segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

ANTÔNIO CONSELHEIRO (ABANDONO, MISÉRIA E UTOPIA)

ANTÔNIO CONSELHEIRO

(ABANDONO, MISÉRIA E UTOPIA)

“O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão”. 

Adaptado da net por: Claudio F Ramos, 07/05/2017. Cacau “:¬)

 VÍDEO AULA: https://www.youtube.com/watch?v=f4DT0-gvs6c

A ESTÉTICA

- “El hombre era alto y tan flaco que parecía siempre de perfil.”

·         Eis o líder Antônio Conselheiro, no romance de Mario Vargas Llossa, “LA GUERRA DEL FIN DEL MUNDO”.

·         Não era nem tão alto nem tão magro. No entanto a descrição é perfeita. Llosa captou bem o espírito do Conselheiro, ao esboçar-lhe os traços físicos.

A PERSONALIDADE

- Um homem ascético, um místico com pudor de santidade, líder que não guiava o povo, mas irradiava paz e confiança.

·         Um homem manso, mas que vai levantar-se contra as injustiças.

·         Um homem que não decreta a guerra nem a ela incita, mas endurece quando chega a batalha.

AS CALÚNIAS

- Antônio Conselheiro é um dos personagens mais caluniados da história do Brasil.

·         Fanático, louco, supersticioso, traidor, ignorante e arruaceiro – dos documentos oficiais estes rótulos passam aos livros de história.

·         Apenas recentemente começou a mudar a imagem falsa que construíram para Conselheiro.

A ORIGEM

- Nasceu no Ceará, em 1828, na vila de Quixeramobim.

·         Aos seis anos fica órfão de mãe.

·         Antes de completar oito, o pai casa-se de novo e o menino Antônio Vicente Mendes Maciel será muito maltratado pela madrasta.

·         Torna-se tímido e lembrará a infância como um “período de dor”, mas aprende aritmética, geografia, latim e francês.

·         Aos vinte e sete anos, com a morte do pai, toma conta da venda da família.

·         Está cheio de dívidas que paga a duras penas.

·         Casa-se com uma prima.

·         Abandona o comércio, vai ser empregado e finalmente juiz de paz em Campo Grande.

·         Vive em Ipu, onde se torna requerente do fórum.

·         O casamento não dá certo e sua mulher foge com um soldado.

O ANDARILHO

- Com o fim do casamento Antônio Conselheiro começa a perambular pelo sertão.

·         Conhecia o sofrimento do povo, a quem defendia no fórum.

·         Nas suas andanças entra em contato íntimo com a miséria.

·         Liga-se à Joana Imaginária, escultora de imagens em barro e madeira, e o misticismo vai tomando conta da sua vida.

·         Com Joana tem um filho e deixa ambos em 1865.

·         Andando, vai para Pernambuco e Alagoas. Passa por Sergipe e chega à Bahia.

O CONSTRUTOR

- Já não vaga à toa.

·         Vai construindo cemitérios e igrejas de elegante arquitetura, a pedido dos padres.

A TRANSFORMAÇÃO

- Assume a imagem do conselheiro que entra para a história: uma bata azul, barbas grisalhas, alpercatas e bordão.

·         Come frugalmente – frutas e verduras.

O PREGADOR

- É quando começam a vigiá-lo, porque embora seu discurso seja católico, diverge um tanto dos padres.

·         Percebe que os padres estão sempre do lado dos fortes e ricos; fica com os humildes.

·         Uma espécie de anarquista místico: figura impressionante com sua barba e bata azul, chapelão, bolsa com livros e caderno onde anota o que pensa.

·         Fala contra o latifúndio, diz que a salvação do homem virá pelas suas obras e declama os evangelhos em latim.

·         Discursa vibrando o bordão, escandindo as palavras.

A AMEAÇA

- Não demora, é preso: o povo já o ouvia atentamente, era um perigo à ordem.

·         Em 1876, não tendo do que acusá-lo a não ser de falar a verdade, denunciam-no como assassino da mãe e da esposa.

