domingo, 15 de outubro de 2023

SÖREN KIERKEGAARD (1813-1855)

O EXISTENCIALISMO CRISTÃO

Enquanto mundo capitalista preocupa-se com sistemas universais (determinismos biológicos/absolutização das formas e dos modos); o homem real claudica1 uma existência subordinada à leis sociais, regras morais e as crenças religiosas; uma vez que essas, na prática, são superiores as leis gerais. A filosofia deve, portanto, ocupar-se da existência humana e não da concepção idealizada de um improvável mundo ordenado!

<Claudio F Ramos – Reflexão inspirada no existencialismo de S. Kierkegaard>

1 - Claudicar - arrastar de uma perna; não ter firmeza em um dos pés; coxear, capengar.

Vídeo Aula

https://www.youtube.com/watch?v=lcnO6DlnKc4

INTRODUÇÃO

O presente resumo apresenta os três estágios da existência humana segundo Kierkegaard, e como a liberdade pode gerar angústia ao ser humano, e como a condição emocional da existência serve como apoio às ciências psicológicas de base existencialista.

FUNDADOR DO EXISTENCIALISMO

·         Sören Kierkegaard é antes de tudo: um dos fundadores da filosofia existencialista.

·         O conteúdo contido em seus escritos deu a base para a fundação da filosofia existencialista, influenciando também algumas escolas da Psicologia.

OBRAS

·         O conceito de Angústia; A Repetição; Temor e Tremor e O Desespero Humano.

CRÍTICA AO IDEALISMO HEGELIANO

·         Nascido em uma época em que os ideais difundidos e adotados eram os de Hegel, ele passa a discordar dessas ideias e a promover ataques contra o filósofo e a religião vigente.

SUBJETIVIDADES/PARTICULARIDADES

·         Suas obras existenciais não eram abordadas sob o ponto de vista universal, mas eram escritos acerca de suas experiências como ser existente, são frutos de suas próprias angústias.

O EXISTENCIALISMO DE KIERKEGAARD 

O HOMEM AUTOPOIÉTICO

·         O Existencialismo pode ser considerado como uma corrente teórica que se ancora no conceito de Autopoiese1, onde o ser humano tem a capacidade de produzir a si próprio.

·         O Existencialismo é uma reação contra as construções sistemáticas que anulavam o homem no meio das abstrações, despersonalizando-o.

1 - Autopoiese ou autopoiesis (do grego auto "próprio", poiesis "criação") é um termo criado na década de 1970 pelos biólogos e filósofos chilenos Francisco Varela e Humberto Maturana para designar a capacidade dos seres vivos de produzirem a si próprios. Segundo esta teoria, um ser vivo é um sistema autopoiético, caracterizado como uma rede fechada de produções moleculares (processos) em que as moléculas produzidas geram com suas interações a mesma rede de moléculas que as produziu. A conservação da autopoiese e da adaptação de um ser vivo ao seu meio são condições sistêmicas para a vida. Portanto, um sistema vivo, como sistema autônomo está constantemente se autoproduzindo, autorregulando, e sempre mantendo interações com o meio, onde este apenas desencadeia no ser vivo mudanças determinadas em sua própria estrutura, e não por um agente externo. A teoria Autopoiética tem sido aplicada em Imunologia, na interação homem computador, sociologia, economia, filosofia e administração pública. Definição Jurídica: é a ideia de um sistema jurídico fechado e autossuficiente, ou seja, que não sofre a influência de outros sistemas ou subsistemas, sendo capaz solucionar sozinho os conflitos que forem desencadeados em seu interior.

A EXISTÊNCIA EM TRÊS ESTÁGIOS

(Estética, Ética e Religião)

Estágio estético (hedonismo; consumo...)

·         A estética esta relacionada a uma busca desenfreada pelo prazer, sendo este um prazer momentâneo, que acaba se dissipando, deixando assim, o ser humano vazio de si.

·         Na contemporaneidade é possível observar que tal pensamento tem prevalecido, já estamos em uma sociedade capitalista, que visa o lucro, onde o ser humano se torna um consumidor em busca de uma performance que se adapte a esse sistema.

