AS
MÚLTIPLAS FORMAS DE CONHECER:
ARTE,
MITOLOGIA, FILOSOFIA, CIÊNCIA E SENSO COMUM
INTRODUÇÃO
- As Formas: a Arte, a Mitologia, a Filosofia, a Ciência
e o Senso Comum são formas de conhecer o mundo.
- A Legitimação: todos eles, citados anteriormente,
são formas de conhecimento, pois cada um, a seu modo, desvenda os segredos do
mundo, explicando-o ou atribuindo-lhe um sentido.
- A Variável: como já foi dito, há muitos modos de se
conhecer o mundo, no entanto, isso vai sempre depender significativamente da
seguinte variável:
A) a situação do sujeito diante do objeto do
conhecimento.
- O Exemplo: Ao olhar as estrelas no céu noturno, um índio
caiapó as enxerga a partir de um ponto de vista bastante diferente do de um
cientista.
·
O caiapó - vê nas estrelas as fogueiras que alguns de
seus deuses acendem no céu para tornar a noite mais clara.
·
O cientista - vê astros que têm luz própria e que formam
uma galáxia.
·
O caiapó - compreende e conhece as estrelas a partir de
um ponto de vista mitológico ou religioso.
·
O cientista - as compreende e conhece a partir de um ponto
de vista científico.
1 - A ARTE
- O valor e importância da sensibilidade: O conhecimento
proporcionado pela arte não nos dá o conhecimento objetivo de uma coisa
qualquer, mas o de um modo particular de compreendê-la, um modo que traduz a
sensibilidade do artista.
- Quando o qualitativo diz mais que o quantitativo: O conhecimento artístico
trata-se de um conhecimento produzido pelo sujeito e pela subjetividade.
- Exemplo: Soneto do poeta baiano Gregório de Matos, no
qual ele dá a sua "visão" do braço de uma imagem do Menino Jesus que
havia sido quebrada por holandeses protestantes, quando da invasão da cidade de
Salvador.
O todo sem a parte
não é todo;
A parte sem o todo
não é parte;
Mas se a parte o faz
todo, sendo parte,
Não se diga que é
parte, sendo o todo.
Em todo sacramento
está Deus todo,
E todo assiste
inteiro em qualquer parte,
E feito em partes
todo em toda a parte
Em qualquer parte
sempre fica todo.
O braço de Jesus não
seja parte,
Pois que feito Jesus
em partes todo,
Assiste cada parte em
sua parte.
Não se sabendo parte
deste todo,
Um braço que lhe
acharam, sendo parte,
Nos diz as partes
todas deste todo.
2 - O MITO (RELIGIÃO)
- O argumento da transcendência: O mito proporciona
um conhecimento que explica o mundo a partir da ação de entidades (forças, energias,
criaturas, personagens) que estão além do mundo natural, que o transcendem.
- A força do inexplicável: Mitos e religiões apresentam
uma explicação sobrenatural, mágica, fantástica para o mundo.
- A fé como fundamento principal: É uma parte
fundamental da crença religiosa a fé em que essa explicação sobrenatural
proporciona ao homem uma garantia de salvação, bem como prescreve maneiras ou técnicas
de obter e conservar essa garantia, que são os ritos, os sacramentos e as
orações.
- A ausência da evidência não é o mesmo que evidência da ausência: Em matéria de provas
objetivas, se a religião não tem como provar a existência de Deus, a ciência
também não tem como provar a Sua inexistência.
- Exemplo I: Se é verdade que não
podemos provar que Deus existe, tampouco, podemos provar o seu contrário!
Certa vez, um
cosmonauta e um neurologista russos discutiam sobre religião. O neurologista
era cristão, e o cosmonauta não. “Já estive várias vezes no espaço”, gabou-se o
cosmonauta, “e nunca vi nem Deus, nem anjos”. “E eu já operei muitos cérebros
inteligentes”, respondeu o neurologista, “e também nunca vi um pensamento”.
O mundo de Sofia, Jostein Gaardner, Cia. das Letras, 1995
- Exemplo 2: O mito através do
qual os antigos gregos explicavam a origem do mundo:
No princípio era o
Caos, o Vazio primordial, vasto abismo insondável, como um imenso mar, denso e
profundo, onde nada podia existir. Dessa oca imensidão sem onde nem quando, de
um modo inexplicável e incompreensível, emergiram a Noite negra e a Morte
impenetrável. Da muda união desses dois entes tenebrosos, no leito infinito do
vácuo, nasceu uma entidade de natureza oposta à deles, o Amor, que surgiu
cintilando dentro de um ovo incandescente. Ao ser posto no regaço do Caos, sua
casca resfriou e se partiu em duas metades que se transformaram no Céu e na
Terra, casal que jazia no espaço, espiando-se em deslumbramento mútuo,
empapuçados de amor. Então, o Céu cobriu e fecundou a Terra, fazendo-a gerar
muitos filhos que passaram a habitar o vasto corpo da própria mãe, aconchegante
e hospitaleiro.
3 - A FILOSOFIA
- Filosofia, proveito e poder humano: Para Platão, a
filosofia é o uso do saber em proveito do homem; Bacon fala em poder.
