sábado, 6 de dezembro de 2025

ALBERT CAMUS (1913-1960)

 ALBERT CAMUS (1913-1960)

Por Claudio Ramos, a partir da net e livros. C@cau “:¬)06/12/2025

VÍDEO AULA:

https://www.youtube.com/watch?v=M4wVK5hRqko

1.0. INTRODUÇÃO

- A filosofia do fraco argelino Albert Camus é frequentemente associada ao existencialismo, mas ele mesmo rejeita o rótulo.

·         Suas reflexões centram-se no conceito do Absurdo.

·         Absurdo seria o conflito entre a busca inata da humanidade por sentido, ordem e propósito, e o universo silencioso e indiferente que não oferece nada disso. 

2.0. A CONSTATAÇÃO DO ABSURDO

- O absurdo não é uma propriedade do mundo em si, nem do ser humano isolado.

·         O absurdo é o confronto entre o desejo humano de clareza e significado e a irracionalidade do mundo.

·         Para Camus, a principal questão filosófica é decidir se vale a pena viver diante dessa condição. 

3.0. O ABSURDO E AS TRÊS POSSIBILIDADES

- Diante do absurdo, Camus identifica três caminhos, mas rejeita dois deles: 

3.1. O SUICÍDIO - É tentativa de escapar do absurdo, o que, para Camus, é uma rendição.

·         Ele argumenta que o ponto não é evitar a vida, mas vivê-la plenamente, apesar da falta de sentido inerente.

3.2. ESPERANÇA OU "SUICÍDIO FILOSÓFICO" - A busca por consolo em crenças religiosas ou ideológicas que postulam um propósito ou uma vida além desta.

·         Camus vê isso como uma forma de enganar a si mesmo e fugir da realidade da condição humana.

3.3. ACEITAÇÃO E REVOLTA - A única resposta autêntica.

·         Consiste em reconhecer e aceitar o absurdo da existência sem ceder ao desespero.

·         Essa aceitação dá origem a três consequências para uma vida absurda.

4. A REVOLTA ACEITA

4.1. REVOLTA: Não uma revolta violenta, embora a resistência seja um tema importante em sua obra posterior: “O homem revoltado”.

·         Para Camus a revolta é uma resistência consciente contra o destino sem sentido.

·         É a recusa em aceitar qualquer resposta final e a manutenção da tensão entre o desejo humano por sentido e o silêncio do universo.

4.2. LIBERDADE: Ao rejeitar a esperança de um propósito superior ou futuro, o indivíduo se liberta de preconceitos e vive o momento presente.

·         O indivíduo livre faz suas próprias escolhas sem a limitação de uma moralidade imposta.

4.3. PAIXÃO: Viver a vida com a maior intensidade e consciência possível.

·         A paixão nos permite abraçar todas as experiências que a vida oferece, porque não há nada além do aqui e do agora. 

5.0. O MITO DE SÍSIFO 

- O mito narra a história de um rei astuto da Grécia Antiga que desafiou os deuses e foi condenado a carregar eternamente uma pedra montanha acima, apenas para vê-la rolar para baixo novamente, recomeçando o trabalho infinitamente.

·         Esse mito foi utilizado pelo filósofo Albert Camus em seu ensaio de 1942, "O Mito de Sísifo", como uma metáfora para a condição absurda e sem sentido da existência humana. 

6.0. O MITO DE SÍSIFO

- Camus usa o mito de Sísifo como a metáfora central para a condição humana e absurda.

·         SÍSIFO É O HERÓI ABSURDO - a tragédia não está na tarefa sem esperança, mas na sua consciência.

·         CONSCIÊNCIA DO DESTINO - quando Sísifo desce a colina para buscar a pedra novamente, ele está ciente de seu destino.

·         LUCIDEZ DA REALIDADE – ir conscientemente em busca da pedra, constitui a lucidez que transcende a própria punição (por exemplo: saber que todos morreram algum dia).

6.1. IMAGINANDO SÍSIFO FELIZ

- Segundo Camus, Sísifo encontra a felicidade e o valor da vida na própria luta.

·         Ele aceita conscientemente o seu destino.

·         Aceitar o seu destino é o equivalente a viver sem ilusões. 

7.0. CONCLUSÃO

- Camus usa o mito de Sísifo como analogia para mostrar que, mesmo sem um sentido transcendental, o homem pode criar seu próprio valor e dignidade na luta diária contra o sem sentido. 

·         Embora a vida não tenha um significado predefinido, podemos criar nosso próprio valor e propósito ao abraçar o absurdo.

