quarta-feira, 1 de setembro de 2021

MICHAIL ALEXANDROVITCH BAKUNIN (1814-1876)

 

Anarquia)

Por: Claudio Fernando Ramos, a partir de textos e livros da net.

C@cau “::¬) 01/09/2021

“A verdadeira escola para o povo e para todos os homens feitos é a vida. A única autoridade onipotente, simultaneamente natural e racional, a única que poderemos respeitar, será aquela do espírito coletivo e público de uma sociedade fundada no respeito mútuo de todos os seus membros. Sim, eis uma autoridade que não é, de forma alguma, divina, mas inteiramente humana, e diante da qual nós nos inclinaremos de coração, certos de que, longe de subjugar os homens, ela os emancipará. Ela será mil vezes mais poderosa, estejais certos, do que todas as vossas autoridades divinas, teológicas, metafísicas, políticas e jurídicas, instituídas pela Igreja e pelo Estado; mais poderosa que vossos códigos criminais, vossos carcereiros e vossos carrascos”.

(Deus e o Estado 1871)

VÍDEO: https://www.youtube.com/watch?v=NI4D-8jXNsY

BIOGRAFIA:

·         De família aristocrática, Bakunin nasceu em Prjamuchino (Rússia).

·         Entra na Universidade de Berlim em 1840.

·         A partir do ano seguinte, dedica-se a atividades políticas.

·         Propõe uma revolução universal liderada pelo campesinato.

·         Entre 1843 e 1848 viaja pela Europa e conhece o filósofo alemão Karl Marx, defensor do comunismo, e o jornalista francês Pierre-Joseph Proudhon, principal pensador do anarquismo.

·         Defende o uso da violência para promover mudanças na sociedade em direção a relações mais justas entre os homens.

·         Participa de movimentos revolucionários na Alemanha e acaba condenado à morte.

·         Foge para a Rússia, onde é preso e deportado para a Sibéria (1857).

·         Escapa da prisão em 1860 e volta para a Europa, envolvendo-se em atividades políticas na Polônia e na Itália.

·         Em 1868 funda a Aliança Internacional Democrática Social, entidade responsável pela introdução do anarquismo na Espanha.

·         Desenvolve intensa militância a favor do anarquismo, o que não o impede de produzir significativa obra teórica.

·         Morre em Berna, na Suíça.

OBRAS:

·         Deus e o Estado (1871).

·         Federalismo, Socialismo e Antiteologismo(1872).

·         O Estado e a Anarquia (1873).

TESES:

- Por que os homens suportam as desigualdades?

- Por que submeter sua vontade a um poder absoluto que determina o destino do que pensamos, daquilo que devemos sentir ou acreditar?

- Por que alguma religião arroga para si o poder de determinar o que somos?

- Que sentido existe de alguns homens terem várias casas de aluguel enquanto outros sobrevivem com pouco mais que um pedaço de pão?

- Que razão há na ganância?

ANARQUIA, CARACTERÍSTICAS:

A anarquia, de alguma forma, assemelha-se ao sentido originário da ágora; pois contesta que o poder seja dado a um único governante, ou mesmo a representantes políticos, mas a todos os cidadãos. E esse poder deve ser social de forma real e não abstrata ou burocrática, senão efetiva e vivida.

- A ideologia anarquista possui, a exemplo de tantas outras ideologias, suas próprias características:
• O anticlericalismo.
• A igualdade plena dos direitos.
• A conquista da liberdade plena.
• A rejeição de toda a forma de poder.
• A defesa do espontaneísmo das massas.

ATENÇÃO: Entre os princípios libertários básicos, de teoria e ação do anarquismo, estão: a autonomia individual, a autogestão social, o internacionalismo, a greve geral e a ação direta.

ANARQUIA: PRINCÍPIOS

Os museus do mundo todo são patrimônios da humanidade e não de um país. Igualmente, a economia deve ser partilhada.

O anarquismo de Bakunin propõe como princípio o indivíduo e a vida como valor primeiro.

·         Toda a riqueza produzida pela humanidade deve ser partilhada entre os homens.

ESTADO: PODER E LIMITAÇÕES

(Hobbes e Locke)

- Locke observou que os argumentos de Hobbes admitem réplica, pois não provocam a menor convicção social.

·         Conceder todo o poder político a uma autoridade suprema que se põe acima das leis e princípios que ela mesma cria, é ter por menos a capacidade de pensar dos cidadãos em geral.

- Acreditar, com Locke que o pacto do Estado com a sociedade põe fim aos conflitos sociais, é candura em excesso.

