Algumas das
questões elencadas abaixo não se encontram, necessariamente, dentro do padrão
proposto pelo ENEM; no entanto, entendemos o valor e a importância das mesmas
no que diz respeito ao fomento da exposição, discussão e apreensão em torno de
temas pertinentes ao estudo da filosofia. Quando em sala, não objetivamos
apenas explicar conteúdos e resolver questões padronizadas; mas, acima de tudo,
ler, entender, problematizar e vivenciar questões filosóficas, tanto as
acadêmicas (de caráter lógico/metodológico) quanto às do dia-a-dia (refém dos
duvidosos auspícios do senso comum). Acreditamos que com isso poderemos fazer
valer uma singular e significativa máxima da filosofia iluminista kantiana:
“não se ensina filosofia, mas a filosofar”.
Cacau “:¬) 13/08/2018.
1. (Enem 2ª aplicação 2016) A justiça e a conformidade
ao contrato consistem em algo com que a maioria dos homens parece concordar.
Constitui um princípio julgado estender-se até os esconderijos dos ladrões e às
confederações dos maiores vilões; até os que se afastaram a tal ponto da
própria humanidade conservam entre si a fé e as regras da justiça.
LOCKE, J. Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural,
2000 (adaptado).
De
acordo com Locke, até a mais precária coletividade depende de uma noção de
justiça, pois tal noção
a)
identifica
indivíduos despreparados para a vida em comum.
b)
contribui com
a manutenção da ordem e do equilíbrio social.
c)
estabelece um
conjunto de regras para a formação da sociedade.
d)
determina o
que é certo ou errado num contexto de interesses conflitantes.
e)
representa os
interesses da coletividade, expressos pela vontade da maioria.
2. (Enem PPL 2016) A importância do argumento
de Hobbes está em parte no fato de que ele se ampara em suposições bastante
plausíveis sobre as condições normais da vida humana. Para exemplificar: o
argumento não supõe que todos sejam de fato movidos por orgulho e vaidade para
buscar o domínio sobre os outros; essa seria uma suposição discutível que
possibilitaria a conclusão pretendida por Hobbes, mas de modo fácil demais. O
que torna o argumento assustador e lhe atribui importância e força dramática é
que ele acredita que pessoas normais, até mesmo as mais agradáveis, podem ser
inadvertidamente lançadas nesse tipo de situação, que resvalará, então, em um
estado de guerra.
RAWLS, J. Conferências sobre a história
da filosofia política. São Paulo: WMF, 2012 (adaptado).
O
texto apresenta uma concepção de filosofia política conhecida como
a)
alienação
ideológica.
b)
microfísica do
poder.
c)
estado de
natureza.
d)
contrato
social.
e)
vontade geral.
3. (Enem 2ª aplicação 2016)
TEXTO I - Até aqui expus a natureza
do homem (cujo orgulho e outras paixões o obrigaram a submeter-se ao governo),
juntamente com o grande poder do seu governante, o qual comparei com o Leviatã,
tirando essa comparação dos dois últimos versículos do capítulo 41 de Jó, onde
Deus, após ter estabelecido o grande poder do Leviatã, lhe chamou Rei dos
Soberbos. Não há nada na Terra, disse ele, que se lhe possa comparar.
HOBBES, T. O Leviatã. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
TEXTO II - Eu asseguro,
tranquilamente, que o governo civil é a solução adequada para as
inconveniências do estado de natureza, que devem certamente ser grandes quando
os homens podem ser juízes em causa própria, pois é fácil imaginar que um homem
tão injusto a ponto de lesar o irmão dificilmente será justo para condenar a si
mesmo pela mesma ofensa.
LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo civil. Petrópolis: Vozes, 1994.
