Por: Claudio Fernando Ramos, 30/03/2019. Cacau “:¬)
A
filosofia, enquanto forma de investigação racional, lógica, sistêmica e metodológica
da existência, busca refletir sobre todas as formar de “verdades”, certezas e
conhecimentos humanos, desde Tales de Mileto até os dias atuais. A intenção, como
diria Platão, é a de identificar Episteme
e Dóxa, ou seja, saber definir o que
é ciência, separando-a de outras formas duvidosas de entendimento: senso comum,
crenças, hipóteses, opiniões, insanidades.
Por
falar em insanidade, não é novidade que, ao longo dos anos, alguns extremistas
fundamentalistas (tanto de direita quanto de esquerda) afirmam que não houve
holocausto na Alemanha nazista, e que isso tudo não passa de propaganda judaica
hollywoodiana.
Também
não constitui novidade alguma que os escravistas católicos, na América Latina,
e os escravistas protestantes, na América Saxônica, buscaram justificar suas
barbáries com argumentos teológicos e evolucionistas: a maldição de um dos
filhos de Noé; a catequização dos selvagens e o darwinismo social dos europeus...
Para eles, os algozes, não há, nem nunca houve vítimas, apenas probabilidades,
necessidades, causalidades.
Hoje
ouço, infelizmente sem espanto algum, um militar na presidência da república
negar a ditadura civil-militar que vigorou no Brasil por mais de duas décadas; e,
como se isso fosse coisa de somenos, o mesmo promove a comemoração e/ou
lembrança da data nos quartéis e espaços militarizados do país (1 abril 1964 –
15 março 1985). Afinal, segundo o nosso líder maior, só há democracia se os
militares quiserem (não foi bem isso o que ele quis dizer, defenderam alguns a
posteriori).
Esse
fato isolado é, por si só, uma lástima; mas, em se tratando de Brasil, as coisas
sempre podem piorar. Digo isso porque o Senhor Ernesto Araújo (membro da
chancelaria brasileira), em uma determinada entrevista, afirmou que o nazismo
alemão e o fascismo italiano não foram movimentos da extrema direita, mas sim
movimentos da esquerda...
É
de lascar mesmo um negócio desse! “Hi, cumpricô”, diria estupefato o imigrante
japonês.
Para
um governo que se diz livre do “viés ideológico”, percebo uma poderosa e
perigosa ideologia: a ideologia de não se
ter ideologia (a ideologia da ideologia)!
Quem
disse que flamenguistas precisam amar os tricolores? Não precisam!
Quem
disse que cariocas precisam exaltar paulistanos? Não precisam!
Quem
disse que evangélicos precisam cultuar da mesma forma e nos mesmos espaços que
os católicos? Não precisam!
Quem
disse que esquerdistas precisam votar/concordar com direitistas? Não precisam!
Mas,
odiar por odiar uma torcida, desprezar por desprezar um povo, demonizar por
demonizar uma crença e culpar por culpar uma ideologia, não vai conduzir ao triunfo
nenhuma nação no mundo!
A
esquerda fez e faz mal a esse país tanto quanto a direita!
Se
a esquerda governou por quase duas décadas, e nada fez do qual possamos nos
orgulhar ao longo prazo, o que não dizer sobre a direita que sempre esteve no poder
(mesmo quando a esquerda governava, veja o MDB, partido do Temer, a raposa
astuta)?
E
quanto aos militares que governaram por duas décadas inteiras (só os néscios e
os militarizados defendem esse período; aqueles por não saberem diferenciar
qualquer coisa de todas as coisas e estes por interesses particulares)?
No
último carnaval a Mangueira, a famosa escola de samba do grupo especial da
cidade do Rio de Janeiro, venceu o carnaval carioca questionando as verdades, certezas
e os fundamentos da história e dos historiadores do Brasil. De forma crítica e
sátira, os nossos imponentes heróis, apareceram na comissão de frente como
anões, quando vistos sem o “viés” ufanista dos historiadores.
Penso
que a ousadia desbanalizadora dos carnavalescos acabou por contaminar o líder
do governo e alguns dos seus liderados; no entanto, essa contaminação não caminha
no mesmo sentido proposto pela escola de samba. Enquanto a escola deseja
resgatar os personagens esquecidos da história, o governo e seus autômatos,
vitimados por uma miopia histórica, tentam insensatamente descaracterizar a
lógica, o bom senso, os fatos, a coerência e a boa e necessária sanidade mental
de cada um! Cacau “:¬)
Boa noite, professor.
ResponderExcluirObrigado por outro excelente texto. Por sinal, o senhor tem de escrever mais frequentemente quando for possível.
Tem uma coisa que eu não concordo com o senhor neste texto em específico, a suposta aceitação da Igreja Catolica para com a escravidão, coisa que até onde sei foi apenas tolerado entre algumas das 300 milhões de denominações protestantes que existem e se espalharam/espalham durante a história do mundo - perdendo apenas em níveis de confusão e desentendimento ao islã atualmente no Oriente Médio. Amanhã mesmo mando alguns textos que li a respeito do assunto e que são de boas fontes.
Abraço.
Do seu aluno Juan, do 1 B HC.
PS: o senhor já leu Chesterton? Sempre tento recomendar esse escritor para você, mas quase sempre suas aulas acabam um pouco mais tarde que o comum porque você adentra de cabeça nos conteúdos administrados, e aí nao dá tempo de falar.