·         É dever nosso revoltar-nos contra a falta de sentido, exercer nossa liberdade e viver cada momento com paixão e intensidade.

·         Ao abraçar essa consciência do absurdo, reconhecendo e aceitando a futilidade da tarefa, o homem encontra a liberdade e a felicidade na própria rebelião e no esforço consciente.

·         Assim como Sísifo, é possível ser feliz luta diária transformando o castigo em desafio. 

 

 

 

 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

A DEMOCRACIA CONTEMPORÂNEA E A RECONFIGURAÇÃO DE ANTIGAS CRISES

 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DISCIPLINA:

SEMINARIO TEMATICO DE POLÍTICA I

PROFESSOR:

MATEUS VENCESLAU MARREIRO

DISCENTE:

CLAUDIO FERNANDO RAMOS

ATIVIDADE:

ENSAIO

TÍTULO:

A DEMOCRACIA CONTEMPORÂNEA

E A RECONFIGURAÇÃO DE ANTIGAS CRISES

1.0 - INTRODUÇÃO

            O propósito desse ensaio é o de recolher “amostras” / “recortes” (samples) de determinados trechos de obras filosóficas e/ou sociológicas a fim de poder compreender melhor alguns fatores políticos que, ao longo dos anos, têm ocorrido no âmago da democracia brasileira. Historicamente, sabemos que a nossa democracia ainda é por demais infante; entendemos que essa condição temporal cria uma dificuldade extra para todos aqueles que pretendem fazem uma análise coerente e significativa da mesma. Tudo ainda é muito recente e imprevisível; e, como se não bastasse, estamos envolvidos no processo; ou seja, residimos no “olho do furacão”. Não há um necessário distanciamento temporal, nem geográfico, que nos permita fazer uma abordagem mais holística e “imparcial” dos fatos sobre os quais pretendemos abordar. Guardada as devidas proporções, é o mesmo que desejar enxergar toda Via-Láctea a partir de um telescópio no Deserto do Atacama. Por mais que se esteja em um local privilegiado e o instrumento de aferição seja de excelente qualidade, ainda assim a tarefa é inexequível. Por isso, o ato de samplear, expressão inglesa que envolve recortar e modificar trechos de músicas para criar melodias novas, nos servirá de método primário. Através do sampleamento (sampling), pretendemos extrair amostra de vários contextos diferentes para tentar, a partir deles, compreender parte da democracia contemporânea em nosso país e, por fim, como antigas crises, próprias do “jogo democrático”, retornam, reconfiguradas, de tempos em tempos. Diante de tudo isso, achamos prudente enfatizar que o presente texto, longe de ser um artigo científico, está mais para um exercício literário, onde proposições serão apresentadas sem que, no entanto, sejam tomadas como verdades monolíticas, ou seja, absolutas e inquestionáveis. 

2.0 - DESENVOLVIMENTO

2.1 – PODER, LEGITIMIDADE, RECONFIGURAÇÃO DOS CLÁSSICOS

            Daremos início as nossas considerações a partir da obra: Como as democracias morrem (Levitsky; Ziblatt, 2018). Obra essa que, no seu capítulo de número quatro (Subvertendo a Democracia), nos apresenta reflexões sobre algumas fragilidades presentes nas instituições democráticas contemporâneas; fragilidades ocasionadas por líderes, movimentos e ideologias que, pontualmente e isoladas, não são capazes de romper abruptamente com o sistema político vigente; mas que, no entanto, o fazem paulatinamente, corroendo-o de dentro para fora.

            Tomando esse fato como referência, começaremos por fazer uma espécie de diagnóstico das três últimas grandes crises políticas do Brasil, a saber: o questionamento das urnas eletrônicas por intermédio de Aécio Neves em 2014, o impeachment de Dilma Rousseff em 2016 e a atual e intensa polarização política entre dois atores do cenário político nacional: Lula e Jair Bolsonaro (tentativa de golpe em 08 de janeiro 2023).

