KARL MANNHEIM (1893-1947)
(Sociologia do Conhecimento)
Por: Claudio Ramos, a partir de livros e da net. C@cau “:¬)06/10/2025
Quando alguém “tem a coragem de
submeter não só o ponto de vista do adversário, mas qualquer ponto de vista,
inclusive o seu próprio, à análise ideológica”, justamente nesse momento,
passa-se de uma limitada crítica da ideologia à Sociologia do Conhecimento
propriamente dita.
https://www.youtube.com/watch?v=2wj3z9BjbGU
- Judeu
nascido na Hungria
·
Foi
influenciado por György Lukács, Georg Simmel, Friedrich Nietzsche...
·
O
marxismo exerceu inicialmente uma forte influência sobre o pensamento do
Sociólogo Mannheim.
·
Mannheim
abandonou (em parte) o marxismo, por não acreditar que fossem necessários meios
revolucionários para atingir uma sociedade melhor.
·
Seu
pensamento assemelha-se em certos aspectos aos de Hegel e Comte.
·
Ele
acreditava que, no futuro, o homem iria superar o domínio que os processos
históricos exercem sobre ele.
·
Foi
muito influenciado pelo historicismo alemão e pelo pragmatismo inglês.
· Weber e Marx são os principais sociólogos com quem Mannheim dialoga para a construção da sua teoria sociológica a partir da obra “Ideologia e Utopia” (1929).
TESES
- Analisar
as possíveis relações que há entre o conhecimento produzido e as condições
sociais em que foi gerado.
·
O
fato de pertencer a uma determinada classe social teria alguma influência sobre
os conhecimentos, mesmo aqueles mais aparentemente fundamentados?
·
Que
influência exatamente?
· Em que grau?
INTRODUÇÃO
- Mannheim
desenvolveu uma área de conhecimento chamada de Sociologia do
conhecimento.
· Essa disciplina procura estudar os condicionamentos sociais do saber.
- Essa
área de conhecimento não é exatamente nova.
·
Sócrates
já aconselhava que o autoconhecimento procurasse separar as opiniões pessoais
da verdade conceitual de determinado valor.
· No século XVI, o filósofo inglês Francis Bacon, com a sua teoria dos ídolos, tinha consciência do condicionamento social do pensamento (Pascal, Voltaire, Nietzsche e outros também agiram de maneira semelhante).
MARX
E A IDEOLOGIA
(Condicionamento
social do pensamento)
- Karl
Marx foi quem iniciou, de forma mais sistemática e relativamente autônoma, o
estudo dos condicionamentos sociais do saber.
· Marx escreveu sua famosa frase que sintetizou sua posição segundo a qual “não é a consciência dos homens que determina seu ser, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência” (Ideologia).
- A
ideologia é um pensamento subvertido.
· Não são as ideias que dão sentido à realidade, mas são as condições sociais que determinam as ideias morais, religiosas, filosóficas etc.
- A ideologia é uma visão distorcida.
·
Supõem-se
que ela seja universal; no entanto ela serve aos interesses específicos de uma
classe.
· Tudo para justificar e manter uma relação de domínio na luta de classes.
MARX ERA IDEÓLOGO
- Segundo
Mannheim, Marx utilizou de forma unilateral sua importante descoberta
(Ideologia).
·
Marx
procurou invalidar a concepção burguesa do mundo, dizendo que ela é falsa
porque não se baseia na realidade dos fatos, mas apenas no desejo de manter seu
domínio.
· Porém, Marx não utiliza essa mesma crítica para si e seus próprios valores.
- Mannheim
afirmou que a mesma crítica à ideologia pode ser feita para a visão de mundo
socialista-comunista.
· O socialismo não reflete, semelhantemente ao capitalismo, um conhecimento objetivo da realidade, mas interesses de uma classe (Proletariado).
“Pode-se mostrar facilmente que aqueles que pensam em termos socialistas e comunistas só identificam o elemento ideológico nas ideias de seus adversários, ao passo que consideram suas próprias ideias livres da deformação ideológica. Como sociólogos, não temos nenhuma razão para deixar de aplicar ao marxismo o que ele próprio descobriu, e para não identificar, caso por caso, seu caráter ideológico. [...]”.
MANNHEIM
E O CONDICIONAMENTO SOCIAL
-
Mannheim deu
um passo a mais quando cria a Sociologia do conhecimento.
·
Para
ele, há uma influência da sociedade sobre o pensamento, mas essa influência não
é uma determinação, mas algo como um condicionamento, à maneira
Behaviorista.
· Há aspectos do conhecimento que só podem ser compreendidos adequadamente se as origens sociais de onde partiram forem investigadas, e também seus condicionamentos.
OBS: O
Behaviorismo é um termo que abrange diversas teorias que têm como principal
objeto de estudo o comportamento.