Thomas
Hobbes e John Locke, importantes teóricos contratualistas, discutiram aspectos
ligados à natureza humana e ao Estado. Thomas Hobbes, diferentemente de John
Locke, entende o estado de natureza como um(a)
a)
condição de
guerra de todos contra todos, miséria universal, insegurança e medo da morte violenta.
b)
organização
pré-social e pré-política em que o homem nasce com os direitos naturais: vida,
liberdade, igualdade e propriedade.
c)
capricho
típico da menoridade, que deve ser eliminado pela exigência moral, para que o
homem possa constituir o Estado civil.
d)
situação em
que os homens nascem como detentores de livre-arbítrio, mas são feridos em sua
livre decisão pelo pecado original.
e)
estado de
felicidade, saúde e liberdade que é destruído pela civilização, que perturba as
relações sociais e violenta a humanidade.
4. (Uel 2015) Leia os fragmentos a
seguir.
A monarquia absoluta é incompatível
com a sociedade civil, não podendo ser uma forma de governo civil, porque o
objetivo da sociedade civil consiste em evitar e remediar os inconvenientes do
estado de natureza que resultam necessariamente de poder cada homem ser juiz em
seu próprio caso, estabelecendo-se uma autoridade conhecida para a qual todos
os membros dessa sociedade podem apelar por qualquer dano que lhe causem ou
controvérsia que possa surgir, e à qual todos os membros dessa sociedade terão
que obedecer.
[...]
Quem julgará se o príncipe ou o
legislativo agem contrariamente ao encargo recebido? A isto respondo: O povo
será o juiz; porque quem poderá julgar se o depositário ou o deputado age bem e
de acordo com o encargo a ele confiado senão aquele que o nomeia, devendo, por
tê-lo nomeado, ter ainda o poder para afastá-lo quando não agir conforme seu
dever?
Adaptado de: LOCKE, J. Segundo Tratado
sobre o Governo (ou Ensaio sobre o Governo Civil). 5.ed. São Paulo: Nova
Cultural, 1991. p.250 e p.312.
Com
base nos fragmentos e nos conhecimentos sobre a filosofia política de John
Locke, descreva o modelo de governo civil proposto pelo filósofo.
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
5. (Uema 2015) De acordo com a
historiadora Maria Lúcia de Arruda Aranha, a Revolução Francesa derrubou o
antigo regime, ou seja, o absolutismo real fundamentado no direito divino dos
reis, derivado da concepção teocrática do poder. O término do antigo regime se
consuma quando a teoria política consagra a propriedade privada como direito
natural dos indivíduos.
Fonte: ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M.
H. P. Filosofando: Introdução à
filosofia. São Paulo: Moderna, 2003.
Esse
princípio político que substitui a antiga teoria do direito divino do rei
intitula-se
a)
Contratualismo.
b)
Totalitarismo.
c)
Absolutismo.
d)
Liberalismo.
e)
Marxismo.
6. (Enem 2015) A natureza fez os homens
tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes
se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais
vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isto em conjunto, a
diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que um
deles possa com base nela reclamar algum benefício a que outro não possa
igualmente aspirar.
HOBBES, T. Leviatã. São
Paulo Martins Fontes, 2003
Para
Hobbes, antes da constituição da sociedade civil, quando dois homens desejavam
o mesmo objeto, eles
a)
entravam em
conflito.
b)
recorriam aos
clérigos.
c)
consultavam os
anciãos.
d)
apelavam aos
governantes.
e)
exerciam a
solidariedade.
7. (Uema 2015) Para Thomas Hobbes, os
seres humanos são livres em seu estado natural, competindo e lutando entre si,
por terem relativamente a mesma força. Nesse estado, o conflito se perpetua
através de gerações, criando um ambiente de tensão e medo permanente. Para esse
filósofo, a criação de uma sociedade submetida à Lei, na qual os seres humanos
vivam em paz e deixem de guerrear entre si, pressupõe que todos renunciem à sua
liberdade original. Nessa sociedade, a liberdade individual é delegada a um só
dos homens que detém o poder inquestionável, o soberano.