            Elencarmos esses três episódios da história política nacional, porque estamos convencidos de que as inúmeras crises dentro do sistema democrático estão muito longe de serem fenômenos inéditos e isolados, mas sim, reconfigurações de dilemas clássicos sobre as múltiplas formas do exercício do poder político (ética, legitimidade, autoridade etc.). Temas como esses, já foram largamente pensados e discutidos por filósofos como: Nicolau Maquiavel (1469-1527), em O príncipe (2010), e Thomas Hobbes (1588-1979), em Leviatã (2003). Sem ter que ser muito imaginativo, acreditamos que as tensões contemporâneas da política brasileira nos remetem às tradições clássicas da origem da sociedade civil em Hobbes 2003 e a razão de Estado (racionalismo político) em Maquiavel 2010. Segundo esses filósofos, um determinado tipo de Estado (sociedade civil) pode ter suas relações institucionais fortalecidas ou corrompidas, tudo irá depender, em larga medida, do tipo de relação de poder nele contido. Em razão disso, de maneira análoga ao que disse os antigos, acreditamos que situação semelhante se dá com os sistemas democráticos de inúmeros países contemporâneos; ou seja, as democracias morrem ou se enfraquecem, não por rupturas abruptas, mas pela corrosão paulatina da legitimidade institucional a da confiança pública (Levitsky e Ziblatt, 2018).

2.2 - SUBVERSÃO DEMOCRÁTICA E A LÓGICA DO PODER

            De acordo com os autores Levitsky e Ziblatt (2018), a subversão democrática contemporânea raramente ocorre por meios de golpes militares clássicos; aqueles perpetrados por Generais, comandantes supremos dos Exércitos etc.; ao contrário, na maioria das vezes ela manifesta-se pela cooptação das instituições legítimas, por intermédio de líderes eleitos democraticamente. Essa legitimidade conquistada nas urnas, é, muitas vezes, utilizada contra a própria legitimidade do sistema democrático; ou seja, tentasse mudar a regra do jogo bem no meio da partida. Com isso, minam-se as normas formais e informais da convivência política. Alguém disse que a democracia seria a arte de viver com os contrários; todavia, no caso da subversão, parece que isso não voga. Aquele que subverte, deseja homogeneizar o poder e, ao fim de tudo, governar com os pares, sem oposições e contraditórios. Vejamos o caso de um dos candidatos à Presidência da República em 2014. Os questionamentos levantados pelo presidenciável Aécio Neves acerca da lisura do processo eletivo, transparência das urnas eletrônica etc., inaugurou um ciclo de deslegitimação eleitoral que fragilizou a confiança de inúmeras pessoas na política como espaço de disputa civilizada pelo poder (Veja, 2023). Esse descrédito de Aécio Neves possibilitou o aparecimento de brechas para a normalização de futuros discursos autoritários e atuais radicalizações por parte de partidos políticos e seguimentos específicos da sociedade civil. Indo aos clássicos, mas especificamente em Nicolau Maquiavel (1469-1527), encontramos uma certa afinidade com o que aconteceu no Brasil em 2014 e o que ele escreveu em sua obra O príncipe. Ao tratar da manutenção do poder, o italiano disse que o governante deve compreender os humores do povo e das elites, utilizando os meios necessários, inclusive a força e o engano, para conservar o Estado. Vendo por esse ângulo, a política não deve ser encarada como espaço para utopias e éticas transcendentes, mas sim como campo de cálculo (racionalismo político) e pragmatismo utilitarista. Podemos concluir, a partir de Maquiavel, que a crise na lisura do pleito, suscitada por Aécio Neves, não deve ser reduzida apenas a má conduta de um cidadão que não soube perder, mas sim, como fruto de uma luta constante, pela manutenção do poder, em um território volátil onde a moral das ações e a eficácia dos objetivos se tensionam initerruptamente.

2.3 - O IMPEACHMENT E A EROSÃO DAS NORMAS DEMOCRÁTICAS

            Os cientistas políticos afirmam que quando o impeachment é desviado de sua função original, o de afastar o mal gestor das prerrogativas do poder, e passa a ser utilizado de maneira que compromete a estabilidade e a previsibilidade das regras do “jogo político”, ele, ao invés de corrigir injustiças, torna-se instrumento para a injustiça (erosão democrática); ou seja, ele passa a predar o próprio sistema que, ao menos em teoria, deveria preservar. Para muitos brasileiros, o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, e a posterior ascensão de Michel Temer à Presidência da República, evidenciam esse tipo de predação do sistema democrático brasileiro. Um dos movimentos que permite a subversão democrática, segundo Levitsky e Ziblatt (2018), é o uso de instrumentos legais para fins ilegítimos. Segundo uma revista especializada em política e economia, algum tempo depois dos fatos, o próprio Michel Temer reconheceu que o afastamento da presidenta, como ela gostava de ser chamada, decorreu, em larga medida, da recusa dela em apoiar o programa Ponte para o futuro (conjunto de reformas econômicas neoliberais); ou seja, a destituição presidencial foi, antes de tudo, uma disputa por determinado projeto de poder (Carta Capital, 2023).