·         Por um lado, o Estado mostra-se incapaz de banir as desigualdades sociais entre os homens.

·         Por outro lado, o Estado revela a covardia e o caráter frágil dos cidadãos, já que não se assume uma postura, de fato, ético-política-cidadã diante da vida

O ESTADO: O BEM E O MAL

- Estado ora é vida ora é morte.

·         Mesmo assumindo um pacto com a sociedade (de deveres e de direitos), ele usa seu poder para controlar e determinar, às vezes de maneira detestável, o modo de viver dos cidadãos em geral.

·         O Estado detém não apenas o poder de criar leis e estabelecer princípios, mas também detém parte do poder econômico.

OS MOVIMENTOS SOCIAIS

- Os movimentos sociais surgem como resposta à privação do acesso aos direitos mais básicos da condição humana.

·         Alguns movimentos sociais requerem do Estado acesso aos bens públicos; bens básicos de sobrevivência.

·         Tais movimentos expressam a luta por melhores condições de vida, não menos que a retomada do direito de exercer a cidadania.

·         Tal exercício consiste em decidir, discutir, escolher sobre o melhor destino do dinheiro público; sobre as leis ambientais que protegem o meio-ambiente; o modelo de educação; transporte público de qualidade etc. 

ANARQUISMO RUSSO: ORIGEM

- É da luta por melhores condições de vida – no sentido pleno do exercício da cidadania – que surge, na Rússia, um movimento social que dá origem ao anarquismo.

·         Por volta de 1870, Mikhail Bakunin abordou o anarquismo como “opção política”.

·         Bakunin entendia a história como um processo natural, mas não determinista; o homem pode fazer-se humano.

ANARQUISMO, O QUE É?

- O termo anarquia tem sua raiz no grego e designa o caos, a extinção total, o aniquilamento.

·         É justamente isso que defendia Bakunin; a extinção do Estado e da sociedade dividida em classes.

BAKUNIN E A AUTORIDADE

O movimento anarquista propõe, em última instância, o caos, porque expressa o desejo de extinguir a supremacia do poder do Estado e de qualquer autoridade que arrogue para si o poder de determinar o destino da sociedade, seja a religião, um governante ou uma classe que se pretenda a esse poder.

- O homem deve se libertar das autoridades que arrogam o poder para si e tomar as rédeas da própria história.

·         O homem se faz livre, na medida em que se propõe à busca das leis e princípios que governam a si próprio, bem como a política.

BAKUNIN E A LIBERDADE

- Segundo Bakunin, a história dos homens segue um curso e tem um fim.

·         Os homens percorrem seu estado bárbaro – das frivolidades e vaidades – até alcançarem a liberdade.

·         A humanidade percorre seus estágios progressivamente.

·         A liberdade é inevitável, porque a humanidade já produziu riquezas suficientes para realizar esse fim.

·         Esse poder econômico é poder transformar-se em bem público.

·         O poder econômico pode ser usado tanto para fazer do homem uma obra da natureza como para destrui-lo.

·         A economia e a ciência são os timoneiros que levarão a humanidade ao homem.

·         A liberdade humana é inevitável, mas é por meio da política que ela será possível.

BAKUNIN: A LIBERDADE EM TRÊS TEMPOS

- Três elementos constituem condições fundamentais para o alcance da liberdade:

·         Economia - a economia social como princípio transformador da natureza humana.

·         Ciência - o pensamento científico como patrimônio da humanidade.

·         Política - a revolta contra os poderes instituídos como forma de promoção da liberdade.

BAKUNIN E A SOLIDARIEDADE

- Para o anarquismoa solidariedade entre os homens deve ser alcançada no mundo; é, portanto, mundana.

·         Isso significa que essa teoria política não pretende realizar seus fins através de qualquer religião.

AIT: COMUNISTAS X ANARQUISTAS

"Entre meus caluniadores mais agressivos e insistentes, juntamente com os agentes do governo russo – menciono naturalmente o senhor Marx, o chefe dos comunistas alemães, que, sem dúvida por causa de sua tripla condição de comunista, de alemão e de judeu, cismou comigo.  Ainda que pretenda nutrir igualmente um grande ódio contra o governo russo, nunca se ocultou, pelo menos contra mim, de agir de acordo com este governo. Para me denegrir aos olhos do público, o senhor Marx não só recorre aos órgãos de uma imprensa complacente como também se serve de correspondências e cartas íntimas, de documentos e conferências da Internacional Socialista e não hesita em fazer desta grande e bela associação, que ele contribuiu a fundar, um instrumento de suas vinganças pessoais…  Mas não é para responder a Marx que farei uma exceção à regra de silêncio que me tenho imposto. Hoje, no entanto, senhores, eu tenho o dever de repelir suas mentiras ou, para usar uma linguagem mais parlamentar, seus erros, que se inseriram nas colunas do seu jornal."

