(ESCOLÁSTICA)
PEQUENO PREÂMBULO
Do século V ao século VIII, com a queda do
Império Romano, decaiu a produção intelectual, a ponto de podermos dizer que
não se conhece nada de original no pensamento dessa época.
Trata-se do período denominado Alta Idade
Média, quando a Igreja cuidou de compilar em manuais os conhecimentos antigos.
A filosofia, sem o concurso de homens que
se dedicassem à especulação, ficou estacionária.
Pode-se caracterizar esse período por dois
importantes fatores:
1. A expansão dos horizontes geográficos;
2. O avanço dos impérios asiáticos e do
mundo muçulmano.
Foi em Bizâncio, no Islã, e nos impérios
asiáticos, que floresceram grandes civilizações e onde se conservou a cultura
de Roma e da Grécia antigas.
No século VIII, com o império carolíngio,
houve um primeiro ressurgimento da cultura ocidental; no entanto, o modus
vivendi, não sofreu alterações sensíveis.
No âmbito cultural, Carlos Magno promoveu a
difusão das escolas e do que havia de disponível da cultura antiga, tendo em
mente a aculturação e cristianização dos povos sob seu domínio.
As abadias se encarregaram dos estudos,
procurando imitar, o mais possível, os modelos antigos - a aplicação dos
copistas salvou a maior parte da literatura romana.
Essa atitude humilde foi muito importante
para a recuperação e compreensão dos textos latinos.
ASPECTOS GERAIS
Ø
Renascimento Cultural - as escolas foram implementadas no período que
compreende os séculos VIII e IX, pela dinastia carolíngia.
Ø
Palácios, igreja e mosteiros – esses foram os lugares onde essas escolas
funcionaram.
Ø
O conteúdo – O conteúdo do ensino era o estudo clássico das sete
artes liberais, constituídas pelo trivium e
pelo quadrivium:
a) O trivium –
composto de gramática (estudo das letras e da literatura), retórica (história e
arte de bem falar) e dialética (lógica, a arte de raciocinar).
b) O
quadrivium –
compunha-se de geometria, aritmética, astronomia e música (ver pitagorismo).
Ø
A razão busca sua autonomia – a partir do século IX e X, a Europa começou a sofrer
transformações profundas: expansão das cidades, desenvolvimento do comércio e
do artesanato, formação de corporações...
Ø
Heresias e ameaças de ruptura – contestações e debates surgiam no sempre homogêneo
horizonte da cristandade medieval, e a criação das universidades certamente
contribuíram para isso.
Ø
Universidade (assembleia corporativa) – na Idade Média as universidades eram compreendidas
como mais uma das várias assembleias corporativas existentes “universidade dos
mestres e estudantes”: Oxford, Cambridge, Paris, Salamanca, Roma... (todas
criadas antes de 1270).
Ø
A escolástica - assim denominada por congregar
diversos pensadores pertencentes a uma “escola”.
A QUESTÃO DOS
UNIVERSAIS
Ø
O que são universais? – é o conceito, a ideia, a essência comum a todas as
coisas (ser humano, animal, casa, bolo...).
Ø
O problema – desde o século XI até o século XIV, uma polêmica
marcou as discussões sobre a questão dos universais: os gêneros e as espécies
têm existência separada dos objetos sensíveis?
Ø
As soluções – realismo, realismo moderado, nominalismo e
conceptualismo.
Ø
Realismo – o universal tem realidade objetiva (são res,
ou seja, “coisa” em latim). Essa é uma posição claramente influenciada pela
teoria das ideias de Platão. Seus principais representantes foram: Santo
Anselmo (século X) e Guilherme de Champeaux (século XIII).
Ø
Realismo Moderado – os universais só existem formalmente no espírito,
embora tenham fundamento nas coisas. Tomás de Aquino (XIII) é seu principal
representante.
Ø
Nominalismo – o universal é apenas o que é expresso em um nome. Ou
seja, os universais são palavras, sem nenhuma realidade específica
corespondente. Roscelino (século XI) foi um dos principais nominalista.
Ø
Conceptualismo – posição intermediária entre o realismo e o
nominalismo, teve como principal defensor Pedro Abelardo (século XII). Para
ele, os universais são conceitos, entidades mentais, que existem somente no
espírito.
CONSEQUÊNCIAS
IMEDIATAS
Ø
A
divergência sobre os universais pode ser analisada a partir das contradições e
fissuras que se instalaram na compreensão mística do mundo medieval.
a) Os
realistas: partidários da tradição – nessa condição, valorizavam o
universal, a autoridade, a verdade eterna representada pela fé.
b) Os
nominalistas: o individual é mais real –
indica o deslocamento do critério de verdade da fé e da autoridade para a razão
humana. Naquele momento histórico (final da Idade Média), o nominalismo
representou o racionalismo burguês em oposição às forças feudais que desejavam
superar.
OBS 1 – A questão dos universais não é um problema restrito à
Idade Média. Os filósofos empiristas (Hobbes, Hume, Locke...) são nominalistas,
ao concluírem que as ideias não existem em si, pois só é possível conhecer algo
pela experiência.
OBS 2 – Nas filosofias contemporâneas, como na filosofia da
linguagem, o que é posto em discussão é a relação entre linguagem e realidade.
A FILOSOFIA TOMISTA
Ø
Tomás de Aquino (1225-1274) – foi o maior pensador do período.
Ø
O apogeu da escolástica – durante a primeira metade da Idade Média os teólogos
sofreram influência do neoplatonismo, porque poucas obras de Aristóteles eram
conhecidas.
Ø
Perigo aristotélico – quando os árabes fizeram as primeiras traduções, elas
foram rejeitadas pelos cristãos por conter interpretações vistas como perigosas
para a fé.
