(A Filosofia Pensa a
Morte)
Por: Claudio F. Ramos, a partir de livros, textos e imagens da net.
C@cau "::¬)09/03/2021
PROPOSIÇÃO
-
Para muitos filósofos a questão da morte seria a questão fundamental da
filosofia.
·
Como
parte constitutiva da vida, a morte se apresenta como assunto do interesse de
todos.
A
MORTE
(Enquanto
Tema Filosófico)
-
A morte vem sendo discutida pela filosofia desde Platão.
·
Desde
de Platão muito filósofos vêm tentando encontrar uma utilidade nesse fenômeno
natural.
·
Para
alguns filósofos a morte humana, enquanto fenômeno natural da existência, possui
desdobramentos morais.
A
NEGAÇÃO DA MORTE
(A
dupla consciência da morte)
- Sendo a morte um problema humano, uma vez que só o homem possui consciência da mesma, o homem, sem poder resolvê-lo, deve ao menos ter a dignidade de enfrentá-lo.
“Esse mistério, em que a humanidade talvez
comece (é verossímil que nenhum animal nunca se interrogou a esse respeito),
não é certamente um recurso. À pergunta: - O que é a morte?, os filósofos não
pararam de responder. Toda uma parte da metafísica se joga aí. Mas suas
respostas, para simplificar ao extremo, se dividem em dois campos: uns dizem
que a morte não é nada (um nada, estritamente); outros que afirmam que é outra
vida, ou a mesma vida continuada, purificada, libertada... São duas maneiras de
negá-la”.
(Andre comte-Sponville)
- Ao abordar o tema da morte a filosofia
adquire uma dupla consciência sobre o tema: a morte como sendo alguma coisa ou
como não sendo nada.
·
Os materialistas mecanicistas – esses acreditam que a
vida não passa de agregação de átomos, sendo a morte apenas uma desagregação;
uma espécie de cessar das sensações (Epicuro).
·
Os espiritualistas idealistas – acreditam que a vida,
regra geral, é apenas uma passagem, uma curta estação no eterno itinerário da
existência (Platão).
·
Ponto comum – o que há de comum entre ambas as posições é
que há fim da vida tal como se conhece.
A
MORTE É PARTE DA VIDA
“Contra todas as outras
coisas é possível obter a segurança; mas, por causa da morte, todos nós, os
homens, habitamos uma cidade sem muralhas”.
(Epicuro)
-
A morte é o único mal contra o qual nada se pode fazer; vivemos como uma cidade
sem muros, sem fortificações, sem exércitos, sem muralhas.
·
Em
razão dessa inevitabilidade, ironicamente, a morte é, por excelência, o mais
humano dos temas humanos (a morte humaniza).
·
Em
filosofia, pensar a morte é pensar metafisicamente (transcendência – além do
natural).
·
Temas
paralelos: “Por que existe algo ao invés do nada?”, “Qual o sentido da vida?”,
“Deus existe?”, ...
POR
QUE PENSAR NA MORTE?
Aprender a morrer é,
antes de tudo, aprender a viver.
(Michel de Montaigne 1533-1592)
-
Montaigne concluiu que a filosofia pode ajudar na compreensão e na maneira de
viver diante da inevitabilidade da morte.
· A influência platônica no pensamento de Michel - o conduz à seguinte conclusão: o corpo e a alma são instâncias distintas; essa consciência em vida nos prepara para a separação final na hora da morte.
O corpo é o tumulo da
alma. (Platão)
Se a vida e a alma
existem depois da morte, a morte é um bem para a alma porque esta exerce melhor
sua atividade sem o corpo. E, se com a morte, a alma passa a fazer parte da
Alma Universal, que mal pode haver para ele?
(Plotino)
·
A
influência epicurista no pensamento de Michel – o conduz a seguinte conclusão:
a morte é ponto final da vida; é um término de fato, não uma passagem.
·
Sendo
um fim inevitável faz-se necessário pensa-la para que haja condições adequadas
para o irremediável enfrentamento dos fatos.
· Segundo Montaigne a morte não deve ser encarada com ansiedade, nem com coragem; apenas com serena aceitação (Despreocupação).
Quero que ajam e que
prolonguem os ofícios da vida quanto possível, e que a morte me encontre
plantando meus repolhos, mas despreocupado com ela, e mais ainda com o meu
imperfeito jardim.