Fonte: MALMESBURY, Thomas Hobbes de. Leviatã ou matéria, forma e poder de
um estado eclesiástico e civil. Trad. João Paulo Monteiro; Maria Beatriz Nizza
da Silva. São Paulo: Editora NOVA Cultural, 1997.
A
teoria política de Thomas Hobbes teve papel fundamental na construção dos
sistemas políticos contemporâneos que consolidou a (o)
a)
Monarquia
Paritária.
b)
Despotismo
Soberano.
c)
Monarquia
Republicana.
d)
Monarquia Absolutista.
e)
Despotismo
Esclarecido.
8. (Pucpr 2015) Leia o fragmento a seguir,
extraído do Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre
os homens, de Rousseau:
“É
do homem que devo falar, e a questão que examino me indica que vou falar a
homens, pois não se propõem questões semelhantes quando se teme honrar a
verdade. Defenderei, pois, com confiança a causa da humanidade perante os
sábios que a isso me convidam e não ficarei descontente comigo mesmo se me
tornar digno de meu assunto e de meus juízes”.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da
desigualdade entre os homens. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p.159.
A
partir da teoria contratualista de Rousseau, assinale a alternativa que
representa aquilo que o filósofo de Genebra pretende defender na obra.
a)
Que a
desigualdade social é permitida pela lei natural e, portanto, o Estado não é
responsável pelo conflito social.
b)
Que a
desigualdade social é autorizada pela lei natural, ou seja, que a natureza não
se encontra submetida à lei.
c)
Que no estado
natural existe apenas o direito de propriedade.
d)
Que a
desigualdade moral ou política é uma continuidade daquilo que já está presente
no estado natural.
e)
Que há, na
espécie humana, duas espécies de desigualdade: a primeira, natural, e a segunda,
moral ou política.
9. (Unesp 2015) Para o teórico Boa ventura de Sousa Santos, o
direito se submeteu à racionalidade cognitivo-instrumental da ciência moderna e
tornou-se ele próprio científico. Existe a necessidade de repensarmos os
direitos humanos. Boa ventura nos instiga a pensar que eles possuem um caráter
racional e regulador da vida humana. Esses direitos não colaboram para eliminar
as assimetrias políticas, culturais, sociais e econômicas existentes,
especialmente nos países periféricos. Os direitos humanos, num plano
universalista e aberto a todos, não modificam as estruturas desiguais, mas
ratificam a ordenação normativa para comandar uma sociedade.
(Adriano São João e João Henrique da
Silva. “A historicidade dos direitos humanos”. Filosofia, ciência e vida, dezembro de 2014. Adaptado.)
De
acordo com o texto, os direitos humanos são passíveis de crítica, porque
a)
desempenham um
papel meramente formal de proteção da vida.
b)
inexistem
padrões universalistas aplicáveis à totalidade da humanidade.
c)
são
incompatíveis com os valores culturais de nações não ocidentais.
d)
sua estrutura
normativa carece de racionalidade e de cientificidade.
e)
são
destituídos de uma visão religiosa e espiritualista de mundo.
10. (Ufsm 2013) Leonardo Boff inclui a
generosidade como uma pilastra de um modelo adequado de sustentabilidade. Ele a
caracteriza do seguinte modo: Generoso é aquele que comparte, que distribui
conhecimentos e experiências sem esperar nada em troca. Já os clássicos da filosofia
política, como Platão e Rousseau, afirmavam que uma sociedade não pode
fundar-se apenas sobre a justiça. Ela se tomaria inflexível e cruel. Ela deve
viver também da generosidade dos cidadãos, de seu espírito de cooperação e de
solidariedade voluntária.
Considere
as seguintes afirmações:
I.
Segundo o texto, generosidade e justiça podem ser complementares uma à outra.
II.
Segundo o texto, se uma sociedade é inflexível e cruel, então ela está fundada
apenas sobre a justiça.
III.
Já na ética aristotélica, a generosidade é uma virtude e a extravagância e a
avareza são os vícios correlacionados a ela.
