1. (Unesp 2018)
Texto I - Todo ser humano tem um
direito legítimo ao respeito de seus semelhantes e está, por sua vez,
obrigado a respeitar todos os demais. A humanidade em si mesma é uma dignidade,
pois um ser humano não pode ser usado meramente como um meio (instrumento) por
qualquer ser humano.
(Immanuel Kant. A metafísica dos costumes, 2010. Adaptado.)
Texto II - Ao se assenhorar de um
Estado, aquele que o conquista deve definir as más ações a executar e fazê-lo
de uma só vez, a fim de não ter de as renovar a cada dia. Deve-se fazer as
injúrias todas de um só golpe. Quanto aos benefícios, devem ser concedidos aos
poucos, de sorte que sejam mais bem saboreados.
(Nicolau Maquiavel. O príncipe, 2000. Adaptado.)
a)
Considerando o texto 1, explique por que a ética de Kant apresenta um alcance
universalista. Justifique sua compatibilidade com o Iluminismo filosófico.
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b)
Considerando o texto 2, explique a posição assumida por Maquiavel em relação à
manipulação política. Justifique a incompatibilidade entre a ética de Kant e os
procedimentos recomendados por Maquiavel para a manutenção do poder político.
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2. (Espm 2017) Cícero e os humanistas
afirmavam que "nada é mais eficaz para defender e manter o poder do que
ser amado e nada é mais danoso do que ser temido”. Um importante pensador
moderno contrapôs: "Seria desejável ser uma coisa e outra (amado e
temido), mas, como é quase impossível obter ambas as coisas ao mesmo tempo, é
muito mais seguro ser temido que amado, quando se deve escolher uma dessas
condições."
Eugenio Garin. Dal Rinascimento
all Illuminismo.
O importante pensador moderno mencionado
no enunciado é:
a)
Thomas
Hobbes;
b)
Nicolau
Maquiavel;
c) Jean
Bodin;
d) Jacques
Bossuet;
e) John
Locke.
3.
(Unesp 2016)
Texto I - Sócrates – Ao atingir os cinquenta anos, os que tiverem se
distinguido em tudo e de toda maneira, no seu agir e nas ciências, deverão ser
levados até o limite e forçados a elevar a parte luminosa da sua alma ao Ser
que ilumina todas as coisas. Então, quando tiverem vislumbrado o bem em si
mesmos, usá-lo-ão como um modelo para organizar a cidade, os particulares e a
sua própria pessoa, pelo resto da sua vida. Passarão a maior parte do seu tempo
estudando a filosofia e, quando chegar sua vez, suportarão trabalhar nas
tarefas de administração e governo, por amor à cidade, pois que verão nisso um
dever indispensável. Assim, depois de terem formado sem cessar homens que lhes
sejam semelhantes, para lhes deixar a guarda da cidade, irão habitar as ilhas dos
bem-aventurados.
Glauco
– São mesmo belíssimos, Sócrates, os governantes que modelaste como um
escultor!
(Platão. A República, 2000. Adaptado.)
Texto II - Origina-se aí a questão a ser discutida: se é preferível ao príncipe
ser amado ou temido. Responder-se-á que se preferiria uma e outra coisa; porém,
como é difícil unir, a um só tempo, as qualidades que promovem aqueles
resultados, é muito mais seguro ser temido do que amado, quando se veja
obrigado a falhar numa das duas. Os homens costumam ser ingratos, volúveis,
covardes e ambiciosos de dinheiro; enquanto lhes proporcionas benefícios, todos
estão contigo. Todavia, quando a necessidade se aproxima, voltam-se para outra
parte. Os homens relutam menos em ofender aos que se fazem amar do que aos que
se fazem temer, pois o amor se mantém por um vínculo de obrigação, o qual,
mercê da perfídia humana, rompe-se sempre que for conveniente, enquanto o medo
que se incute é alimentado pelo temor do castigo, sentimento que nunca se
abandona.
(Maquiavel. O Príncipe, 2000. Adaptado.)