(Michel de Montaigne)
A
MORTE E O EXISTENCIALISMO
(Angústia,
Negação e Arbitrariedade)
-
O filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) – considera a morte como
possibilidade existencial.
·
Isso
significa que a morte é uma possibilidade que se encontra sempre presente (A
morte, sua eterna companheira).
·
A
presença onipresente da morte, ou seja, como possibilidade constante, determina
a forma como vivemos nossa vida.
·
Existindo
enquanto possibilidade, a morte nunca pode ser vivenciada enquanto experiência
(ver: Epicuro – o problema da morte é um falso problema).
· Nossa relação com a morte só pode ser “real” por intermédio da angústia, ou seja, uma relação de forma antecipada.
-
Segundo Heidegger, existem dois fenótipos humano: o angustiado e o
negacionista.
·
O angustiado (Forma Autêntica, segundo o filósofo) – aquele que sabe,
possui consciência da morte (às vezes sofre por antecipação).
· O negacionista (Forma Inautêntica, segundo o filósofo) – evita qualquer forma de fala, pensamentos e discussões sobre o tema (às vezes quando fala, o faz religiosamente).
-
Para Heidegger o ser humano é um SER-AÍ.
·
O
ser-aí é um ser que não sabe de onde veio, nem para onde vai (se é que
essas duas possibilidades existem).
· A morte é um fenômeno tipo desse ser, sobre o qual nada se sabe; à semelhança humana, a morte é um fenômeno arbitrário.
COSMOVISÃO SOBRE A MORTE
-
Sidarta
Gautama: é popularmente chamado
simplesmente de Buda ou Buddha, foi um príncipe de uma região no sul do atual
Nepal que, tendo renunciado ao trono, se dedicou à busca da erradicação das
causas do sofrimento humano e de todos os seres, e desta forma encontrou um
caminho até ao "despertar" ou "iluminação".
·
Devemos
compreender, da melhor maneira possível, que não há controle sobre a própria
morte, nem, muito menos, sobre a dos outros.
·
Assim
sendo, o sofrimento será amenizado diante do inexorável (não por indiferença,
mas por precaução).
· Essa concepção assemelha-se a forma como os estoicos também lidam com o tema.
-
Jesus Cristo:
apresentado como filho do Deus vivo, Jesus orienta que há no amor e obediência
divina, esperança de uma vida eterna.
· Uma esperança que promete o que geralmente mais se deseja: a imortalidade pessoal e o reencontro com quem se ama.
-
Marco Aurélio (121-180): a morte como repouso ou cessação das
preocupações da vida.
Na morte está o repouso
dos contragolpes dos sentidos, dos movimentos impulsivos que nos arrastam para
cá e para lá como marionetes, das divagações de nossos raciocínios, dos
cuidados que devemos ter para com o corpo.
(Marco Aurélio)
- Tomás de Aquino (1225-1274): a morte, a exemplo do que diz a Bíblia, é consequência do pecado original.
A morte, a doença e
qualquer defeito físico decorrem de um defeito na sujeição do corpo à alma. E
assim como a rebelião do apetite carnal contra o próprio espírito é a pena pelo
pecado dos primeiros pais, também o são a morte e todos os outros defeitos
físicos.
(Tomás de Aquino)
-
Arthur Schopenhauer (1788-1860): há uma imortalidade, mas uma imortalidade
impessoal da vida.
· Nascem uns, morrem outros; a vida é imortal, não o indivíduo.
-
Blaise Pascal (1623-1662): segundo o filósofo e matemático, a consciência
da morte seria como um guia para amar mais, a verdade.
· O aspecto verdadeiro da vida é a realidade divina, que pode ser acessada por intermédio de Cristo.
- Luc Ferry (1951): propõe uma terceira via; entre o não se apegar do budismo e estoicismo e a esperança judaica/cristã, a melhor opção seria a sabedoria humanista (viver e amar com resignação e com consciência – procurar o que convém no aqui e agora enquanto é possível).
A
MORTE E A BIOÉTICA
-
Atualmente a morte, corporal, está no centro da discussão da bioética.
·
Eutanásia – direito de matar ou morrer por tal razão.
·
Ortotanásia – é o termo utilizado para definir a morte natural, sem interferência da
ciência, permitindo ao paciente morte digna, deixando a evolução e percurso da
doença.
·
Distanásia – é a obstinação terapêutica
para adiar a morte iminente.
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