·         Inventa-se uma história fantástica para explicar como ele matou a mãe: ela o havia convencido a simular uma viagem e esconder-se, para comprovar a traição da mulher. Assim fez. Escondido, viu um vulto chegar à sua casa e preparar-se para pular a janela. Seria o amante da mulher: Conselheiro matou–o a tiros. Em seguida entrou e assassinou a mulher.

·         Quando foi conhecer o amante, virando o cadáver, descobriu que era sua mãe , autora da intriga para que ele matasse a mulher.

·         A partir daí começam a explicar a peregrinação de Antônio Maciel pelos sertões: estaria alucinado e pretendia compensar o assassinato de sua mãe com sua louca pregação.

·         A história, evidentemente mentirosa, pois sua mãe morreu em 1834, quando ele tinha seis anos, e a sua esposa estaria viva em Sobra, serviu para enviá-lo preso a Salvador.

·         Nunca quis falar sobre o “crime” às autoridades, preferindo responder a qualquer pergunta com sua pregação mística, o que aumentava a crença de que era mesmo assassino e, sobretudo, louco.

A PRISÃO

- A prisão de Antônio Conselheiro inquieta o povo.

·         As autoridades baianas mandam-no para o Ceará, com a recomendação de não o deixarem voltar à Bahia, onde os padres não o viam com bons olhos.

·         Em Fortaleza, para onde o remetem, chega maltratado pelas torturas.

·         É a própria imagem de um santo do sertão: magro, seco, vegetariano, dormindo no chão duro e falando que é preciso obter o céu aqui na terra.

A MISSÃO

- Finalmente em 1º de julho de 1876 libertam-no.

·         De tudo, ele tira um ensinamento: é pior difamar do que agredir um homem.

·         Nas suas prédicas, ao comentar a injusta prisão, cita Santo Agostinho: “Mas ofenderam Nosso Senhor Jesus Cristo seus inimigos d’Ele murmuraram do que quando o crucificaram.”, como relata Edmundo Moniz em A guerra social de Canudos.

·         Livre ele volta à Bahia.

·         Agora tem uma missão. Fez o seu aprendizado e soube o preço.

·         Não é um louco e menos um vagabundo, com a “tendência acentuada para a atividade mais inquieta e mais estéril, o descambar para a vadiagem mais franca”, como afirma preconceituosamente Euclides da Cunha.

·         É um líder do povo

DEUS E O DIABO NO SERTÃO

- Deus e o diabo pelejam na terra do sol.

·         A terra é o próprio inferno, terra do cão, por isso ele sempre vence. A batalha tem que ser ganha trazendo o céu para a terra. Então venceremos o Satanás.

·         Não é coisa de doido. Não é fanatismo.

·         É o povo que entende da pregação de Antônio Conselheiro, quando ele propõe um cristianismo primitivo nos sertões da Bahia.

·         O povo viu os bons morrerem pela independência, ali mesmo na Bahia, e ela não veio, ou chegou para os ricos continuarem explorando.

·         Assistiu o13 de maio e continuou escravo: não tinha mais pelourinho, mas o jagunço do senhor de terras substituiu mais brutalmente o capitão-do-mato, expulsando o lavrador das roças.

·         E por fim, a malfadada república, coisa de ateus e maçons, confirmando o mando do coronel e garantindo suas terras ociosas.

OS “FANÁTICOS”

- Essa visão simples e mitificada não é, apesar das aparências, alienada ou mística. Ela trata de entender, sentir e viver criticamente uma situação que não se pode teorizar, pela própria opressão social e política da sociedade brasileira.

·         Não sabendo explicar teoricamente, não sendo possível planejar politicamente, aplica uma espécie de “crítica mágica” para repudiar a realidade.

·         O misticismo no caso, deixa de ser uma alienação para ser a única arma do sertanejo.

·         Esse peculiar “sentir religioso” é uma forma de separar-se ideologicamente das classes dominantes.