Considerando
os conceitos filosóficos de “idealismo”, “metafísica” e “ética”, explique as
diferenças entre as concepções de política formuladas por Platão e por
Maquiavel.
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4. (Unicamp 2016) Quanto seja louvável a um
príncipe manter a fé, aparentar virtudes e viver com integridade, não com
astúcia, todos o compreendem; contudo, observa-se, pela experiência, em nossos
tempos, que houve príncipes que fizeram grandes coisas, mas em pouca conta tiveram
a palavra dada, e souberam, pela astúcia, transtornar a cabeça dos homens,
superando, enfim, os que foram leais (...). Um príncipe prudente não pode nem
deve guardar a palavra dada quando isso se lhe torne prejudicial e quando as
causas que o determinaram cessem de existir.
(Nicolau Maquiavel, O Príncipe. São Paulo: Nova Cultural,
1997, p. 73-85.)
A
partir desse excerto da obra, publicada em 1513, é correto afirmar que:
a)
O jogo das
aparências e a lógica da força são algumas das principais artimanhas da
política moderna explicitadas por Maquiavel.
b)
A prudência,
para ser vista como uma virtude, não depende dos resultados, mas de estar de
acordo com os princípios da fé.
c)
Os princípios
e não os resultados é que definem o julgamento que as pessoas fazem do
governante, por isso é louvável a integridade do príncipe.
d)
A questão da
manutenção do poder é o principal desafio ao príncipe e, por isso, ele não
precisa cumprir a palavra dada, desde que autorizado pela Igreja.
5. (Ufu 2015) A respeito da
fortuna, Maquiavel escreveu:
[...] penso poder ser verdade que a fortuna seja árbitra de metade de
nossas ações, mas que, ainda assim, ela nos deixe governar quase a outra
metade.
MAQUIAVEL, N. O príncipe. Tradução de Lívio Xavier.
São Paulo: Nova Cultural, 1987. Coleção “Os Pensadores”. p. 103.
Com base na citação, responda:
a) O que é a fortuna para Maquiavel?
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b) Como deve agir o príncipe em relação à fortuna?
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6. (Uem 2014) A respeito das
manifestações populares, o filósofo Nicolau Maquiavel (1469-1527) afirma: “Eu
digo que aqueles que condenam os tumultos entre os nobres e a plebe parecem
reprovar aquelas coisas que foram a causa primeira da liberdade em Roma.
Consideram mais os rumores e os gritos que nasciam de tais tumultos que os bons
efeitos que eles provocavam e não veem que há em toda república dois humores
diversos, quais sejam, aquele do povo e aquele dos grandes, nem também que
todas as leis que são feitas em favor da liberdade nascem desta desunião. [...]
Não se pode com alguma razão chamar esta república de desordenada quando nela existem
tantos exemplos de virtù, porque os bons exemplos nascem da boa
educação, a boa educação das boas leis e as boas leis daqueles tumultos que
muitos condenam inadvertidamente”
(MAQUIAVEL, Nicolau. Discursos sobre a
primeira década de Tito Lívio. In: MARÇAL, Jairo. Antologia de textos filosóficos, Seed-PR, p. 432).
Com
base no texto citado, assinale o que for correto.
01)
Aquilo que é
preconizado pelo filósofo como causa da liberdade política apenas caberia para
o contexto da Roma republicana e não para toda e qualquer república.
02)
Os tumultos
referidos no trecho expressam a possibilidade de luta política de um povo, a
sua liberdade de participação na vida política do Estado.
04)
Os tumultos,
na medida em que geram benefícios para a cidade, não podem ser recriminados,
apesar do temor que provocam em um primeiro momento.
08)
Os tumultos
revelam a presença de dois grupos políticos ou de dois humores antagônicos,
quais sejam, aqueles que desejam a paz na cidade e aqueles que desejam a
desunião entre os cidadãos.
