O ANIMAL DA PHYSIS OU
O HUMANO DO NOMOS?
A Educação Formal reúne, ao menos teoricamente, o que há de “melhor” em tudo que o homem foi capaz de imaginar, refletir e produzir ao longo de toda a sua existência. Nessa reunião não há uma hegemonia das formas e conteúdos, às vezes ela se dá de forma mais cartesiana, às vezes de forma mais fenomenológica; às vezes o ceticismo é a palavra de ordem; às vezes o dogmatismo é o prato do dia. O fato é que o homem, no que diz respeito ao saber acumulado ao longo dos séculos, vem provando mudanças significativas em sua maneira de ver, sentir e lidar consigo mesmo, com os outros e com as coisas ao seu redor.
A
escola (Educação Formal), fiel depositária de muito do que o homem se mostrou
capaz ao longo de sua construção enquanto humano, vem amargando perdas e
fracassos irreversíveis no que tange ao seu papel de instituição capacitada e
capacitadora. Alguém já disse que palavra dita, flexa lançada e oportunidade
perdida não retornam; ao menos não da mesma forma que a anterior.
As
pessoas, de forma genérica, dizem enfaticamente que a culpa é do governo;
entendo essa expressão como uma débil tentativa de substituir, quer seja por ignorância
ou por conveniência, outra expressão igualmente genérica, ou seja, a culpa é do
Estado. Se sabemos que a culpa é do Estado, saberíamos igualmente responder
quem é o Estado? Do que é feito? Por quem é formado? Acho que ao menos de uma
coisa todos temos ciência: nesse assunto não há inocentes!
É
notório e de longa data que a Educação Formal vem sofrendo reveses sucessivos.
No entanto, essas perdas seriam menos desastrosas se uma outra educação fosse ressuscitada
de seu infindável marasmo sepulcral; refiro-me a tão necessária, mas
infelizmente tão ausente, Educação Informal. Por Educação Informal entendemos a
atuação das inúmeras instâncias que atual, com um certo grau de autonomia, no
interior da sociedade; principalmente a Instituição Familiar e a Religiosa.
Nesse
país não se pode falar sobre muitas coisas; pelo menos não de forma séria e
oficial. Posso aqui elencar algumas delas, conhecidas como temas capciosos: suicídio,
controle de natalidade, planejamento familiar, descriminalização do aborto (não
confundam com legalização do aborto), etc. A grande mídia, sempre atenta aos
vultosos lucros advindos do consumismo, tenta evitar polêmicas; mas quando isso
não é possível, reúne um grupo de artistas famosos (quase sempre
desqualificados para os grandes debates) e volta sempre ao lugar comum, ou
seja, a situação dos negros e pardos, os direitos das mulheres e dos gays, o
uso das drogas, a vida abaixo da linha de pobreza e, no final do ano, tudo termina
bem com uma mensagem de “hoje é um novo dia e um novo tempo...”. Sabemos que os
últimos temas arrolados aqui são tão importantes quanto os primeiros; mas não é
essa a questão, a questão é: por que evitamos os primeiros?
Quando
um problema é grande demais é coerente que se comece o enfrentamento do simples
para o complexo, da parte para o todo. Por isso, todas às vezes que vejo alguém
abrindo o vidro do carro - hoje vi isso sendo praticado por um homem muito bem
vestido que guiava um luxuoso Toyota 2018 - e jogando um saco plástico no
meio-fio, não só percebo que é importante pensar em qual país isso ocorre
(Estado/Governo), é também indispensável arqui se a ele foi permitido
frequentar um colégio (Educação Formal) e, principalmente, devemos ponderar sob
a égide de qual Educação Informal ele foi e/ou é criado!
Como
podemos perceber, as instâncias menores, as micro sociedades (principalmente a Família
e a Religião) independente do descrédito e assédio que sofrem interna e
externamente na chamada pós-modernidade, sempre tiveram e terão importâncias
decisivas nas constituição e consolidação de uma nação mais educada, mais
progressiva e, acima de tudo, mais humanizada.
É
bem verdade que a Educação Formal agoniza de fracasso em fracasso, mas ainda
não deu o seu derradeiro suspiro (lutaremos para que isso não aconteça); mas se
um dia isso vier a ocorrer, é bom que se saiba: todas as outras instâncias que
não faleceram antes dela morreram logo em seguida! O homem da Physis (natureza)
não passa de um animal, portanto não ultrapassa os limites das próprias
necessidades instintivas; só o homem do nomos (normas, leis, sociedade, cultura)
é capaz de construir humanidade! Cacau “:¬)
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