Está(ão)
correta(s)
a)
apenas I.
b)
apenas II.
c)
apenas I e
III.
d)
apenas II e
III.
e)
I, II e III.
Exercícios: Cacau ":¬)
Resposta da questão 1: [B]
A
filosofia contratualista, da qual John Locke é representante, parte da noção de
que a vida em sociedade demanda a existência de uma ordem social que regule as
ações dos indivíduos e garanta a proteção dos direitos naturais de cada membro
da sociedade. Para Locke, o estabelecimento de um pacto social, a partir de um
contrato, possibilita a manutenção dessa ordem e, por conseguinte, do
equilíbrio no convívio em sociedade.
Resposta da questão 2: [C]
Thomas
Hobbes é um dos filósofos contratualistas, exatamente por considerar que toda
comunidade política é fundada em um pacto social. A ausência dessa pacto faz
com que os indivíduos estejam em um estado de natureza, na qual haveria a
guerra de todos contra todos.
Resposta da questão 3: [A]
Diferentemente
de Locke, que entende que o estado de natureza se caracteriza pela atuação dos
indivíduos como juízes das suas próprias causas. Sendo o agir humano
influenciado pelas paixões, para Hobbes, no estado de natureza todos os homens
são livres para usar de quaisquer meios para satisfazer suas necessidades e
desejos, o que necessariamente leva à disputa constante entre os indivíduos e à
um estado de guerra permanente, que ameaça a segurança e o direito à vida de
todos. Assim, na ausência de um Estado que regularize as ações humanas, o homem
torna-se “lobo do próprio homem”.
Resposta da questão 4:
Segundo Locke, o modelo de governo civil vincula-se ao pacto proveniente do mútuo consentimento entre indivíduos igualmente livres, pelo direito natural. Portanto, tem seu fundamento na condição livre e igualitária dos homens, rompendo com a visão hierárquica do mundo que servia de base de legitimação das monarquias absolutas. Aqui, não se refere a um contrato entre governantes e governados. Como cidadãos, os indivíduos não renunciam aos seus próprios direitos naturais – absolutamente privados, inalteráveis e inalienáveis – em favor do poder dos governantes. A sociedade política é instituída pelos participantes do pacto, tendo por finalidade empregar sua força coletiva na proteção e na execução das leis naturais. Estas, no estado natural, estariam ameaçadas, sobretudo, a preservação da vida, a conservação da liberdade e da igualdade e o gozo da propriedade proveniente do trabalho. Por isso, a instituição da sociedade civil, sobretudo, tem por objetivo reprimir quaisquer violações a estes direitos naturais e, deste modo, para que possam ser assegurados e usufruídos, garantir a paz necessária. O mútuo consentimento permite aos cidadãos – neste modelo – instalar a forma de governo que julgarem conveniente. Aos governantes, é outorgado o poder que, no entanto, além de limitado, é revogável pelo poder originário e soberano dos cidadãos. São eles que decidem seu destino político e o da sociedade. Neste modelo de governo civil, Locke defende o direito de resistência e insurreição quando ocorre abuso do poder por parte das autoridades que usurpam de suas prerrogativas e violam o pacto e suas finalidades.