16)
Os tumultos
não são sinais de fraqueza de uma república, mas um índice de força política,
na medida em que revelam o engajamento político dos cidadãos de todas as
classes políticas.
7. (Unesp 2014)
Texto I - A verdade é esta: a
cidade onde os que devem mandar são os menos apressados pela busca do poder é a
mais bem governada e menos sujeita a revoltas, e aquela onde os chefes revelam
disposições contrárias está ela mesma numa situação contrária. Certamente, no
Estado bem governado só mandarão os que são verdadeiramente ricos, não de ouro,
mas dessa riqueza de que o homem tem necessidade para ser feliz: uma vida
virtuosa e sábia.
(Platão. A República, 2000. Adaptado.)
Texto II - Um príncipe prudente não
pode e nem deve manter a palavra dada quando isso lhe é nocivo e quando aquilo
que a determinou não mais exista. Fossem os homens todos bons, esse preceito
seria mau. Mas, uma vez que são pérfidos e que não a manteriam a teu respeito,
também não te vejas obrigado a cumpri-la para com eles. Nunca, aos príncipes,
faltaram motivos para dissimular quebra da fé jurada.
(Maquiavel. O Príncipe, 2000. Adaptado.)
Comente
as diferenças entre os dois textos no que se refere à necessidade de virtudes
pessoais para o governante de um Estado.
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Gabaritos: Cacau ":¬)
Resposta da questão 1:
a) A ética kantiana é universalista ao ter
como elemento central o indivíduo e sua relação com os demais, exatamente como
ele apresenta em seu imperativo categórico. Isso está alinhado com o iluminismo
na medida em que valoriza o indivíduo e a razão, inspirando inclusive a ideia
de Direitos Humanos universais.
b)
Maquiavel está preocupado com a manutenção da comunidade política. Assim, o
governante deve ser capaz de, guiado pela virtù, identificar qual ação
política deve tomar. Sua ética é incompatível com a ética kantiana na medida em
que não se alinha ao imperativo categórico por reconhecer na “maldade” uma
função positiva para a política.
Resposta da questão 2: [B]
Nicolau
Maquiavel, em seus estudos sobre a política, refletia como um governante
poderia conquistar e manter o poder. Ele não fazia assim um juízo moral sobre a
forma como isso se daria, sendo um dos pioneiros da moderna compreensão da
política.
Resposta da questão 3:
A ideia de
política defendida por Platão se baseia no conceito de Idealismo, ou seja, na
representação da prática política a partir de uma perspectiva idealizada e
distanciada da forma que essa prática assume na realidade concreta, sendo,
portanto, uma representação que se limita ao plano metafísico das ideias. Essa
concepção de um mundo metafísico idealizado funda uma ética baseada na
dicotomia entre as ideias de bem e mal, sendo a ação boa alcançável na medida
em que o governante se aproxima do plano das ideias, o que levaria à uma
prática política ideal e capaz de garantir a justiça plena. Na teoria política
formulada por Maquiavel identifica-se uma crítica à concepção da política
presente na filosofia platônica. Para
Maquiavel, a política é uma construção humana e, por extensão, uma construção
histórica e por isso não deve ser entendida a partir de idealizações, mas sim a
partir da percepção pragmática da forma como se deve agir a fim de garantir a
ordem social e a manutenção do poder. Assim, Maquiavel rompe com a ideia da
ética baseada na ideia de bem e mal como guia da prática política.
Resposta da questão 4: [A]
Em
sua teoria política, Nicolau Maquiavel estabelece que o príncipe – o governante
– deve fazer uso do jogo das aparências de modo que sua figura seja associada à
religiosidade, à virtude, à ética, à fidelidade e à compassividade. Para
Maquiavel, no entanto, o príncipe não deve fazer uso dessas qualidades quando
não lhe for conveniente, mas deve aparentar que faz esse uso sempre, a fim de
garantir a manutenção do poder, ideia que é contemplada pela alternativa [A].