·         Lembrando Feuerbach (filósofo ateu alemão), Rui Facó, em Cangaceiros e fanáticos, diz que:

“Ao elaborarem variantes do cristianismo, as populações oprimidas do sertão separavam-se ideologicamente das classes e grupos que as dominavam, procurando suas próprias vias de libertação. As classes dominantes, por sua vez, tentando justificar o seu esmagamento pelas armas – e o fizeram sempre – apresentavam-nas como fanáticos, isto é, insubmissos religiosos extremados e agressivos.”

O CATOLICISMO REPRESSOR

- O sertanejo criou sua religião própria, citando ainda Facó, que lhe serve de instrumento para a luta libertária.

·         A igreja, por outro lado, estabelece uma “religião oficial”, denunciando estes “desvios” libertários das massas como ofensa aos seus dogmas, quando na verdade ofendem essencialmente o sistema de poder.

·         Em Canudos, como em muitos outros movimentos, a igreja fez “o papel de polícia ideológica no meio rural, antecipando-se às forças repressivas”.

O MARASMO HISTÓRICO DO BRASIL

- Um dos dramas do povo brasileiro é essa incapacidade de dar o passo decisivo nos grandes momentos históricos.

·         Ao separar-se o Brasil de Portugal as classes dominantes afastaram o povo da luta, em duras repressões, e por isso perdeu-se a oportunidade de liquidar o escravismo já em 1822 ou 24, como propunha, embora dubiamente, José Bonifácio.

·         Perderíamos duas oportunidades de modernizar a economia brasileira: em 13 de maio de 1888 e no 15 de novembro de 1889, quando não se promoveu uma mais justa distribuição de terras e controle do poder absoluto dos latifundiários.

·         Canudos será a resposta mais trágica do povo sertanejo, tentando livrar-se da condição miserável a que era submetido pelo grande latifúndio.

CANUDOS: O SOCIALISMO SERTANEJO

- Os sertanejos que se uniram em Canudos tentaram construir uma sociedade socialista, segundo Edmundo Moniz:

“… tendo em vista o fato da burguesia unir-se aos latifundiários quando se apossou do poder político com a proclamação da República em vez de efetivar a reforma agrária, tarefa histórica que lhe competia realizar.”

·         Canudos é movimento raro na história do Brasil: o único de que não participam as elites intelectuais ou políticas.

·         Todo ele é feito por gente do povo, com ideias próprias, elaborando um cristianismo peculiar que, ao contrário da visão predominante, é extremamente lúcido, já que a consciência crítica condiciona-se à sua realidade social, sua fonte geradora.

·         A ideologia de Canudos, portanto, tem que ser entendida a partir de uma realidade material.

A INCOMPETÊNCIA DA BURGUESIA CRISTÃ

- Intelectuais e jornalistas ligados às classes dominantes tentaram transformar essa força original e lúcida (Canudos) em expressão fanática, destacando seu discurso místico.

·         Poucos marxistas, inclusive, percebem que Canudos nega a religião como “um sol fictício”, como dizia Marx, para se mover “em torno de si mesmo”.

·         Os intelectuais que reportam e explicam Canudos fazem-no com a visão de sua classe; são incapazes, justamente por pertencerem às classes dominantes, de entender a inversão revolucionária que os sertanejos fizeram – a harmonia entre seus reais interesses de classe e uma ideologia específica.

·         Da mesma forma são incompetentes ou insensíveis para comover-se com a condição humana do sertanejo, visto como o “outro”, o “marginal”, o “jagunço”, o “bandido” ou por fim, como todos eles entendem, inclusive Euclides da Cunha, o inimigo.

PARA O POVO, NA LÍNGUA DO POVO

- Em meio a esse quadro, Antônio Conselheiro vai pelos sertões, pregando e convencendo o povo.

·         Fala de Deus e da religião, de forma que o povo entende, que também se fala de justiça e igualdade.

·         Fala da possibilidade de um novo mundo, livre da exploração e miséria.

·         Cita, desmentindo ser um ignorante, os grandes utópicos, como Tomás Morus (filósofo cristão inglês), por exemplo.

JUSTIÇA: INTERESSE DOS MAIS FORTES

- Prega a obediência civil como reação às leis injustas.