Segundo Locke, o modelo de governo civil vincula-se ao pacto proveniente do mútuo consentimento entre indivíduos igualmente livres, pelo direito natural. Portanto, tem seu fundamento na condição livre e igualitária dos homens, rompendo com a visão hierárquica do mundo que servia de base de legitimação das monarquias absolutas. Aqui, não se refere a um contrato entre governantes e governados. Como cidadãos, os indivíduos não renunciam aos seus próprios direitos naturais – absolutamente privados, inalteráveis e inalienáveis – em favor do poder dos governantes. A sociedade política é instituída pelos participantes do pacto, tendo por finalidade empregar sua força coletiva na proteção e na execução das leis naturais. Estas, no estado natural, estariam ameaçadas, sobretudo, a preservação da vida, a conservação da liberdade e da igualdade e o gozo da propriedade proveniente do trabalho. Por isso, a instituição da sociedade civil, sobretudo, tem por objetivo reprimir quaisquer violações a estes direitos naturais e, deste modo, para que possam ser assegurados e usufruídos, garantir a paz necessária. O mútuo consentimento permite aos cidadãos – neste modelo – instalar a forma de governo que julgarem conveniente. Aos governantes, é outorgado o poder que, no entanto, além de limitado, é revogável pelo poder originário e soberano dos cidadãos. São eles que decidem seu destino político e o da sociedade. Neste modelo de governo civil, Locke defende o direito de resistência e insurreição quando ocorre abuso do poder por parte das autoridades que usurpam de suas prerrogativas e violam o pacto e suas finalidades.
Resposta da questão 5: [D]
O
filósofo que inaugura a o conceito de propriedade privada como direito natural
é John Locke. Segundo este pensador, os princípios de sua filosofia são: a
liberdade (ação por deliberação pessoal, sem nenhuma influência); a propriedade
privada (iniciando a partir do próprio corpo que se possui e por aquilo que se
consegue pelo trabalho); e a igualdade (mesmas condições para que todos possam usufruir
dos recursos e leis da natureza). Por meio destes referenciais, Locke
estabelece que se vivemos em natureza e seguimos as suas leis, estas mesmas
leis devem servir de modelo para a constituição do Estado. O papel do governo
consiste exclusivamente em fazer respeitar o direito natural de cada indivíduo
determinado em conformidade com as leis da natureza. Portanto, o governo civil é o remédio apropriado
para os inconvenientes do estado de natureza que pode se tornar um estado de
guerra. Ele não deve ser um ditador ou alguém que deva ser obedecido, mas
alguém que administra um empreendimento social onde os interesses e liberdades
individuais determinam os rumos que a sociedade deve seguir, sendo que seu
poder é temporal e limitado. Daí o governo não deve estabelecer aquilo que
acredita ser melhor no modo de condução, mas deve concordar em servir a um
interesse maior a garantia dos direitos de igualdade, liberdade e propriedade
privada. A liberdade é o fundamento da vida em sociedade, servindo como justificativa
para a disposição como se aprouver da propriedade privada que os indivíduos
estabelecem. Esta é garantida pela igualdade entre todos para que pela
apropriação dos recursos da natureza possam adquirir condições de sobreviverem
segundo a melhor maneira que lhes aprouver. Esta concepção exposta, com mínima
interferência do governo nos rumos, com a valorização da liberdade e
propriedade privada garantida pela igualdade é conhecida como liberal.
Resposta da questão 6: [A]
Segundo
Hobbes, os homens, em seu estado de natureza, permanecem em um constante
conflito. É a constituição da cidade civil que irá por fim a esse estado de
guerra de todos contra todos.
Resposta da questão 7: [D]
Segundo
Hobbes uma vez que os homens encontram-se num estado de guerra de “todos contra
todos”, a construção da sociedade somente pode ocorrer quanto todos os membros
rendem sua liberdade natural para uma única figura capaz de garantir a paz e a
segurança a todos. Esta figura é entendida pelo autor como um mal necessário (um
leviatã) que deve possuir poder inquestionável, não estando rendido a qualquer
atrelamento, seja ele partidário ou republicano. Para que esta figura possa
governar de forma a cuidar dos interesses de todos sem estar ligado a nenhum
condicionamento, ela deve possuir um poder e uma autoridade inquestionável.
Embora Hobbes não fosse um defensor árduo do absolutismo, suas teses serviram
de base para justificar a monarquia como forma mais viável de garantir a todos
um estado de paz. Portanto, a monarquia absolutista é o remédio para garantir a
coexistência dos homens em sociedade. O despotismo esclarecido vai no sentido
contrário, sendo inspirado pela filosofia iluminista, cria uma abertura não
existente na filosofia de Hobbes, na qual o monarca não é mais visto como
absoluto, mas sim como alguém que ainda exerce o poder, mas sem o caráter
divino e inquestionável dos seus antecessores.