- O conhecimento só tem início: A filosofia implica
a posse ou aquisição de um conhecimento que seja, ao mesmo tempo, o mais válido
e o mais amplo possível.
- O incansável trabalho da filosofia: A filosofia toma
para si a árdua tarefa de debater problemas ou especular sobre problemas que
ainda não estão abertos aos métodos científicos: o bem e o mal, o belo e o
feio, a ordem e a liberdade, a vida e a morte.
- Ciência: filha da filosofia: A ciência e o
pensamento científico se originaram com a filosofia na Grécia da Antiguidade.
- A autonomia das disciplinas: Com o passar do
tempo, certas áreas da especulação filosófica, como a matemática, a física e a
biologia ganharam tal especificidade que se separaram da filosofia (psicologia,
sociologia, antropologia etc.).
- Áreas da filosofia:
·
Lógica: que estuda o método ideal de pensar e
investigar.
·
Metafísica: que estuda a natureza do Ser (ontologia), da
mente (psicologia filosófica) e das relações entre a mente e o ser no processo do
conhecimento (epistemologia).
·
Ética: que estuda o Bem, o comportamento ideal para
o ser humano.
·
Política: que estuda a organização social do homem.
·
Estética: que estuda a beleza e que pode ser chamada
de filosofia da Arte.
·
Teoria do Conhecimento: investigação a cerca
do conhecimento verdadeiro.
·
Filosofia da linguagem: estuda a essência e
natureza dos fenômenos linguísticos.
- Exemplo: Algumas formas de conceituar a filosofia.
·
Desabituar o olhar: Filosofia é a desbanalização do
banal.
·
Reconhecer a própria ignorância: Filosofar é
espantar-se.
·
Só se filosofa, filosofando: Não se ensina
filosofia, mas sim a pensar filosoficamente.
·
Autoanálise: Conhece-te a ti mesmo.
4 - A CIÊNCIA
- O que é ou como é? A ciência procura
descobrir como a natureza "funciona", considerando, principalmente,
as relações de causa e efeito.
- A hora e a vez do quantitativo: A ciência pretende
buscar o conhecimento objetivo, isto é, que se baseia nas características do
objeto, com interferência mínima do sujeito.
- Metodologia válida: Quando se fala em
"mínima interferência do sujeito", quer se dizer que a o saber deve
seguir caminhos (metodologia) válidos, independentemente do estudioso que a
formulou.
- Entre o dogma e o relativismo: A definição
tradicional de ciência pressupõe que ela seja um modo de conhecimento com
absoluta garantia de validade. A ciência moderna já não tem a pretensão ao
absoluto, mas ao máximo grau de certeza.
- Ciências aplicadas: A aplicação da
ciência resulta na tecnologia, ou no conhecimento tecnológico.
- A Ciência e suas “garantias” de validade:
·
Descrição - Descrever um fenômeno qualquer com bases em
metodologias científicas.
·
Demonstração - Um teorema matemático qualquer.
·
Corrigibilidade - Possibilidade de corrigir noções e
conceitos, a partir dos avanços da própria ciência.
- Exemplo: uma descrição científica:
O coração é um
músculo oco, em forma de cone achatado com a base virada para cima e a ponta
voltada para baixo, do tamanho aproximado de um punho fechado. O músculo
cardíaco é chamado de miocárdio. Sua superfície interna é recoberta por uma
membrana delgada, o endocárdio. Sua superfície externa tem um invólucro
fibro-seroso, o pericárdio.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998
5 - O SENSO COMUM
- Opinião, uma velha conhecida: O senso comum ou
conhecimento espontâneo é a primeira compreensão do mundo, baseada na opinião,
que não inclui nenhuma garantia da própria validade.
- Opinião, filho das crenças: Para alguns
filósofos, o senso comum designa as crenças tradicionais do gênero humano,
aquilo em que a maioria dos homens acredita ou devem acreditar.
- A sabedoria nos ditos populares: A mais completa
tradução do venha ser o senso comum, talvez esteja nos ditados populares:
·
"Cada
cabeça, uma sentença."
·
"Quem
desdenha quer comprar."
·
"Quem
ri por último ri melhor."
·
"A
pressa é a inimiga da perfeição."
·
"Se
conselho fosse bom, não era dado de graça."
- Exemplo: o filósofo norte-americano, John Dewey, procura
refletir sobre o que é Senso Comum.
Visto que os
problemas e as indagações em torno do senso comum dizem respeito às interações
entre os seres vivos e o ambiente, com o fim de realizar objetos de uso e de
fruição, os símbolos empregados são determinados pela cultura corrente de um
grupo social. Eles formam um sistema, mas trata-se de um sistema de caráter
mais prático que intelectual. Esse sistema é constituído por tradições,
profissões, técnicas, interesses e instituições estabelecidas no grupo. As
significações que o compõem são efeito da linguagem cotidiana comum, com a qual
os membros do grupo se intercomunicam.
Lógica, VI, 6, J. Dewey
Texto base - https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/conhecer-o-mundo-mitologia-religiao-ciencia-filosofia-senso-comum.htm
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