· Sua linha de pensamento acredita que os comportamentos podem ser medidos, treinados e mudados.
AS
CONCEPÇÕES DE IDEOLOGIA
- Concepção
Particular da Ideologia:
·
São
aqueles casos em que a falsidade de um conhecimento ocorre de modo intencional
ou não, consciente ou não, eles permanecem em um plano psicológico, não se
enquadrando no caso de simples mentiras.
· Nesse nível, identifica-se a ideologia em afirmações particulares e específicas, que podem ser deformações ou falsificações, mas que não comprometem a estrutura mental do sujeito que a pronuncia.
- Concepção
Total da Ideologia:
·
As
ideias não camuflam apenas situações particulares, mas se referem à ideologia
de toda uma época ou de um grupo histórico-social.
· Elas compõem toda uma cosmovisão, incluindo aí seus instrumentos intelectuais.
OBS 1: Quando se diz ao adversário que determinada ideia sua é falsa, pois é somente uma defesa de seu privilégio de classe, desmascara-se a ideologia parcial.
OBS 2: Quando se descobre a correspondência entre toda uma situação social e determinada perspectiva coletiva, está se desmascarando a ideologia total.
IDEOLOGIAS
E UTOPIAS
(Visões
parciais da realidade)
- A
Sociologia do Conhecimento: Ideologia.
·
Mannheim
explica que ideologia são as convicções e ideias dos grupos
dominantes.
·
Eles
escondem o estado real da sociedade para os outros de fora do grupo, mas também
para si.
·
A
ideologia não é apenas uma crítica de uma classe por outra, mas um fenômeno que
acomete a todos os grupos, independentemente da matriz política.
· A ideologia é um pensamento disseminado em defesa de interesses adquiridos.
- A
Sociologia do Conhecimento: Utopia.
·
O
pensamento dos grupos utópicos não consegue obter uma visão objetiva da
realidade.
·
Eles
apenas enxergam na realidade o que criticam nela mesma, de acordo com um viés
ideológico.
·
Como
não conseguem enxergar o outro lado (além do negativo), o fenômeno observado
aparece na análise como fundamentalmente mal.
· Isso não significa que sua crítica esteja completamente fora da realidade; significa apenas que ela não é completa o bastante, por não considerar a realidade como um todo.
- A Utopia
é o pensamento voltado para destruir a ordem vigente.
· As utopias também são condicionadas socialmente.
- Tipologia
de Utopias:
·
O
Quiliasmo Orgiástico dos Anabatistas - doutrina segundo a qual os
predestinados, depois do julgamento final, ficariam ainda mil anos na Terra, no
gozo das maiores delícias, como prêmio por seus esforços em vida.
·
O
Ideal Liberal-Humanitário - que guiou o movimento da Revolução Francesa.
·
A
Utopia Socialista-Comunista – um mundo de igualdades para todos.
· O Ideal Conservador – um mundo de valores e princípios invioláveis.
- A IDEOLOGIA
é o pensamento da classe dominante (seja ela qual for em determinado momento).
· Classe que procura se manter com seu domínio sobre a sociedade.
- A UTOPIA
é o pensamento da classe que está sendo dominada.
· Classe dominada que procura destruir a classe dominante.
OBS: Do ponto de vista do Conhecimento Social, ambas as classes estão presas em visões parciais da realidade social.
CONSCIÊNCIA
E SÍNTESE
- Problema:
como conhecer autenticamente?
·
Se
o pensamento é socialmente condicionado, também a Sociologia do Conhecimento o
é.
· O pressuposto da Sociologia do Conhecimento não conduziria para o relativismo?
-
Consciência: o indivíduo passar a ser consciente dos condicionamentos do
próprio pensamento e de outras concepções de mundo.
· Pode haver um senso de comparação e de proporção para fugir, ao menos proporcionalmente, da ideologia (uma espécie de “filtro”).
-
Síntese: é preciso estar consciente das relações entre as diversas cosmovisões
e a existência social – de modo a chegar a uma síntese das várias perspectivas.
· Tem-se assim uma visão um pouco mais objetiva da realidade.
RELACIONISMO
X RELATIVISMO
- Mannheim
chamou de Relacionismo, a visão mais objetiva da sociedade, diferenciando-a
do Relativismo.
·
Mannheim
ensina a adquirir um pouco de senso das proporções, uma vez que afirma que não
há nem total condicionamento nem total imparcialidade.
· Cada caso se difere de outro em sua especificidade, sendo preciso, na verdade, analisá-los conforme surgem.
Na
Sociologia do Conhecimento, o Relacionismo de Karl Mannheim se traduziria em
uma visão mais objetiva da realidade, em oposição ao relativismo, e se
constitui em uma importante ferramenta de análise da realidade social, tornando
o indivíduo mais consciente dos condicionamentos de seu próprio pensamento e de
outras concepções de mundo: ideológicas, utópicas e autoritárias.
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