domingo, 3 de junho de 2018

FILOSOFIA DO PAN-HELENISMO (III a. C. – III d. C.)


Por: Claudio Fernando Ramos, 10/08/2013. Cacau “:¬)

I- OBSERVAÇÕES GERAIS:

A) OS MACEDÔNIOS - A conquista da Grécia pelos macedônios (322 a. C.).

B) OS IMPERADORES - Império de Filipe e Alexandre Magno pelo “mundo” da época: sul da Europa, norte da África e o Oriente Próximo.

C) O IMPÉRIO - Processo de interação entre a cultura grega clássica e a cultura dos povos orientais conquistados.


D) O FIM DAS PÓLEIS - Com o fim das póleis (cidades-estados), deixa-se a vida pública pela vida privada. As preocupações coletivas, próprias das póleis, cedem lugar às preocupações individuais.

E) FILOSOFIA DA FELICIDADE - As principais correntes filosóficas desses períodos  tratam da intimidade e da vida interior do homem: “arte de viver”, “filosofia da vida”, “viva oculto”, “viver sem perturbações”...
  
F) O COSMOPOLITISMO - Surgimento do ideal cosmopolita: a cidade e o cidadão do mundo.

G) DA GRÉCIA ATÉ ROMA - Tendo surgido no período do Império Grego, as concepções das escolas do Pan-Helenismo chegou ao esplendor do Império Romano.

AS PRINCIPAIS ESCOLAS DO PERÍODO
(Cinismo, Epicurismo, Estoicismo e Ceticismo)

II - ESCOLA EPICURISTA

A) ÉPICURO - Fundada por Epicuro de Samos (341-270 a. C.).

B) MATERIALISMO - Epicuro era um atomista/materialista, adepto da filosofia de Demócrito de Abdera (460-370 a. C.) que, juntamente com Leucipo, foram os pais da teoria atômica. Diziam eles: tudo o que há são os átomos e o vazio.

C) SEMI-ATEÍSMO - Epicuro era semi-ateu, afirmava que os deuses existem, mas que não se importam com o homem e suas práticas diárias.

D) HEDONISMO - Propagador do hedonismo, do grego hedoné = prazer, filosofia que distingue o prazer como soberano bem. O homem foge da dor e busca o prazer, porém há que se diferenciar prazeres de prazeres. Há prazeres mais duradouros, os que encantam o espírito (boa música, boa gastronomia, boa conversação, etc.), e os imediatos (movidos pela explosão das paixões), que quase sempre resulta em dor e sofrimento.

E) AS NECESSIDADES - Epicuro distingue três tipos de necessidades:

·         Necessidades naturais e essenciais – devem ser saciadas sempre. Exemplo: fome, sede, sono.

·         Necessidades naturais e não essenciais – devem ser buscadas com moderação. Exemplo: comer bem, conforto, sexo.

·         Necessidades não naturais nem essenciais – devem ser desprezadas. Exemplo: glória, sucesso, riqueza, beleza.

F) ATARAXIA - Busca-se a ataraxia, do grego a (prefixo de negação) e taraxia = perturbação, agitação. Portanto, imperturbabilidade, serenidade; qualidades típicas do sábio.

G) LIBERTAÇÃO - Epicuro tinha como objetivo promover a libertação do homem de três grandes temores:

·         O medo da dor – os grandes navegadores devem sua reputação aos temporais e tempestades.

·         O medo da morte - acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência clara de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efêmera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de imortalidade.

·         O medo dos deuses - os deuses de fato existem e é evidente o conhecimento que temos deles; já a imagem que deles faz a maioria das pessoas, essa não existe: as pessoas não costumam preservar a noção que têm dos deuses. Ímpio não é quem rejeita os deuses em que a maioria crê, mas sim quem atribui aos deuses os falsos juízos dessa maioria. Com efeito, os juízos do povo a respeito dos deuses não se baseiam em noções inatas, mas em opiniões falsas. Daí a crença de que eles causam os maiores malefícios aos maus e os maiores benefícios aos bons. Irmanados pelas suas próprias virtudes, eles só aceitam a convivência com os seus semelhantes e consideram estranho tudo que seja diferente deles.

III. Escola Estoica

A) Fundador - Zenão de Cítio (336-264 a. C.) originário da ilha de Chipre, embora vivesse em Atenas.

B) Significado - do grego stoá = pórtico, por não poder adquirir propriedade em Atenas (era meteco = estrangeiro), Zenão reunia-se com seus discípulos em uma estoá, ou seja, nos pórtico de prédios que formavam uma galeria com colunas.
 
C) Importância – o estoicismo foi a escola de maior influência em sua época, juntamente com o epicurismo.


D) Universo Racional - toda realidade existente é uma realidade racional, tudo e todos fazem parte dessa realidade.

E) Panteísmo - deus nada mais é do que a fonte de todos os princípios que regem a natureza.
·         A natureza encontra-se impregnada da razão divina.
·         Deus também é corpo, porém o mais puro dos corpos, perfeito e inteligente.
·         Por intermédio de deus se dá o ordenamento do mundo, que está submetido ao destino.

F) Atomismo - integrados nesse mundo não existe para o ser humano nenhum lugar para ir ou fugir além dessa realidade.
·         Somos desse mundo e ao morrermos aqui mesmo seremos dissolvidos.
 