            O impeachment de Dilma Rousseff expôs algumas das muitas fragilidades do sistema democrático brasileiro, embora não o tenha destruído, essa segunda grande crise, apresentamos o Aécio Neves como tendo sido o causador da “primeira”, o tornou um poco mais vulnerável. A desconfiança, plantada em 2014, estava dando, já em 2016, o seu primeiro grande fruto, e ele foi bem amargo: tornou-se comum, na política brasileira, ser intolerante com os que discordam. Passou a haver uma certa reconfiguração do campo político, principalmente no que diz respeito as alianças políticas; uma espécie de utilitarismo ideológico, exacerbado e unilateral tornou-se paradigma para ações dos atores e dos partidos políticos. Essa reconfiguração, ao menos figuradamente, nos faz lembrar da lógica hobbesiana, quando ele discorre sobre o poder soberano. Para Hobbes (2003, p.117), o Estado é consequência de um pacto racional que surge para evitar o “estado de natureza” (um estado hipotético). Nesse hipotético estado, o homem, diferentemente do que disse um certo filósofo de Estagira1, é o seu maior inimigo, lobo de si mesmo; dito de outra maneira, o homem é egoísta por natureza e não tem prazer na convivência como seu semelha.  Analogamente, quando a confiança na autoridade se dissolve, as instituições se tornam palco de competição destrutiva, e a política pode degenerar em guerra de uns contra os outros (governo despótico, guerra civil, ideologias sectaristas etc.). Para aqueles que não viram um impeachment, instrumento legal da regra do jogo político, mas sim um golpe da democracia contra ela mesma ou, melhor ainda, um golpe sem o fim da democracia, conscientemente ou não, entendem que o afastamento ilegítimo da presidenta marcou a ruptura do pacto civil que sustenta a legitimidade democrática, evidenciando uma espécie de retorno simbólico ao estado de natureza hobbesiano: todos contra todos.

1Aristóteles (384-322 a. C.) disse que o homem é um animal político (ou zoon politikon) em sua obra "A Política". O filósofo foi o primeiro a trazer o conceito de ética na política e via o Estado como natural e único. Nesta obra, Aristóteles reflete como as instituições poderiam promover o desenvolvimento e a felicidade coletiva, discutindo em profundidade as formas de governo e os mecanismos que organizam a sociedade.

2.4 - A POLARIZAÇÃO E A TENTATIVA DE RETORNO AO AUTORITARISMO

            A incompreensível e inaceitável polarização política envolvendo a pessoa do Lula (atual Presidente da República) e a pessoa do Bolsonaro (ex-Presidente da República) radicalizou de vez o cenário político brasileiro; que já vinha claudicante, como já dissemos, desde 2014. A disputa eleitoral de 2022 foi transformada em confronto moral entre duas forças antagônicas: o “bem” e o “mal. Essa perspectiva maniqueísta do mundo, não constitui nenhuma novidade; já no século III d.C, lá para os lados da antiga Babilônia, atual Iraque, um certo profeta de nome Mani (ou Maniqeu) já propalava uma determinada doutrina filosófica/religiosa sobre a dicotomização das coisas existentes. No entanto, no cenário político nacional, as coisas ganharam proporções hiperbólicas; imaginamos o que Mani pensaria sobre isso, se vivo estivesse. Esse maniqueísmo político-institucional comprometeu os fundamentos da República Democrática, viciou as mediações institucionais e, por fim, ensejou a criação de um ambiente “propício” para a tentativa de um golpe em 08 de janeiro de 2023. Nessa data, grupos enviesados por ideologias da extrema direita (bolsonarismo) atacaram as sedes dos três poderes em Brasília (BBC, 2023) e tentaram, “jogando dentro das quatro linhas”, pôr fim a existência da infante democracia brasileira. Levitsky e Ziblatt (2018) denominam esse fenômeno da seguinte maneira: erosão normativa. Para eles, isso ocorre quando o respeito pelas regras democráticas cede espaço à lógica da eliminação do adversário. Mais uma vez, retornando aos clássicos, Maquiavel e Hobbes oferecem chaves de leitura distintas, mas complementares para a nossa tentativa de compreensão da política contemporânea brasileira. A filosofia de Maquiavel afirma que a estabilidade depende da virtú (capacidade) do governante, ou seja, da sua habilidade de agir segundo as circunstâncias e manter o controle da fortuna (sorte, o imponderável). Quanto ao Hobbes, sua filosofia sustenta que somente a força coercitiva do Leviatã (o poder do Estado) seria capaz de conter a desordem. Atualizando essas duas perspectivas, percebesse que a nossa República, apesar de ter se mantido firme diante das intempéries políticas, demonstra uma certa ausência das prerrogativas necessárias apontadas pelos filósofos. Nossos líderes têm se mostrado incapazes de sustentar o consenso político e nossas instituições, ao invés de força (não deixamos de reconhecer que existem pontuais e importantes exceções), têm se mostrado frágeis e lenientes quando fazem uso da autoridade legítima. Sendo assim, acreditamos que sem o fortalecimento das instituições democráticas, sem a busca pelo diálogo, necessário para o consenso político, e sem o fomento do pleno exercício da cidadania, a porta permanece aberta para futuras e temerárias crises democráticas; não se sabe ao certo quando, como, nem os porquês de novos confrontos políticos, mas, diante do quadro atual, é possível prever que eles virão.