Estágio ético

·         No estágio ético o homem subordina-se às leis, sua existência é marcada pelos deveres que assumem, regras e uma legislação que os regem.

·         A maioria das pessoas que compõe esse estágio é identificada como tradicional.

·         O estágio estético é o inverso do ético, enquanto o primeiro usufrui do prazer, o segundo é submetido ao dever.

·         O padrão social ético choca com as questões sociais emergentes atuais. Como por exemplo, temos a disforia1 de gênero, no qual o indivíduo acredita que seu gênero é oposto ao com que nasceu.

1 - Disforia – em oposição a “euforia” termo designa desgosto, desajuste, ou desconforto; disforia de gênero é, portanto, desgosto, desajuste ou desconforto com o sexo biológico que tem sido responsável para o assunto.

Este conceito foi introduzido pelo psicólogo neozelandês John Money .

Estágio religioso 

·         No estágio religioso, deixa-se a ética e busca-se aproximação com a religião, o homem não é mais sujeito das leis universais, mas sim sujeita-se a sua crença.

·         Um clássico exemplo é o de Abraão e Isaac, apresentado na obra Coleção Os Pensadores, onde Kierkegaard discorre que a atitude de Abraão em se dispor a sacrificar seu filho, em nome de Deus, infringe as leis, de forma que passa do estado ético para o religioso, onde sua crença permite tal ato.

ANGÚSTIA: UMA VERTIGEM DA LIBERDADE

(Atração e Repulsa) 

O Grito, 1893. Munch descreveu assim a experiência que o levou a pintar a sua obra-prima:

«Caminhava eu com dois amigos pela estrada, então o sol pôs-se; de repente, o céu tornou-se vermelho como o sangue. Parei, apoiei-me no muro, inexplicavelmente cansado. Línguas de fogo e sangue estendiam-se sobre o fiorde preto-azulado. Os meus amigos continuaram a andar, enquanto eu ficava para trás tremendo de medo e senti o grito enorme, infinito, da natureza.»

·         De acordo com o Dicionário Michaells (2009), a angústia pode ser definida como um estado de exagerada aflição, ansiedade e sofrimento.

·         Oposto a esse conceito, Kierkegaard diz que tais sensações são apenas categorias que o ser humano vivencia, e a angústia deve ser entendida como sendo uma vertigem da liberdade, na qual existe uma ambiguidade gerada no fato do indivíduo sentir atração e repulsa por esta liberdade.

·         A angústia não é momentânea, não possui um objeto específico, e é tida como fundamental para que o homem adquira sua autonomia.

KIERKEGAARD E O CRISTIANISMO

(Pecado Original, Livre-Arbítrio e Angústia)

·         É perceptível a influência da religião sobre Kierkegaard, pois este apresenta a angústia como algo sempre presente na existência humana, sendo assim fruto do pecado original de Adão e Eva.

·         A desobediência a Deus (um ser transcendente), iniciou o livre arbítrio; a angústia surge pela liberdade absoluta.

·         Enquanto o homem ainda está em estado de inocência (ignorância), a angústia permanece latente, pois ele realiza atos espontaneamente e sem refletir sobre suas ações.

·         A partir do momento em que se depara numa situação que precisa exercer seu poder de escolha, a angústia vem à tona.

·         Este tem a possibilidade na escolha, entre o poder e o não poder, de modo que é autorresponsável pelas consequências das suas escolhas.

A ANGÚSTIA E SEUS TIPOS:

OBJETIVA E SUBJETIVA

Angústia objetiva

·         A angústia objetiva é entendida pela forma de como o pecado entrou no mundo.

Angústia subjetiva

·         A angústia subjetiva implica na inocência do ser, sendo semelhante ao caso de Adão.

A INEXORABILIDADE DO DESESPERO

·         O desespero é instaurado como o conflito entre o ser finito e a vontade da infinitude, por isso apresenta-se concomitantemente à angústia.

·         As pessoas sabem que a única certeza inevitável é a morte, porém fazem de tudo para evitar o envelhecimento (que é o nível de desenvolvimento mais próximo do fim).

