento ontológico é a base das discussões pré-socráticas, ainda que as respostas para essa pergunta sejam diversas. [C]

Resp. 4: Pode-se dizer que a filosofia grega, em seu início, esteve preocupada com a origem das coisas, em especial da natureza. É essa uma das características que Nietzsche diagnostica e que está bem destacada na afirmativa [C].  [C]

Resp. 5: Os filósofos Pré-socráticos eram conhecidos como os pensadores da “physis” (natureza), pois tentavam encontrar na própria realidade o “arché” (princípio) que lhes permitisse formular explicações pela qual pudessem compreender a mutabilidade observada na realidade. Assim para alguns destes pensadores a natureza é um fluxo constante que esta sempre em transformação.
Assim como na música de Lulu Santos a mutabilidade, a transformação, o fluxo se expressa nas passagens: “Nada do que foi será/ De novo do jeito que já foi um dia [...]” e “Tudo que se vê não é/ Igual ao que a gente/ Viu há um segundo/ Tudo muda o tempo todo/ No mundo [...]”.
Filósofos que corroboram estas teses são: Tales de Mileto que afirmava que a água era o princípio da realidade, pois estava em constante fluxo; Anaxímenes que afirmava que o ar era o princípio vital, pois estava em constante movimento; e Heráclito que colocava o fogo como elemento central, pois ele representava transformação constante de realidade.
Em relação às demais as concepções expressas nas alternativas restantes: a estática era defendida por Zenão: a infinitude era defendida por Anaximandro, a desordem era defendida por Empédocles e a multiplicidade era defendida por Empédocles. Estas concepções não se relacionavam com o conceito de mutabilidade. [A]

Resp. 6: Os filósofos pré-socráticos representam uma mudança no pensamento grego por serem os primeiros a buscarem explicações sobre a origem do universo (cosmos) e da natureza (phisys) por meio do discurso racional (logos), sem apelar para o recurso mítico. Em suas elaborações buscavam determinar um princípio unificador (arché) que pudesse servir de referencial básico para alicerçar suas teorias. Eles desenvolveram suas teorias em diferentes localidades ao longo de toda a Grécia (Samos, Mileto, Efeso), construindo diferentes escolas que defendiam diferentes princípios explicativos. Não havia uma unificação no pensamento.
Por exemplo, Tales de Mileto tinha como arché a água, a fim de demonstrar a mutabilidade da realidade. Anaxímenes, mesmo sendo de Mileto, definia como arché o ar. Já Heráclito definia como arché o fogo. O princípio do ilimitado foi criado por Anaximandro e é conhecido como ápeiron, representa aquilo que une as coisas, mas não possui materialidade. Assim para Tales, Anaxímenes e Heráclito, o arché é uma transformação da matéria e o ápeiron é a geração a partir do indefinido. A alternativa [B] é a única que esta de acordo com as características e teorias referentes aos filósofos pré-socráticos.  [B]

Resp. 7: A questão está errada ao dizer que Heráclito teve o seu “riso” interpretado pelo Padre Antônio Vieira. O padre dos grandes sermões interpretou o choro de Heráclito, e o interpretou como uma postura superior a de Demócrito, este, sim, o filósofo que ri. A citação a seguir – que poderia servir de referência no enunciado – esclarece:
“Como nem todas as misérias são ignorâncias e todas as ignorâncias são misérias, e as maiores misérias, muito maior matéria e muito maior razão tinha Heráclito de chorar, que Demócrito de rir, antes digo, que só Heráclito tinha toda a razão e Demócrito nenhuma. Todas as misérias humanas eram o assunto de Heráclito e o de Demócrito só uma parte delas; e como toda a miséria é causa da dor, e nenhuma dor pode ser causa do riso, o riso de Demócrito não tinha causa, nem motivo algum que o justificasse”.
(Antônio Vieira. As lágrimas de Heráclito. São Paulo: Ed. 34, 2001, p. 125) [D]

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