Nesse breve ensaio, tentamos demonstrar que a crise da democracia é eminentemente uma crise de legitimidade; pois o poder desprovido de confiança pública, perde seu fundamento ético e simbólico. Os três fatos recentes da história política nacional elencados por nós, ocorridos em: 2014, 2016 e 2023, nos levam a crer que, em nosso país, a democracia do amanhã terá que aprender a conviver e a superar a reconfigurações de antigas crises democráticas.

3.0 - CONCLUSÃO

            As crises políticas brasileira dos últimos anos: questionamento das urnas 2014, impeachment 2016, polarização (até hoje) e tentativa de golpe 2023, revelam que a democracia contemporânea enfrenta velhos dilemas sob novas formas. Levitsky e Ziblatt (2018) foram felizes ao afirmarem que as democracias morrem lentamente, corroídas por dentro, pela perda da confiança mútua e pelas manipulação das normas. Todavia, como também foi o nosso objetivo demonstrar, essa degradação do sistema não é necessariamente um fenômeno inédito; o que ocorre de fato é uma reatualização das tensões, abordada pelos clássicos (Maquiavel e Hobbes), entre poder, legitimidade e autoridade.

            O italiano advertiu que a política exige do governante prudência e força; ao passo que o inglês ensinou que o poder legítimo (nascido do contrato) deve garantir a paz e evitar o caos (silenciar o lobo em cada um). O Brasil, conscientemente ou não, parece ignorar essas orientações. Nem assegura a estabilidade institucional, os poderes instituídos divergem internamente e externamente (apresentam uma grande dificuldade na construção de consensos), nem reconstrói a legitimidade simbólica do poder (há uma desconfiança generalizada nas instituições públicas). Há quem esteja procurando um culpado para tudo isso, uma causa, uma verdade (o bem e o mal), mas talvez não haja verdade alguma, só uma incontrolável vontade de tê-la. Nós também não temos respostas; mas, ao menos momentaneamente, tornaremos nossa as palavras do compositor que diz nos versos da canção:

Quem ocupa o trono tem culpa
Quem oculta o crime também
Quem duvida da vida tem culpa
Quem evita a dúvida também tem

(Umberto Gessinger, 1988)


BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

VEJA. Aécio, que questionou urna eletrônica, vai debater volta do voto impresso. 2023. Disponível em: https://veja.abril.com.br/coluna/maquiavel/aecio-que-questionou-urna-eletronica-vai-debater-volta-do-voto-impresso/ Acesso em: 10/11/2025

BBC. 8 de janeiro: entenda o que motivou e como foi a invasão dos prédios dos três poderes em Brasília. 2023. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c1kvvdpl0m3o

ARTA CAPITAL. Temer: impeachment ocorreu porque Dilma recusou Ponte para o Futuro. 2023. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/politica/temer-impeachment-ocorreu-porque-dilma-recusou-ponte-para-o-futuro/

HOBBES, Thomas. Leviatã. Trad. João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 117.

LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. Como as democracias morrem. 1. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.

MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Trad. Maria Júlia Goldwasser. São Paulo: Martins Fontes, 2010. p. 59.

SOMOS QUEM PODEMOS SER – Engenheiros do Hawaii 2018. Disponível em: https://www.letras.mus.br/engenheiros-do-hawaii/12899/. Consultado em 27/11/2025

 

ALBERT CAMUS (1913-1960)

  ALBERT CAMUS (1913-1960) Por Claudio Ramos, a partir da net e livros. C@cau “:¬)06/12/2025 VÍDEO AULA: https://www.youtube.com/watch?v...