·         A decepção mais comum é não podermos ser nós próprios, mas a forma mais profunda de decepção é escolhermos ser outro antes de nós próprios.

·         O homem possui certo medo de enfrentar suas próprias angústias, e como consequência, prefere deixar sua individualidade de lado, se integrando às massas sociais, adaptando suas características a elas, como meio de se sentir aceito pela própria sociedade somática e imagética.

·         O ser deixa o seu poder de criticidade para se submeter a um estilo de vida padronizado.

·         Quando se refere a uma sociedade imagética1, temos como principal característica a supervalorização da imagem, onde o ser humano tem se afastado de si, da sua subjetividade, e tem encaminhando-se para uma busca da perfeição do seu corpo, gerando ansiedade, frustração, promovendo adoecimento psíquico, a chamada somatização2.

1 – Imagética - que advém da imagem; construções literárias que possuem o perfeccionismo na construção da imagem como elemento principal da obra.

2 - Somatização - se refere a uma ou várias queixas físicas, que uma investigação adequada não revele existência de patologia orgânica ou mecanismo patofisiológico que expliquem a intensidade da queixa física. Geralmente é considerada resultado como resposta a um extremo sofrimento psicológico. A presença de somatizações não exclui o diagnóstico de outras doenças psiquiátricas, ocorrendo frequentemente em comorbidade (simultaneamente) com estes. Pacientes com transtornos psiquiátricos como depressão, transtorno de ansiedade ou algum transtorno de personalidade descrevem sintomas físicos além dos usados para diagnóstico do transtorno em 72% dos casos.

National Geographic

(Tabu: Cirurgias Plásticas)

Observa-se que o corpo, nesse contexto, é a única representação do sujeito e é a partir dele que se abrem as portas para a vida social. Em virtude disso, o número de cirurgias plásticas tem tomado uma proporção exorbitante. Inúmeros são os casos de homens e mulheres que se frustram e se tornam obsessivos na procura da perfeição do corpo, acreditando ser um tabu a existência de um corpo fora do padrão, ou seja, um corpo considerado esteticamente ideal e funcional. Tal procedimento é facilitado pelo uso de novas tecnologias aliadas às práticas médicas e estéticas, por isso, nessa conjuntura imagética, só é “feio” quem não se dispõe a esses tipos de mudanças.

SOCIEDADE:

COLETIVIDADE DA MEDICALIZAÇÃO

“[…], quanto mais se promete o ‘fim’ do sofrimento psíquico através da ingestão de pílulas, que nunca fazem mais do que suspender sintomas ou transformar uma personalidade, mais o sujeito, decepcionado, volta-se em seguida para tratamentos corporais.” (Roudinesco)

·         Para Kierkegaard, o ser humano não deve superar a angústia, mas sim aprender a viver com ela.

KIERKEGAARD E A PSICOLOGIA

(Conclusão) 

·         Kierkegaard não escreveu, em seus muitos livros, acerca do mundo, mas sim sobre si mesmo, sobre suas verdades, suas experiências, sejam elas de angústia ou desespero.

·         É a existência do próprio Kierkegaard, que dá relevância ao emocional, segundo Janzen e Holanda, que faz com que ele seja associado a escolas de Psicologia que possuem bases Existencialistas.

·         Protasio mostra como em alguns dos escritos de Kierkegaard, ele demonstrava uma ideia de Psicologia.

·         E é esse ideal psicológico encontrado nas obras de Kierkegaard que influenciou de fato, a Psicologia.

·         Embora haja diversas opiniões contrárias sobre Kierkegaard ser ou não um filósofo, e mesmo ele não se considerando como tal, suas obras iniciaram a criação do existencialismo para a filosofia.

·         Para definir o que é a existência humana, Kierkegaard subdividiu este pensamento em três categorias que se é muito observado nos dias atuais, assim como é predominante.

·         Toda essa trajetória da vida existencial humana gera por si uma angústia, que para este pensador é uma perda do equilíbrio da liberdade.

·         Kierkegaard, adiante do seu tempo, percebeu problemas que podemos ver hoje.

 

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