·         Acontece que no sertão todas as leis são injustas: a lei é a do senhor latifundiário.

·         A “lei civilizada” é ficção para uso e deleite dos intelectuais da elite, influenciados por estranhas “ciências” europeias que os induzem a acreditar que mestiços e pobres são uma raça inferior (darwinismo social).

O LÍDER POLÍTICO

- Desde 1888 Conselheiro vinha sendo seguido por multidões de ‘gente inferior’ – ex-escravos, vagabundos, marginalizados.

·         Uma de suas primeiras ações nesse período acontece em Bom Conselho, quando reúne o povo, faz uma breve prédica e manda arrancar o edital de cobrança de impostos.

·         O povo obedece, queima o edita e faz festa, com foguetes e banda.

·         Começa a trajetória propriamente política do Conselheiro.

O INÍCIO DA UTOPIA

- Uma patrulha de 35 soldados tenta prendê-lo mas é dispersada pelo povo.

·         Daí para frente será sempre perseguido como um perigo social.

·         É então que depois de muito ameaçado leva seu povo, e todos os que chegam, para o Belo Monte e ali funda a sua utopia.

 

OS SERTÕES

(EUCLIDES DA CUNHA)

Adaptado da net por: Claudio Fernando Ramos, 07/05/17. Cacau “:¬)

PRÉ-MODERNISTA

- A obra Os sertões, de Euclides da Cunha, publicada em 1902 é considerada pré-modernista, haja vista o poder crítico e as profundas convicções sociopolíticas que se destacam na literatura.

A OBRA

- Em Os sertões, Euclides da Cunha usou uma linguagem grandiloquente e rica em termos científicos, apresentou nessa obra, no qual o tema principal é a Guerra de Canudos, um verdadeiro retrato do Brasil no fim do século XIX, discutiu problemas que transcendem o conflito que ocorreu no interior da Bahia.

·         A obra narrativa mistura literatura, sociologia, filosofia e história, geografia, geologia, antropologia, por isso sua preciosidade e grandiosidade.

·         O autor, adepto do determinismo, teoria que afirma ser o homem influenciado (determinado) pelo meio, pela raça e pelo momento histórico, dividiu Os sertões em três partes, a saber: 

ü  A terra (o meio);

ü  O homem (a raça);

ü  A luta (o momento).

RESUMO

- O livro é dividido em três partes:

A TERRA - é uma descrição detalhada feita pelo cientista Euclides da Cunha, mostrando todas as características do lugar, o clima, as secas, a terra, enfim.

O HOMEM - é uma descrição feita pelo sociólogo e antropólogo Euclides da Cunha, que mostra o habitante do lugar, sua relação com o meio, sua gênese etnológica, seu comportamento, crença e costume; mas depois se fixa na figura de Antônio Conselheiro, o líder de Canudos.

- Apresenta se caráter, seu passado e relatos de como era a vida e os costumes de Canudos, como relatados por visitantes e habitantes capturados.

- Estas duas partes são essencialmente descritivas, pois na verdade “armam o palco” e “introduzem os personagens” para a verdadeira história, a Guerra de Canudos, relatada na terceira parte,

A LUTA  - é uma descrição feita pelo jornalista e ser humano Euclides da Cunha, relatando as quatro expedições a Canudos, criando o retrato real só possível pela testemunha ocular da fome, da peste, da miséria, da violência e da insanidade da guerra.

·         Retratando minuciosamente movimento de tropas, o autor constantemente se prende à individualidade das ações e mostra casos isolados marcantes que demonstram bem o absurdo de um massacre que começou por um motivo tolo – Antônio Conselheiro reclamando um estoque de madeira não entregue – escalou para um conflito onde havia paranoia nacional pois suspeitava-se que os “monarquistas” de Canudos, liderados pelo “famigerado e bárbaro Bom Jesus Conselheiro” tinham apoio externo.

·         No final, foi apenas um massacre violento onde estavam todos errados e o lado mais fraco resistiu até o fim com seus derradeiros defensores – um velho, dois adultos e uma criança.

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