Resposta da questão 5:
a) O
conceito de fortuna em Maquiavel diz respeito à sorte, isto é, são
acontecimentos que ocorrem sem que o governante possua controle, pois estes
escapam a seu alcance. Assim não é possível prever ou programar todos os
acontecimentos que o cercam, por que eles dependem de fatores externos que não
podem ser previstos. Contudo, os acontecimentos podem se revelar tanto uma
oportunidade quanto um adversidade.
b)
O príncipe, segundo Maquiavel, deve manter-se atento no intuito de prevenir
acontecimentos que podem ser desfavoráveis. Ele deve aproveitar as
oportunidades e agindo corretamente nas adversidades a fim de manter o poder.
Esta característica de possuir ímpeto, virilidade, bravura e coragem para
aproveitar as oportunidades e precaver-se nas adversidades, Maquiavel determina
como “virtú”. Esta representa os atributos e qualidades necessárias para
calcular o conjunto de eventos propícios ou desfavoráveis para intervir no
momento mais oportuno da cadeia causal.
Resposta da questão 6: 02 + 04 + 16 = 22.
[Resposta do ponto de vista
da disciplina de História]
A
afirmativa [01] está incorreta
porque as ideias de Maquiavel podem ser aplicadas a qualquer República, e não
apenas a romana;
A
afirmativa [08] está incorreta
porque Maquiavel cita a presença de dois
humores nas manifestações, um ligado a elite e outro ligado ao povo, mas
não afirma que um está relacionado à paz enquanto outro está relacionado à
desunião.
[Resposta do ponto de vista
da disciplina de Filosofia]
As
afirmativas [02], [04] e [16] estão corretas
porque para Maquiavel os tumultos se referem à luta entre a plebe e os nobres e
devem ser canalizados por instituições que realizam uma mediação e dão vazão
aos humores sociais de ambos os grupos em conflito, contribuindo para a geração
de boas leis que visam manter a segurança de todos. Caso contrário, estes
conflitos poderiam se tornar disputas contrárias a “virtú” defendidas pelo
autor. Ou seja, para Maquiavel os tumultos, embora representem um temor, não
devem ser recriminados, pois permitem que a “virtú” do príncipe seja exercitada
na medida em que este cria condições para administrar estes tumultos,
garantindo a participação da população, dentro de limites, porém permitindo que
esta participação se converta em um instrumento a serviço da manutenção do
poder do príncipe em gerenciar os interesses para que não ameacem seu reinado.
Resposta da questão 7:
No texto 1
Platão desenvolve a tese de que cidade seria melhor administrada pelo “Filósofo
Rei”, nesta teoria desenvolvida no livro “A República” o filósofo é o melhor
administrador por ser aquele que possui conhecimento da “verdade” que se
identifica com o Bom, o Bem e o Belo que residem no Mundo das Ideias. Ele
(Filósofo Rei) seria o único capaz de guiar os habitantes da cidade na busca do
melhor desenvolvimento de cada um segundo suas aptidões naturais, ou seja, o
bem que reside dentro de cada indivíduo pode ser alcançado e permitir uma vida
feliz a todos. A virtude do governante centra-se na busca da concretização do
bem a todos os habitantes da cidade. Não sendo o filósofo guiado por interesses
particulares, ele se torna o administrador ideal para a cidade. Já no texto 2,
Nicolau Maquiavel, em seu livro “O Príncipe”, desenvolve uma tese que rompe com
lógica estabelecida entre ética e poder. Seu pressuposto de que os homens são
maus, faz com que o príncipe deve buscar manter o poder mediante estratégias
que não possuem ligação com o comportamento virtuoso. Elementos como virtú (entendida como impetuosidade,
coragem) e fortuna (entendida como ventura, oportunidade), somado a um
conhecimento da moralidade dos homens, são recursos que permitem ao governante
agir de modo calculado, não objetivando o desenvolvimento de uma bondade
natural nos homens como acredita Platão, mas tendo como foco a condução dos
homens rumo a uma melhor condição de vida que não siga necessariamente o
caminho da virtude enquanto retidão moral.