Ø
O árabe Averróis – no século XIII, Tomás de Aquino com o pensamento
aristotélico por meio do árabe Averróis, a quem ele chamava de “o comentador”, formulou
uma síntese do pensamento do estagirita, adequando-o ao cristianismo.
Ø
A fé como instrumento do saber – a revelação é tomada como critério de verdade, ou
seja, em caso de contradição entre razão e fé, deve predominar a verdade
revelada.
Ø
O conhecimento natural – mesmo que a razão não possa conhecer a essência de
Deus, por meio dela pode-se, no entanto, demonstrar sua existência ou a criação
divina do mundo.
Ø
Empirismo – para explicar o conhecimento reconhece-se a
participação dos sentidos, seguidos pelo intelecto. O conhecimento começa pelo
contato com as coisas concretas, passa pelos sentidos internos da fantasia ou
imaginação até a apreensão de formas abstratas.
a) Apreende-se da
imagem (concreta e particular), até a elaboração da ideia (abstrata e
universal).
Ø
Corpo e alma – a alma é a forma substancial do corpo. A alma, por
possuir uma origem divina, pode subsistir sem o corpo.
ÉTICA E POLÍTICA
Ø
Deus: origem e fim de tudo – com o auxílio da revelação (dogma), mediante a graça
e a fé, pode-se alcançar uma felicidade mais alta, mesmo na vida presente.
Ø
O princípio da paz – a filosofia tomista ampliou o a discussão sobre o
direito internacional. Para ele, deveria haver direitos que, uma vez
utilizados, fomentassem profícuas relações entre os diversos Estados como forma
de garantia da paz.
Ø
Estado e igreja – o Estado conduz o ser humano até certo ponto, quando
então é necessário o auxílio de outra instituição, a Igreja Católica, por meio
da qual o ser humano atinge seu fim último, que é a felicidade eterna.
PROVAS DA
EXISTÊNCIA DE DEUS
(Teologia Natural)
Ø Anselmo de
Cantuária 1033-1109 – Monge beneditino (Filósofo, Teólogo).
·
Monologia
(Livro de Anselmo): “Se há seres perfeitos, esses são considerados perfeitos
porque estão comparados a uma perfeição absoluta. Essa perfeição absoluta é chamada
Deus”.
·
Proslógio
(Livros de Anselmo): Argumento ontológico: A perfeição é a ideia que possui
todos os atributos possíveis. Se não possuir todos os atributos possíveis, não
poderá ser considerada perfeição. Ora, um desses atributos é o atributo de existência.
Se a ideia de perfeição é a mais completa, logo ela tem de existir. Essa
perfeição máxima pode ser chamada Deus. Logo, da ideia do ser perfeito,
conclui-se a existência do ser perfeito”.
Tomás de Aquino (1225-1274)
Ø
O primeiro motor – as chamadas “cinco vias” da prova da existência de
Deus estão baseadas na obra Metafísica, de Aristóteles, que
explica o movimento do mundo pela existência necessária de uma causa primeira
(Primeiro Motor Imóvel).
Ø
Suma Teológica – enquanto para Aristóteles Deus é um ser alheio ao
mundo, Tomás de Aquino introduziu a noção de providência divina (um
deus que age sobre suas criaturas):
a) Movimento –
conforme a teoria do ato e potência, só algo em ato pode mover o que existe em
potência. Portanto, tudo que se move deve ser movido por outro, pois nada se
move por si mesmo. Para evitar uma regressão ao infinito, o que seria absurdo,
é necessário concluir que existe um motor que move todas as coisas e não é
movido, ou seja, Deus.
b) Causa
eficiente –
Nada pode ser causa de si mesmo, senão seria anterior a si mesmo. Por não poder
seguir um processo infinito, é preciso admitir uma causa primeira que não é
causada, Deus.
c) Contingência
e necessidade –
um ser contingente é aquele cuja existência depende da existência de outro. Mas
se todos fossem contingentes, nada existiria, portanto, deve haver um ser
necessário, que é Deus.
d) Graus
de perfeição –
Todos os seres têm graus diferentes de perfeição, cujas qualidades podem ser
comparadas entre si. Mas só um ser teria o máximo de perfeição, ou seja, o máximo
de realização de atributos e qualidades: Deus.
e) Causa
final ou argumento teleológico – toda natureza tem uma finalidade, um
propósito, caso contrário não haveria ordem. Portanto, deve haver uma
inteligência ordenadora, que é Deus.
OBS 1 – As cinco vias denotam
o esforço de Tomás de Aquino para desenvolver uma “teologia natural”,
que mais tarde Leibniz chamará de teodiceia, ou seja, o
conhecimento racional de Deus.
OBS 2 – Durante a Baixa Idade Média, a recuperação do
aristotelismo por Tomás de Aquino revelou-se um recurso fecundo. No
Renascimento e na Idade Moderna, no entanto, a escolástica tornou-se entrave
para o desenvolvimento da filosofia e da ciência (Copérnico, Galileu, Descartes
e etc.).
OBS 3 – Ao fazer a crítica da metafísica tradicional, Kant
concluiu pela impossibilidade de demonstrar racionalmente a existência de Deus.
OBS 4 – A filosofia
“cristianizada” de Aristóteles influenciou a ação dos padres dominicanos (Tomás
de Aquino – “bulldogs de Cristo) e, mais tarde, dos jesuítas
(“soldados
de Cristo”), que desde o Renascimento, e por vários séculos, empenharam-se
na educação dos jovens.
Adaptado da Net por: Claudio Fernando
Ramos em 2015.
Muito esclarecedor!
ResponderExcluirChoremos
ResponderExcluirperfeitamente........
ResponderExcluirVocê deveria dar os créditos a Maria Lucia de Arruda Aranha. Você simplesmente copiou do livro dela.
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