G) O que não tem remédio - não dispomos de poderes para alterar, substancialmente, a ordem universal das coisas (o que não tem solução, solucionado está).
·         Porém, pela filosofia (uma vez que somos racionais e a natureza também) podemos compreender a ordem universal e vivermos segundo ela (destino).
·         A melhor maneira de conservar o seu ser é andar em harmonia com a natureza e consigo mesmo (Aceita que dói menos).

H) Menos prazer, mais dever - não é o prazer (hedonismo) que há de promover a felicidade do homem, mas sim o dever (a compreensão como melhor caminho para felicidade).

I) Ataraxia - além da ataraxia (imperturbabilidade) os estoicos também propunham a apatia (ausência de paixões), como forma de ser feliz. 
 

J) Ética - o estoicismo, no plano ético, defendiam uma atitude de austeridade física e moral:
·         Virtude – como resistência ao sofrimento.
·         Coragem – demonstrar coragem ante o perigo.
·         Apatia – demonstrar indiferença ante as riquezas materiais.

OBS: Há aqui a necessidade de esclarecer que sistematicamente a ética estoica é enunciada de acordo com a física, quer dizer, dado que o estoicismo constrói uma física da causalidade necessária (as leis da natureza são necessárias e de certo evento ocorrerá uma consequência inevitável), a ética lida com a ideia de destino e, por conseguinte, não há contingência caso um evento seja, e se faça, sempre verdadeiro. Isto estabelecido, temos:

“De acordo com Diógenes de Laércio, os estoicos distinguiam na ética, enquanto parte da filosofia, “lugares” ou objetos de estudos: o impulso ou tendência, hormé; os bens e males; as paixões, páthé; a virtude, areté; o sumo bem, télos; as ações; as condutas convenientes, kathekonta; e o que convém aconselhar ou impedir. A ética é elaborada em dois movimentos: um que vai da psicologia da tendência aos valores (bem e mal) que orientam positiva ou negativamente as ações, passa pelas perturbações que podem afetá-las (paixões) e chega à perfeição (virtude, bem) e às especificações concretas ações morais (convenientes); e outro, que vai do ideal do sábio às especificações concretas de conduta e à pedagogia moral.

Toda ação ética é orientada por um fim único (télos), em vista do qual todo o resto é meio ou fim parcial. O fim último é a felicidade (eudaimonía) daquele que vive bem porque realiza plenamente sua natureza. Os estoicos consideram que a virtude basta para a felicidade, da qual ela é a causa, mas não é ela o télos ou o sumo bem, que é viver em conformidade (homología) com a natureza, isto é, consigo mesmo e com o mundo. A infelicidade, portanto, é o desacordo ou o conflito consigo mesmo e com a natureza”.

(M. Chaui. Introdução à história da filosofia: as escolas helenísticas, vol. II. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 156)


 

L) Estoicos proeminentes - Zenão de Cítio, fundador da escola estoica.
·         Lúcio Aneu Sêneca (4 a. C. – 65 d. C.) - político e conselheiro do Imperador Claudio Nero.
·         Marco Aurélio (121 – 161 d. C.) - imperado Romano.  


IV - Escola Cética

A) Fundador - Pirro de Élida (cerca de 360 – cerca de 270 a. C.).
·         Escola também conhecida como Pirronista.

B) Comitiva de Alexandre - Pirro acompanhou o Imperador Alexandre Magno em suas expedições de conquista.
·         Pirro pode, como fazem todos os céticos, comparar e confrontar a diversidades de convicções, bem como as filosofias contraditórias. 
 

C) Epoché - para os céticos, a atitude correta do sábio deve ser a de promover a suspensão de todo e qualquer juízo sobre os fenômenos. 
 

D) Ataraxia - a aceitação serena de não se poder discernir o verdadeiro do falso, acaba por promover a felicidade do homem.
·         Uma vida sem perturbações – ataraxia. 
 

E) Saber que não se sabe - aspectos do “saber”:
·         Aspecto Epistemológico – não é possível o conhecimento no sentido absoluto da verdade.
·         Aspecto Ético – já que tudo é incerto e fugaz, aqueles que se prendem a verdades indiscutíveis estão fadados à infelicidade.

V - Escola Cínica
 
A) Fundador -cinismo foi uma corrente filosófica fundada por Antístenes 445-365 a. C.
·         Antístenes foi discípulo de Sócrates.

B) Propósito da vida - para os cínicos, o propósito da vida era viver na virtude, de acordo com a natureza.

C) Destaque - o mais proeminente propagador do cinismo foi Diógenes de Sinope (c. 400 a. C. – c. 325 a. C.). 
 
D) Significado literal - a expressão cínico vem do grego kynicos = como um cão.

E) Concepções filosóficas - tudo o que é natural pode e deve ser feito em público.
·         Semelhantemente à vida amoral dos cães.

F) Ética – os praticantes do cinismo levaram a ética de Sócrates ao seu ponto mais extremo.
·         Viviam desprovidos de bens e indiferentes às convencionalidade sociais (ataraxia/apatia). 
 

G) Folclore – sobre a vida de Diógenes sobrevive uma série de anedotas e folclores.
·         Sarcasmo - andava com uma lanterna nas mãos pelas ruas de Atenas à procura de um homem que fosse justo (a ideia de homem de Platão).

·         Simplicidade - vivia em um tonel (barril) e fazia suas necessidades em público.

·         Humildade - agiu com indiferença diante da figura do poderoso Imperador Alexandre, não levando em consideração suas ofertas.

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