Resposta da questão 8: [E]
Rousseau
no início de sua obra afirma que existem dois principais tipos de desigualdade
entre os homens: a natural ou física e a moral ou política. Na desigualdade
natural os homens se diferenciam pela idade, saúde e força corporal. Esta
desigualdade é uma consequência natural da própria espécie perante a variedade
de composições que os homens podem adotar. No caso da desigualdade moral ou
política, esta se dá devido às convenções estabelecidas entre homens, para que
exista a possibilidade de convivência coletiva. A convenção do conceito de
propriedade somado a desigualdade natural existente entre os homens, vai firmar
a desigualdade por meio dos diferentes
privilégios desfrutados por alguns em prejuízo dos demais, como o de serem mais
ricos, mais respeitados, mais poderosos ou mesmo mais obedecidos. A alternativa
“E” é a única que se enquadra na teoria explicitada.
Resposta da questão 9: [A]
No
texto da questão dois pontos são destacados como referente ao papel dos
direitos humanos, sendo eles: o “caráter racional e regulador da vida humana” e
“ratificam a ordenação normativa para comandar a sociedade”. Estas afirmações
encontram respaldo na filosofia política dos contratualistas que estabelece que
os direitos inerentes aos seres humanos, e que não estão sujeitos à discussão,
pois surgem devido à conveniência dos homens que abrem mão de sua liberdade
para viverem em sociedade. Assim, surge o direito natural como polo regulador
dos limites que a sociedade organizada não pode ultrapassar na consolidação de
sua estrutura. Contudo, o texto nos coloca que devido ao progresso das ciências
atualmente se descaracterizou sua fundamentação passando estes, a serem
tratados como conceito obsoleto que pode ser questionado livremente sem que
haja qualquer empecilho caso se julgue que eles não atendam mais as concepções
vigentes. Portanto, da mesma forma, os direitos humanos não se fazem mais uma
garantia absoluta para a proteção a vida, mas constituem-se como meras
referências formais na realidade universal.
Resposta da questão 10: [C]
Essa
questão possui inúmeras imprecisões. No texto citado, a tese e a caracterização
de uma parte importante da tese estão perfeitas: a generosidade é uma pilastra
da sustentabilidade e generoso é aquele que compartilha sem esperar ou exigir
algo em troca. Porém, a expectativa de uma contraposição – estabelecida pelo
uso da palavra “já” – é completamente desfeita pelo uso dos clássicos da
filosofia para simplesmente reafirmar aquilo enunciado anteriormente. Não sendo
bastante a falta de coerência do texto, há também uma enorme imprecisão quando
se diz, por exemplo, que Platão não considerava a justiça como algo suficiente
para constituição de uma cidade feliz, boa. Ora, isso é completamente absurdo,
pois a justiça é para Platão a virtude necessária e suficiente para o
estabelecimento de uma cidade feliz (cf. A
República). E Rousseau estabelece que o contrato social nasça da vontade
geral e a sociedade deve sempre subordinar-se a esta vontade geral, de modo que
a justiça é também suficiente para manter a saúde de uma sociedade, isso
enquanto ela for o reflexo da vontade geral.
Além
disso, a afirmação “II. segundo o texto, se uma sociedade é inflexível e cruel,
então ela está fundada apenas sobre a justiça” parece-nos correta, pois “os
clássicos da filosofia política, como Platão e Rousseau, afirmavam que uma
sociedade não pode fundar-se apenas sobre a justiça. Ela se tomaria inflexível
e cruel”. Discordamos, portanto, do gabarito.
A
afirmação III poderia se servir de uma citação, pois não está muito claro onde
Aristóteles define a generosidade como uma virtude importante.
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