(Fragmento de carta enviado por Bakunin a um jornal suíço)

AIT: SIGNIFICADO

- A Associação Internacional dos Trabalhadores, AIT (ou simplesmente Internacional), foi a primeira organização que pretendeu reunir diversas correntes do movimento operário do mundo industrializado, na segunda metade do século XIX.

·         A AIT existiu entre 1864 e 1876, sendo dissolvida após as disputas ocorridas ao fim da Comuna de Paris, em 1871.

AIT: INÍCIO

- Em 1864, foi fundada em Londres a AIT, que consistia em uma federação composta por diversas seções de países europeus, contando com várias organizações de trabalhadores, como partidos, sindicatos, cooperativas etc.

·         Havia ainda uma grande diversidade de correntes do movimento operário, como republicanos blanquistas, democratas radicais, cartistas, marxistas, proudhonianos, cooperativistas e sindicalistas.

AIT: REIVINDICAÇÕES

- Dentre as várias reivindicações e propostas apresentadas pela AIT constavam:

·         Solidariedade entre todos os trabalhadores e suas lutas.

·         Promoção do trabalho cooperativo.

·         Redução da jornada de trabalho de mulheres e crianças.

·         Redução da jornada de trabalho para 10 horas em todos os países etc.

AIT: OS COMUNISTAS

- Foi formado um Conselho Geral da AIT para poder coordenar os trabalhos da Internacional.

·         A liderança do Conselho Geral acabou ficando nas mãos de Karl Marx, que inclusive redigiu os Estatutos da AIT.

·         Os marxistas defendiam uma organização mais hierarquizada, estruturada em torno de uma autoridade para colocar em prática as decisões.

·         Marx via com desconfiança a luta camponesa, setor popular apoiado pelos bakuninistas, dando a primazia à luta dos operários fabris.

AIT: OS ANARQUISTAS

- A entrada de Mikhail Bakunin e seus seguidores ocorreu em 1868, pouco depois da criação da AIT.

·         A entrada dos anarquistas bakuninistas representou o início da polarização dentro da AIT: de um lado, os marxistas; de outro, os bakuninistas.

·         Os anarquistas defendiam a luta insurrecional e a organização interna à AIT em organizações secretas.

·         Os anarquistas eram contrários à participação em disputas políticas, defendendo o sindicalismo.

·         Os bakuninistas acusavam os marxistas de serem socialistas autoritários por defenderem a ditadura do proletariado como via para o comunismo e a necessidade de criação de partidos políticos de trabalhadores.

AIT: O FIM

- As divergências internas da AIT tornaram-se mais intensas após a derrota da Comuna de Paris, em 1871.

·         Diversas seções francesas da AIT e seus militantes, de variados matizes políticos, participaram ativamente da luta na Comuna.

·         Marx e Bakunin ficaram afastados da capital francesa, não intervindo diretamente no enfrentamento das tropas francesas e prussianas que derrotaram os comunardos.

·         O resultado das divergências teve o ponto alto no Congresso da AIT realizado em Haia, na Holanda, em 1872.

·         Os delegados presentes no congresso decidiram por um maior poder ao Conselho Geral e pela expulsão dos bakuninistas da AIT, sob a acusação de quererem organizar uma sociedade secreta dentro da Internacional.

·         Esses debates ideológicos enfraqueceram substancialmente a AIT.

·         Mas o principal golpe foi mesmo a derrota da Comuna de Paris.

·         Uma das seções mais fortes da AIT era a francesa, e o esmagamento da Comuna representou a morte de muitos dos integrantes da Internacional.

·         Em 1876, a AIT foi definitivamente extinta.

·         Outras Internacionais foram criadas posteriormente, mas nenhuma com a variedade de correntes que caraterizou a AIT, garantindo, assim, um caráter de classe a essa I Internacional, e não um caráter ideológico e político.

CONCLUSÃO

- Mikhail Bakunin é ainda lembrado hoje como mais famoso teórico do anarquismo.

·         Sua influência, considerável em vida, ampliou-se muito após sua morte.

·         Bakunin nasceu numa família rica e poderia ter seguido um destino privilegiado, não fosse sua inquietação intelectual e as circunstâncias aterradoras de sua Rússia natal.

·         Desde a juventude, Bakunin engajou-se progressivamente nas causas revolucionárias, compartilhando com outros grandes líderes muitas ideias e tantas outras divergências.


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